Quando foi visto pela última vez no ecrã, Daniel Day-Lewis estava a usar um fato completo. Era um dos protagonistas do filme “Linha Fantasma”, nomeado para vários prémios, onde interpretou um designer com um gosto requintado. Porém, depois de terminar as gravações, anunciou em comunicado que se ia retirar do cinema — com 40 anos de carreira e três Óscares conquistados.
Desde então, deixou de ser visto pelo público. Pelo menos, até agora. O ator de 66 anos surgiu em Nova Iorque (Estados Unidos) esta quinta-feira, 18 de maio, com uma imagem muito diferente. Completamente diferente de Reynolds Woodcock, a última personagem que interpretou, mas também da sua imagem fora do cinema.
Nas imagens, o britânico aparece de cabelo longo e grisalho, à altura dos ombros, com rastas emaranhadas. A par disso, optou por um look mais desportivo: um fato de treino, um boné de baseball e ainda óculos de sol escuros, na tentativa de não ser identificado. Um sentido de estilo peculiar, idêntico ao que usava uns dias antes, e que causa estranheza para quem o acompanhou ao longo dos anos.
Afastado dos holofotes, Day-Lewis tem passado a maior parte do seu tempo em Nova Iorque e na cidade irlandesa de Annamoe, com a esposa e mãe dos dois filhos, Rebecca Miller, avança o “New York Post”. Porém, não há informações sobre as atividades às quais o antigo ator se dedica atualmente nem sobre o que pode ter levado à mudança de imagem radical.
The summer of whatever it is Daniel Day-Lewis is trying to do has begun. pic.twitter.com/jcDj6mGw8d
— Kevin Clark (@bykevinclark) May 19, 2023
As (várias) pausas na carreira
Esta não é, de todo, uma situação sem igual. Foi em 1989 que Daniel Day-Lewis desistiu (realmente) não do cinema, mas do teatro. E tudo aconteceu a meio de uma peça, no National Theatre, em Londres, no Reino Unido. Reza a lenda, diz a “Vanity Fair”, que o ator estava a interpretar o protagonista em “Hamlet” e na parte em que fala com o fantasma do pai, teve um colapso mental e abandonou o palco a meio, sem nunca mais voltar.
No cinema, Daniel Day-Lewis — que começou a carreira nos anos 70 — fez várias pausas ao longo dos anos, muitas vezes para se dedicar a atividades pouco convencionais e bizarras. No final dos anos 90, depois de participar em “O Boxeur”, o ator esteve fora dos radares de Hollywood durante cinco anos, até Martin Scorsese o convencer a regressar ao cinema para entrar em “Gangues de Nova Iorque”.
Durante esse hiato, esteve a trabalhar em madeiras e a aprender a produzir sapatos. Quando começou a gravar o filme com Scorsese, atirou-se a outros ofícios para interpretar o gangster de 1860. Aprendeu a ser talhante e contratou artistas de circo para saber como atirar facas.
Mais de uma década depois, em 2013, pouco tempo depois de vencer o Óscar pelo papel em “Lincoln”, o “London Sunday Times” dizia que Daniel Day-Lewis estava a planear mais uma pausa na carreira. O objetivo seria passar mais tempo com a família na sua quinta em County Wicklow, na Irlanda.
Ao “L.A. Weekly”, explicou porque precisa destas pausas. “Eu nunca fui embora, nunca me deixei. Simplesmente preciso deste tempo que passo fora dos filmes para fazer o trabalho que adoro e da forma que adoro.”
Desta vez, porém, tudo parece mais definitivo. Apesar de tudo, Day-Lewis nunca apontou uma razão específica para ter tomado a decisão, visto que nem o próprio nem os representantes se pronunciaram sobre o assunto após o comunicado final: “[Essa sensação] assentou-se em mim, e apenas está lá… a responsabilidade de ser artista pesou sobre mim. Eu preciso de acreditar no valor daquilo que estou a fazer. E se um público acredita nisso, devia ser o suficiente. Mas, ultimamente, não tem sido”, disse numa das últimas entrevistas à “Variety”.