Depois dos impactantes “Get Out” e “Nós”, Jordan Peele regressa com “Nope”. O terceiro filme do cineasta americano estreia nos cinemas portugueses esta quinta-feira, 18 de agosto. Está a ser super elogiado pela crítica.
“Nope” conta a história de dois irmãos que gerem um rancho de cavalos na Califórnia. Descobrem algo tão maravilhoso quanto sinistro nos céus — e o dono de um parque de diversões ali mesmo ao lado tenta lucrar aproveitando-se deste fenómeno misterioso e sobrenatural.
A produção tem elementos de terror, thriller, ficção científica, western e até de comédia de amigos. Pelo facto de oscilar entre diferentes géneros, reporta-nos ao momento em que “Get Out” — repleto de tensão, suspense e horror — foi nomeado para Melhor Comédia nos Globos de Ouro. Nessa altura, Jordan Peele reagiu com algum humor e disse que faria mais sentido na categoria de Documentário. Referia-se, claro, ao facto de o filme retratar o racismo sistémico nos EUA.
O novo filme tem claramente duas dimensões. Tendo em conta as críticas da imprensa especializada internacional, pode ser visto de forma descontraída para descobrirmos como um determinado grupo de pessoas tenta defender-se daquela entidade OVNI. Há até referências à espetacularidade dos épicos de Steven Spielberg.
“Escrevi-o numa altura em que estávamos um pouco preocupados com o futuro do cinema. Por isso, acima de tudo queria criar um espetáculo… a derradeira história americana de OVNI”, explicou Jordan Peele à revista “IndieWire”.
Porém, não poderia ser um projeto de Jordan Peele se não existissem mais camadas. Aqui, as interpretações são diversas. E Peele é um dos cineastas que preferem que as suas obras se bastem a si próprias, que suscitem múltiplas reações e interpretações. Não gosta de desvendar todos os significados camuflados.
De acordo com diversos artigos, incluindo uma peça detalhada da revista “Time”, são abordados diversos temas em “Nope”. Por um lado, o filme fala muito sobre o próprio cinema. Há referências por todo o lado a produções icónicas e a Hollywood. E as personagens estão obcecadas com documentar com câmaras a presença daquele fenómeno nos céus. Acreditam que pode ser uma forma de ingressarem na indústria. E existe, claro, uma sátira ao meio cinematográfico.
Por outro lado, “Nope” também parece abordar a cultura de vigilância. Jordan Peele tem abordado bastante a opressão racial nos EUA — pela sociedade, sistema político e autoridades. E essa é uma temática que aparentemente também paira sobre o novo filme.
Entre Hollywood e a comunidade afro-americana, “Nope” também referencia uma série de pessoas que foram fundamentais para a construção da indústria — há quase uma homenagem a esses profissionais deixados na sombra. Por último, também existe um retrato da mentalidade capitalista de aproveitar seja o que for desde que lucre. E quando algumas das personagens tentam rentabilizar a presença daquela entidade misteriosa, isso acarreta consequências.
Seja como for, “Nope” parece valer a pena. No Rotten Tomatoes, site que aglomera as classificações da crítica, soma 82 por cento de textos favoráveis — o que é um ótimo resultado. E o público, mesmo que não identifique todas as camadas, pode sempre vê-lo como um filme simples e divertido.
“Há uma forma de ver este filme em que dizes: ‘Tenho estado a trabalhar o dia inteiro, a semana inteira. Quero desligar e ver algumas coisas malucas’”, disse Jordan Peele ao “Uproxx”, confirmando esta hipótese.
Daniel Kaluuya, o ator principal de “Get Out”, volta a ser o protagonista deste filme. O elenco inclui ainda nomes como Keke Palmer, Steven Yeun, Brandon Perea, Michael Wincott, Keith David ou Devon Graye, entre outros.
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