Assim que foram feitos os primeiros visionamentos de “A Substância”, começaram a surgir os relatos de enjoos e saídas improvisadas das salas de cinema. O que é certo é que, feitas as contas, o “terror corporal” do filme que combina ficção científica e terror está a sair-se extremamente bem no que toca às críticas dos especialistas.
Esta quinta-feira, 31 de outubro, a produção que tem Demi Moore como protagonista chega aos cinemas nacionais, pronta para eclipsar os papéis da atriz em êxitos como “G.I. Jane”, “Ghost” e “Proposta Indecente”.
A atriz de 61 anos e Margaret Qualley, de 30 — essa mesma, a filha de Andie MacDowell —, são as personagens principais desta obra que tem gerado milhares de comentários nas redes sociais. O enredo acompanha Elisabeth Sparkle (Moore), uma estrela de Hollywood demitida de um programa de televisão por causa da sua idade.
A viver uma crise existencial, sobretudo devido à pressão para manter o ar jovem, Elisabeth encontra uma solução milagrosa: uma substância vendida no mercado negro que permite produzir uma versão mais nova de si mesma. É assim que nasce Sue (Qualley).
Os problemas surgem quando Elisabeth vê Sue a destacar-se no mundo do entretenimento. Apesar de ser uma versão de si própria, a versão original sente-se tomada pela inveja e faz de tudo para sabotar o sucesso da cópia. “Uma celebridade em declínio decide usar uma nova droga do mercado negro, uma substância que replica células e cria temporariamente uma versão mais jovem e melhor de si mesma”, resume a sinopse.
Moore confessa que este papel reflete muito daquilo que viveu na sua carreira. “Quando era mais nova, punha muita pressão em mim própria e passei por experiências em que me pediram para perder peso. Era humilhante, mas o mais absurdo era o que eu fazia para cumprir essas exigências”, contou à “CBS News”.
Recorda-se, por exemplo, de pedalar todos os dias cerca de 50 quilómetros até aos estúdios da Paramount para as filmagens de “Proposta Indecente” (1993), pouco tempo depois de ter sido mãe. “Acho que a minha filha tinha seis meses. Eu amamentava durante a noite, acordava ainda de madrugada, treinava e ia de bicicleta até à Paramount. Hoje, sinto-me ridícula ao pensar nisso”, relembrou.
Através do terror e da comédia, o filme realizado pela francesa Coralie Fargeat pretende discutir a pressão cultural que persiste, sobretudo sobre as mulheres, para “perseguir a perfeição”, o que acaba por impactar a autoestima. “A minha personagem enfrenta várias críticas dos executivos da indústria do entretenimento e dos tabloides. Ao longo da vida, isto foi algo que também me aconteceu. Interpretar a Elisabeth trouxe-me uma nova perspetiva sobre questões que antes me assombravam”, diz Moore ao “The Guardian”.
As gravações de “A Substância” foram quase como uma sessão de terapia para a atriz. O facto de o papel incluir cenas de nudez proporcionou-lhe um “certo sentimento de liberdade” e, acima de tudo, a oportunidade de explorar a desconstrução da aparência e da perfeição física, que são temas centrais na produção, confessou à “Inside”.
body horror in THE SUBSTANCE (2024) dir. coralie fargeat pic.twitter.com/mTCxIR5lXP
— bethany (@fiImgal) October 23, 2024
“A Substância” tem sido um sucesso entre a crítica. Está atualmente com uma avaliação de 91 por cento no agregador Rotten Tomatoes, o que faz dele o filme mais bem avaliado da longa carreira de Demi Moore. “O melhor que podem fazer com o vosso dinheiro nesta época é irem a correr para o cinema para verem ‘A Substância’”, disse o “New Yorker”. “Extraordinário”, resumiu a “NPR”. “Fora de todos os fluidos corporais e crostas nojentas, há muita credibilidade nesta história. O filme mergulha numa carnificina emocional e perturbada da menopausa de uma forma que poucos outros conseguiram”, resume o “Observer”.
Face a um orçamento de 16 milhões de euros, a obra que também conta com Dennis Quaid conseguiu arrecadar, até agora, 38 milhões — isto sem ter sido lançado em maior parte dos territórios.
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