No verão de 2018, uma equipa local de futebol juvenil entrou nas grutas de Tham Luang Nang Non, na Tailândia, após um treino. Durante o período em que estiveram lá dentro, fortes chuvadas fizeram-se sentir no exterior, que acabaram por inundar a gruta.
Sem conseguir sair, 12 jovens entre os 11 e os 16 anos, mais o seu treinador de 25 anos, ficaram naquele local durante 18 dias — enquanto se montava uma complexa operação de resgate que acabou por envolver especialistas de todo o mundo.
Esta inacreditável história real, que acabou sem quaisquer feridos, foi manchete por todo o mundo e originou diversos documentários. Agora é contada num filme do icónico cineasta Ron Howard, “Thirteen Lives”, que estreia esta sexta-feira, 5 de agosto, na plataforma de streaming Amazon Prime Video.
O elenco da produção inclui nomes como Viggo Mortensen, Colin Farrell e Joel Edgerton. A NiT falou com o ator britânico Tom Bateman (“Crime no Expresso do Oriente”, “Por Trás dos Seus Olhos”), que interpretou um dos mergulhadores da vida real que foram para a Tailândia ajudar no resgate. Leia a entrevista.
O que é que o atraiu quando soube que este filme ia ser feito?
Quando enviaram o guião, achei que tinham feito um trabalho tão bom a contar uma história incrível. E nas mãos de alguém como o Ron Howard… achei que era algo de que eu adoraria fazer parte. E foi mesmo — foi uma jornada fantástica.
Já conhecia esta história?
Conhecia um pouco, provavelmente o mesmo que a maioria das pessoas. Acompanhei nas notícias quando estava a acontecer. Lembro-me de ter uma sensação de quase não conseguir acreditar quando eles conseguiram tirar das grutas os rapazes todos de forma segura. Mas não conhecia os detalhes. Lembro-me de, na altura, ver talkshows com alguns dos rapazes. É quase impossível conhecer as histórias de tanta gente, porque havia milhares de pessoas envolvidas no resgate, por isso era impossível conhecer tudo. Mas essa era a alegria de fazer este filme, foi como um grande ensaio para conhecer estas pessoas extraordinárias que vieram de todo o mundo para fazer isto.
O que pode dizer sobre a sua personagem?
Interpreto o Chris Jewell, que trabalha na área da tecnologia, mas nos seus tempos livres é quase um super-herói. Faz esta coisa incrível de mergulhar em grutas. Se alguém quiser saber mais, ele tem um canal de YouTube e grava muitos dos seus mergulhos. Consegui falar muito com ele antes das gravações. Falávamos através do Zoom, ele contou-me o que tinha feito. Acho que no ano anterior ele tinha feito um dos mergulhos mais profundos no México. Consegui descobrir muito sobre ele e é um homem incrível. Faz esta coisa maluca por diversão e isso colocou-o numa posição de poder ajudar estes rapazes.
Por outro lado, foi desafiante para si conhecer a pessoa que ia interpretar?
É uma boa pergunta, porque o Ron foi muito específico. Ele não queria que fizéssemos imitações das pessoas que estávamos a interpretar. Mas ao mesmo tempo queria que tivéssemos em mente que são pessoas reais e que lhes queremos fazer justiça. Por isso, quando estava a ver entrevistas com ele ou a falar com ele, foi difícil desligar essa parte do meu cérebro. Estava só a observar os seus maneirismos, a forma como se movia e piscava os olhos… Mas ele tinha uma energia bastante diferente da minha e acho que é o que torna estes tipos incríveis. Eles têm uma espécie de programação no cérebro que os torna disponíveis para fazerem estas coisas — que para mim foi uma batalha mental constante. E tentar sentir a energia e o ritmo dele foi bastante útil para conseguir ultrapassar essas coisas.
Além de falar com o Chris, que tipo de preparação especial é que teve de fazer para o papel?
Grande parte foi a pesquisa, sabendo o que teríamos de fazer no dia a dia. A relação física que tínhamos com o nosso equipamento era mesmo importante. Porque eles conseguem tirar tudo e despirem-se em segundos. Enquanto, na primeira vez que os atores puseram o equipamento, levou-nos imenso tempo, quase uns 20 minutos. É muita coisa, equipamentos e aparelhos. A parte incrível é que, no fim, já o conseguíamos fazer de olhos vendados. Podíamos estar a conversar e fazíamos aquilo muito rápido. Mas foi sobretudo aprender as técnicas de mergulho: o que tinhas de fazer em determinadas situações, como é que deverias mover o teu corpo, como é que deverias segurar a pessoa que estavas a resgatar… Foi muito isso e tivemos a sorte de ter pessoas incríveis, como os próprios [mergulhadores reais] Jason e Rick, no estúdio connosco. Lembro-me de estar a atar um colete salva-vidas a um dos rapazes, a tentar perceber como fazia, e o Jason chegou ao pé de mim e disse: foi assim que fiz naquele dia. E simplesmente mostrou-me.
O Tom já tinha experiência de mergulho?
Sim, já tinha feito mergulho normal, tenho a minha licença já há alguns anos e fiz bastante por todo o mundo. Mas nunca tinha mergulhado em grutas e é muito, muito diferente. É uma experiência distinta: vês e sentes outras coisas. Quando mergulhas normalmente, não tens aquela sensação de medo. É uma experiência muito mais tranquila e pacífica. Mas assim que tens um teto por cima da cabeça, com aqueles túneis todos, e percebes que só dá para passar e nem sequer há espaço para te virares para trás e fazeres o caminho oposto…
Quando começou a explorar mais esta história, quais foram os detalhes que mais o surpreenderam?
Acho que foi apreciar o poder, o nosso poder. O que temos dentro de nós enquanto seres humanos. Não sabia que conseguia acalmar-me a mim próprio naqueles ambientes apertados e stressantes. Lembro-me de pensar muitas vezes: não vou conseguir fazer isto, vai ser mesmo muito difícil. Mas ao insistir comigo mesmo para ir um bocadinho mais longe de cada vez… Refleti muito sobre isso após o filme e fiquei orgulhoso de todos nós por aquilo que conseguimos ultrapassar. A sensação de ultrapassar esse medo pelo motivo de contar uma história tão bonita e tentar fazer justiça… Achei muito profundo, sim.
Sente que é importante contar este tipo de histórias reais através de um filme?
Tão importante. E voltando à tua primeira questão, sobre o que me atraiu para querer fazer isto, senti que na altura estávamos numa altura muito dividida, de Covid-19, confinamentos e medo. Com as pessoas a sentirem-se muito separadas… Porque nem sequer podias ir ver a tua família. E contar uma história sobre pessoas de todo o mundo a unirem-se — e essa força da união… Aquele resgate não teria acontecido sem aquelas pessoas todas. Precisava de todas elas, independentemente de quem eram e do que estavam a fazer. Foi uma honra fazer parte disto. Acho que estas histórias são muito importantes, particularmente agora, para relembrar as pessoas do poder que temos quando nos juntamos para fazer o bem. E o quão recompensador isso pode ser. Há uma razão pela qual toda a gente conhecia esta história… Todos aqueles que me perguntavam o que estava a gravar e eu contava, toda a gente dizia “Meu Deus, lembro-me dessa história, lembro-me do quão inspiradora foi!”.
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