Cinema

“Não acredito que ele partiu”. A emocionante homenagem de Naomi Watts a David Lynch

Nas redes sociais, estão a ser feitos inúmeros tributos ao realizador que mudou o cinema e que morreu aos 78 anos a 16 de janeiro.
O realizador morreu aos 78 anos.

Hollywood e todos os fãs de cinema estão de luto. Esta quinta-feira, 16 de janeiro, o realizador David Lynch morreu aos 78 anos (faria 79 no próximo dia 20). O cineasta revelou, em 2024, que tinha sido diagnosticado com enfisema pulmonar após ter sido fumador durante grande parte da sua vida.

Nas redes sociais, vários realizador e atores, alguns que colaboraram com ele inúmeras vezes, fizeram emocionantes homenagens. Uma das mais tocantes foi a de Naomi Watts, com quem Lynch trabalhou em “Mulholland Drive”, de 2001, que recebeu uma nomeação ao Óscar e que rendeu ao norte-americano o prémio de Melhor Realizador no Festival de Cannes. Também colaboraram no reboot de “Twin Peaks”, em 2017, e em “Inland Empire”.

“O meu coração está partido. Meu amigo Dave… o mundo nunca mais vai ser o mesmo sem ti”, começou por escrever a atriz de 56 anos no Instagram. “Ele pôs-me no mapa, num mundo em que eu estava a tentar entrar há 10 anos, enquanto falhava constantemente em audições. Finalmente, sentei-me à frente de um homem curioso e radiante que dizia palavras de outra época e que me fazia rir e sentir tranquila.”

“Como é que ele ‘me viu’ quando eu estava tão bem escondida e tinha perdido noção de quem era? Não foi apenas a arte dele que me impactou. A sabedoria, humor e amor fizeram-me sentir especial de uma forma que nunca tinha sentido antes”, acrescenta.

A atriz nomeada a dois Óscares também disse que Lynch “parecia viver num mundo alternativo”, num em que se sentia “extremamente sortudo por poder fazer parte”. Também comentou que estava “completamente desfeita” devido à sua morte. “Não acredito que ele partiu. Obrigado por tudo”, concluiu.

Quem também colaborava frequentemente com David Lynch era Kyle MacLachlan. Além de ter sido o protagonista da série original de “Twin Peaks”, foi a estrela de “Dune”, a primeira adaptação cinematográfica do livro de Frank Herbert. 

“Há 42 anos, por razões que ultrapassam a minha compreensão, David Lynch tirou-me da obscuridade para protagonizar o seu primeiro e último filme de grande orçamento. Ele viu claramente algo em mim que nem eu próprio reconhecia. Devo-lhe toda a minha carreira e, na verdade, toda a minha vida”, começou por escrever no Instagram.

“O que eu vi nele foi um homem enigmático e intuitivo, com um oceano criativo a transbordar dentro de si. Ele estava em sintonia com algo a que o resto de nós apenas pode aspirar. A nossa amizade floresceu em ‘Blue Velvet’ e depois em ‘Twin Peaks’, e sempre o considerei a pessoa mais genuinamente viva que já conheci. David estava em harmonia com o universo e com a sua própria imaginação num nível que parecia representar o melhor da humanidade. Ele não se interessava por respostas, porque compreendia que são as perguntas que nos impulsionam e nos definem. Elas são o nosso fôlego”, acrescenta.

 
 
 
 
 
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O ator de 65 anos revela também que enquanto o mundo perdeu um artista notável, ele perdeu um “querido amigo” que o permitiu “viajar por mundos que nunca poderia ter concebido sozinho”.

“Consigo vê-lo agora, a levantar-se para me cumprimentar no seu quintal, com um sorriso caloroso, um grande abraço e aquela voz marcante do Midwest. Falaríamos sobre café, a alegria do inesperado, a beleza do mundo, e riríamos. O amor que tínhamos um pelo outro surgiu do destino cósmico de duas pessoas que viram o melhor de si refletido uma na outra. Vou sentir a sua falta mais do que as palavras conseguem expressar e mais do que o meu coração consegue suportar. O meu mundo tornou-se muito mais rico por tê-lo conhecido e muito mais vazio agora que se foi. David, fico para sempre transformado e, para sempre, teu Kale. Obrigado por tudo”, conclui.

Lara Flynn Boyle, outra das estrelas originais de “Twin Peaks”, realçou na sua conta que o mundo perdeu um “verdadeiro Willy Wonka da realização”. “Sinto que ganhei o bilhete dourado quando pude trabalhar com ele. Vai deixar muitas saudades.”

Durante uma entrevista no programa “Andy Cohen Live”, Patricia Arquette, outra colaboradora frequente do realizador, também partilhou as suas memórias com o cineasta. “Trabalhei com ele em ‘Lost Highway’ e estive recentemente no Festival de Cinema de Marrocos. A mulher que o organizou, Melita, adora o David e são bons amigos. Estávamos a falar sobre o David e, depois, liguei ao meu amigo Baltazar, que também participou em ‘Lost Highway’ comigo, e disse-lhe: ‘Temos de ir ver o David’. Tentei deixar-lhe um recado. Tinha esta sensação de que precisava de ver o David. O David era realmente incrível. Não há ninguém como ele.”

Os grandes realizadores de Hollywood também prestaram homenagens a Lynch. James Gunn, por exemplo, disse que o cineasta “inspirou muitos de nós”, publicou no X (antigo Twitter). Steven Spielberg, porém, foi mais pessoal — não tivessem eles trabalhado juntos em “Os Fabelmans”, onde Lynch interpretou John Ford, um realizador que conhece Sammy Fabelman, o protagonista que é uma versão fictícia de Spielberg.

“Adorava os filmes do David. ‘Blue Velvet’, ‘Mulholland Drive’ e ‘Elephant Man’ definiram-no como um sonhador visionário singular, que realizava filmes que pareciam feitos à mão. Conheci o David quando ele interpretou John Ford em ‘Os Fabelmans’. Ali estava um dos meus heróis — David Lynch a interpretar um dos meus heróis. Foi surreal e parecia uma cena saída de um dos próprios filmes do David. O mundo vai sentir falta de uma voz tão original e única. Os seus filmes já resistiram ao teste do tempo e sempre o farão”, escreveu Spielberg num comunicado enviado ao “The Hollywood Reporter”.

 

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