“Joker“, o filme protagonizado por Joaquin Phoenix, revela pormenores sobre a origem de um dos mais famosos vilões que já se atravessaram no caminho do Batman. Vencedor do Leão de Ouro de 2019, prémio máximo do Festival de Veneza, o filme estreia em Portugal esta quinta-feira, 3 de outubro, e é apontado como um dos grandes candidatos — em todas as categorias — às nomeações para os Óscares do próximo ano.
Em várias entrevistas concedidas por altura do lançamento do filme nos Estados Unidos, o realizador Todd Phillips contou que optou por um caminho mais intimista, focado na psique da personagem e revelou que uma de suas inspirações para compor o vilão foi a narrativa do filme “O Homem que Ri“, de 1928, tanto pelo seu ambiente gótico e mórbido, como pela sua maquilhagem.
“Nós tivemos a oportunidade de escolher certos elementos do passado da personagem, vindos de antigas bandas desenhadas, e utilizar do modo que queríamos. Nós utilizamos um pouco disso e também um pouco da história da banda desenhada ‘Piada Mortal’, em que ele era um comediante de stand up fracassado, mas outra grande influência para este filme foi algo que inspirou os criadores de Joker originalmente: o filme mudo ‘O Homem que Ri’, que realmente foi onde isto tudo começou”, disse Todd Phillips, na conferência de imprensa do Festival de Veneza 2019.
A obra esquecida do cinema mudo foi realizada pelo cineasta expressionista alemão Paul Leni. O filme é uma adaptação do romance homónimo de Victor Hugo, protagonizado por Conrad Veidt (como Gwynplaine) e Mary Philbin (como a cega Dea).
Enquanto estava exilado, após criticar os aristocratas com obras como “Os Miseráveis” e “O Corcunda de Notre Dame”, o escritor francês criou a história de um pobre rapaz do século XVII que sofreu às mãos do seu governante. Gwynplaine é filho de um nobre inglês que ofendeu o rei James II. O monarca decidiu então condenar o nobre à morte por tortura e desfigurar o rosto do seu filho para que ele estivesse sempre a rir da tolice de seu pai.
Abandonado, o jovem deformado é adotado com uma menina cega por uma trupe de circo, que se aproveita do seu sorriso permanente para atrair o público para as apresentações itinerantes. Aos poucos, transforma-se numa das atrações mais populares e passa a ser conhecido como “o homem que ri”, metade palhaço e metade aberração.
Com o tempo, Gwynplaine e Dea apaixonam-se, mas o protagonista tem medo de se aproximar da amada, por causa de sua aparência. Por fim, descobre-se que o jovem vem de uma linhagem nobre e sua posição de aristocrata é reconhecida pela rainha Anne. Desiludido, ele abandona a nobreza para viver com o amor da sua vida, mas quando finalmente o faz, Dea morre e Gwynplaine decide jogar-se ao mar.
Apesar da reputação medíocre que o trágico romance teve à época, uma vez que todos o viam como um filme de terror, o visual da melancólica personagem interpretada pelo ator Conrad Veidt foi a grande inspiração para um dos mais conhecidos vilões de Batman, criado por Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Kane.
Numa entrevista de 1994, Bob Kane explicou como foi a criação de Joker: “Bill Finger e eu criamos o Joker. Bill era o escritor. Certo dia, Jerry Robinson veio até mim com uma carta do joker, mas a carta era parecida com o Conrad Veidt, o ator de ‘O Homem que Ri’. Então, Finger apanhou um livro com uma fotografia de Conrad Veidt, mostrou para mim e disse: Aqui está o Joker”, explicou Kane.
Há muitas características semelhantes entre o visual da personagem de Veidt no filme de 1928 e o Joker da banda desenhada. Além do sorriso gigantesco, há os dentes que ocupam a boca inteira, o cabelo penteado para trás e as roupas.
O Joker versão 2019 gira em torno de Arthur Fleck, um aspirante a comediante da fictícia cidade de Gotham. Após ser marginalizado diversas vezes pelos cidadãos do local, Fleck enlouquece aos poucos, num processo que o transforma no psicótico e violento vilão. O novo filme tem estreia mundial marcada para o dia 3 de outubro, quinta-feira.