Já não é bem uma uma novidade: há mais uma produção espanhola a liderar os conteúdos mais populares da Netflix em Portugal. “Nowhere”, thriller realizado por Albert Pintó, que estreou na passada sexta-feira, 29 de setembro, é, atualmente, o filme mais visto da plataforma de streaming.
Esta longa-metragem segue uma linhagem de produções realizadas em Espanha e que se transformaram em sucessos mundiais — como as séries “La Casa de Papel” e “Elite”; ou os filmes “A Plataforma” e “Bird Box: Barcelona”.
“Nowhere” relata a história de uma jovem grávida, Mia (interpretada por Anna Castillo), que foge do seu país — cujo nome nunca é mencionado — em guerra, escondida dentro de um contentor a bordo de um navio de carga. A trama adensa-se quando, depois de uma violenta tempestade, a personagem principal cai no mar e dá à luz uma criança, iniciando assim uma luta pela sobrevivência de ambos.
Esta emocionante jornada foi o suficiente para cativar espectadores e liderar as audiências, tendo para isso contado com a experiente visão de Pintó, realizador familiarizado com estes projetos mais mediáticos. Já tinha sido responsável por realizar, por exemplo, um episódio de La Casa de Papel e tem estado envolvido no futuro spin-off de Berlín, que se centra na personagem interpretada por Pedro Alonso em “La Casa de Papel”.
Apesar de “Nowhere” não ser baseada numa história verídica, o argumento — escrito por Indiana Lista e que contou com a colaboração de Ernest Riera, Miguel Ruz, Seanne Winslow e Teresa Rosendoy – é inspirada em histórias reais relatadas por imigrantes. O realizador explicou que Lista conhecia um casal de mexicanos que passou por uma experiência semelhante a Mia. Nesse caso, eles tentaram atravessar a fronteira entre o México e os Estados Unidos escondidos dentro de contentores em camiões.
Os argumentistas do filme entrevistaram diversos imigrantes e estudaram rotas de tráfico humano de países como a Guatemala, Honduras, El Salvador e Nicarágua. O resultado é uma visão muito mais realista — e impactante para os espectadores.
Apesar de não ser referido diretamente qual é o país do qual a protagonista está a fugir, tudo indica que será mesmo Espanha — que tem enfrentado diversos problemas relacionados com a imigração ilegal. Em abril deste ano, centenas de imigrantes subsaarianos tentaram ultrapassar a cerca fronteiriça que separa Ceuta de Marrocos
Apesar do sucesso entre a audiência, as críticas não têm sido particularmente para esta longa-metragem.
“Os desastres no mar proporcionam ao público emoções sinistras há centenas de anos, senão milhares”, começa por escrever a crítica de cinema do jornal “New York Times,” Teo Bugbee, fazendo-nos recordar a aventura a solo de Tom Hawks, em “O Náufrago”, de 2000, ou o mais recente “Triângulo da Tristeza”, lançado no ano passado. Bugbbe conlcui que o filme não passa de um exercício de “sensacionalismo sobrevivencialista genérico”.
“‘Nowhere’ é um espetáculo de fortuna e desastre, boa sorte e azar. Existem pequenas inovações que chamam a atenção – quando Mía consegue construir aparelhos para flutuar através de um Tupperware e fazer claraboias com berbequins —, mas é difícil preocupar-se com os seus esforços para sobreviver quando é a coincidência que faz a trama avançar e a produção parece barata. Existe apenas um cenário, alguns adereços e a atuação admiravelmente comprometida de Castillo que mantém este frágil navio flutuando”, acrescenta.
A atuação de Anna Castillo parece ser mesmo o único ponto positivo. Pelo menos entre a crítica.
“O realizador consegue espremer todo o talento de Castillo, uma atriz que, no princípio, parece demasiado rigorosa (na verdade é apenas o diálogo mau das cenas de abertura), mas que se adapta bem depois de dar à luz e se tornar uma força do instinto de sobrevivência”, argumenta Brian Tallerico, do site de críticas de cinema “Roger Ebert”.
E conclui: “Já todos ouvimos histórias sobre mães que conseguem levantar carros para salvar os seus filhos e Castillo consegue vender a ideia de que desistir não é uma opção nem para o filho nem para ela mesma”.
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