Seis milhões de euros. Era aproximadamente este o valor da dívida de Nicolas Cage, imediatamente após a crise económica e o crash do mercado imobiliário em 2008. Era preciso pagar cada cêntimo — e foi isso que fez. Em entrevista ao célebre programa “60 Minutes”, da norte-americana CBS, o ator de 59 anos confirmou o que já muitos fãs suspeitavam. Encostado à parede pela dívida, teve que aceitar toda e qualquer proposta de trabalho que lhe chegava, o que resultou na participação em diversos filmes que foram completamente arrasados pela crítica e colocaram a sua reputação em cheque.
“Atirei-me de cabeça ao mercado do imobiliário e depois o mercado rebentou. Não consegui sair a tempo”, confessou no programa que foi para o ar no domingo, 23 de abril. Apesar das dificuldades, Cage congratula-se pelo facto de ter conseguido saldar a dívida por inteiro.
“Paguei tudo, cerca de seis milhões. Nunca declarei insolvência”, conta. “Foi um período negro. O trabalho sempre foi o meu anjo da guarda. Pode não ter sido trabalho de topo, mas era igualmente trabalho.”
Sem margem de manobra, viu-se sem forma de recusar ou negociar outro tipo de papéis. Todos os trabalhos que pagassem eram imprescindíveis e, também por isso, acabou por dizer que sim a projetos menos reputados e que, muitas vezes, nem sequer passavam pelas salas de cinema. “Mesmo que, ao fim do dia, se tratasse de um filme miserável, eles sabiam que eu não estava a fingir. Eu aplicava-me sempre”, confessou.
Cage já tinha falado sobre o tema do ocaso na sua carreira em 2022, quando admitiu, em entrevista à revista “GQ”, que muitos dos seus filmes mais recentes “simplesmente não funcionavam”. “Quando andava a fazer quatro filmes por ano, durante anos seguidos, sempre lutei para encontrar algo neles que me permitisse dar o meu máximo”, contou. “Não funcionavam. Alguns deles eram bons, como o ‘Mandy’, mas a maioria não funcionou.”
Ainda em 2019, Cage confessara que a maioria das suas escolhas recentes tinham por base um grande fator: o dinheiro. “Não posso falar sobre casos específicos, percentagens, mas sim, o dinheiro é um fator. Posso ser perfeitamente honesto quanto a isso, aliás, não há razão para não o ser”, explicou ao jornal “The New York Times”.
“Continuo a procurar filmes que eu perceba que fazem sentido, que posso participar nele e ajudar a criar algo que seja divertido se ver, mas sim, não é segredo nenhum que cometi erros no passado que estou a tentar corrigir (…) Ocorreram erros financeiros com a implosão do mercado imobiliário que eliminaram uma grande parte do dinheiro que ganhei. Mas havia uma coisa que eu não iria fazer: assumir a insolvência.”
Cage, que nasceu numa família de artistas — e é sobrinho da lenda Francis Ford Coppola —, conquistou um Óscar em 1995 pelo seu papel em “Leaving Las Vegas”. Fez sucesso com os seus filmes de ação no final dos anos 90, entre “The Rock”, “Con Air” e “Face/Off”, mas viu a sua carreira tornar-se motivo de chacota na última década.
“Será que Nicolas Cage só faz mesmo maus filmes?”, questionava a “Screen Rant” em 2021, numa análise à avalanche imparavel de filmes de baixo orçamento em que o ator participou nos últimos anos. “Hoje, os seus filmes são diretamente lançados em DVD ou nas plataformas de streaming; e são lançados a um ritmo tão rápido que muitas vezes passam despercebidos, até mesmo aos seus seguidores mais fiéis”, escrevia a revista.
Antes da miséria financeira, chegou a ser um dos atores mais bem pagos de Hollywood. Apesar de se justificar com os erros no investimento imobiliário, postos a nu pela crise financeira, a verdade é que era também conhecido pelo seu estilo de vida luxuoso.
Segundo a CNBC, Cage chegou, a certa altura, a ter 15 imóveis por todo o mundo, de casas no deserto a castelos na Europa. Mas foram as compras de objetos bizarros que mais deram nas vistas. O ator terá comprado um pouco de tudo em leilões, de cabeças de pigmeus a bandas-desenhadas raras, até ao crânio fossilizado de um dinossauro — que mais tarde foi obrigado a devolver ao governo da Mongólia.
No que toca à escolha das propriedades, Cage assumiu que eram mais baseadas na então filosofia de vida que promovia do que propriamente em escolhas inteligentes decorrentes da análise de mercado. “Comecei a meditar três vezes ao dia, a ler livros de filosofia (…) Comecei a seguir a mitologia e procurava propriedades que estivessem alinhadas com isso.” Entre as compras estavam dois castelos avaliados em cerca de 12 milhões de euros.
O ator chamava-lhe a sua “busca pelo cálice sagrado” que, neste caso, eram propriedades. “Lês um livro e dentro dele está uma referência a outro livro, e depois compras esse livro e vais acumulando as referências. Para mim, isso era tudo, a busca pelo cálice sagrado. Onde está? Será que o cálice é a própria Terra?”, perguntou ao “The New York Times”.