As últimas décadas têm sido marcadas por momentos difíceis para Paolo Marinou-Blanco. O realizador perdeu o pai nos anos 2000, vítima de uma doença prolongada. Agora, a mãe enfrenta uma “situação de saúde cada vez mais precária”, o que a leva a considerar a eutanásia — uma opção que não esteve disponível ao marido. A prática só é legal em cerca de dez países, o que para Marinou-Blanco é “completamente descabido”.
“Nós devíamos ter o direito de escolher uma morte com dignidade e indolor. Isso é uma escolha de viver melhor”, explica à NiT o realizador greco-português. Foi com essa ideia que começou a desenvolver “Sonhar com Leões”, filme que estreou esta quinta-feira, 8 de maio, nas salas de cinema portuguesas.
A história acompanha Gilda, uma imigrante brasileira a viver em Lisboa. Reformada do ensino secundário, vive com um humor sarcástico e um diagnóstico terminal: tem um ano de vida devido a um cancro maligno na medula espinal. O seu único desejo é morrer enquanto ainda se reconhece, com dignidade e sem sofrimento.
“No entanto, depois de quatro tentativas falhadas de suicídio, Gilda tem medo de tentar novamente, o que a leva a procurar a multinacional Joy Transition International, que organiza caros workshops sobre eutanásia e suicídio para pessoas numa fase terminal. É lá que conhece Amadeu, um português, introvertido funcionário numa agência funerária, numa situação de vida aparentemente semelhante”, avança a sinopse do filme.
Apesar do tema, Marinou-Blanco introduziu vários elementos de comédia na obra. “Gosto de ver as situações mais trágicas do mundo através de um certo prisma cósmico ou satírico. Rapidamente decidi que queria abordar estas questões de forma mais inesperada, ou seja, com a comédia.”
O realizador sublinha que esse tom não minimiza a gravidade do assunto. “Falar destes temas dolorosos com humor não significa que não tenha respeito pela seriedade e peso emocional” da eutanásia e do suicídio assistido. “Conseguir esse tom certo e equilíbrio sem nunca desrespeitar o assunto foi um desafio”, acrescentou.
As filmagens refletiram a intensidade da narrativa. Por vezes, os atores riam e, momentos depois, choravam. Um episódio em particular ficou gravado na memória de Marinou-Blanco. Durante a rodagem de uma cena que recriava um grupo de apoio a doentes terminais, um dos figurantes começou a chorar enquanto a equipa preparava as câmaras. “Ele próprio tinha passado por uma situação semelhante com a mulher dele. Foi muito difícil para o senhor, que já tinha uma certa idade.”
A produção suspendeu a rodagem para que o figurante pudesse descansar. Ainda assim, ele optou por ficar. “É uma cena muito importante e ele gostaria que as pessoas tivessem acesso ao apoio que a mulher não teve. É um filme que vai marcar muito as pessoas”, rematou o realizador.
O elenco de “Sonhar com Leões” inclui Denise Fraga, João Nunes Monteiro, Joana Ribeiro, Sandra Faleiro, Alexander Tuji Nam, Victoria Guerra, António Durães, Roberto Bomtempo, Dinarte de Freitas e Rita Revez.
Carregue na galeria e conheça algumas das séries e temporadas que estreiam em abril nas plataformas de streaming e canais de televisão.
