“Odeio o termo sex symbol”, explicava um Keanu Reeves acabado de brilhar em “Speed”, onde protagonizava o papel de jovem agente da polícia, em 1994. “Não acho que seja um sex symbol. Não acho sequer que pareça um.” O mundo tinha outra opinião.
Reeves era a próxima grande estrela de ação de Hollywood, o tipo que salva vidas e no final conquista a miúda. “Por amor de Deus, tenho a possibilidade de beijar o Keanu Reeves. Vou ser a inveja de todas as mulheres dos seis aos 60”, comentou Sandra Bullock, a sua parceira nesse filme.
Fazia cenas perigosas, era jovem, bonito, andava de mota e até tocava baixo numa banda. Ator e estrela de rock e, eventualmente, protagonista de um dos mais bem-sucedidos filmes do final dos 90 e início dos 00, “The Matrix”. À distância de mais de duas décadas, Reeves talvez tivesse razão quando dizia que não era um sex symbol.
Tornou-se, no entanto, algo muito maior. Hoje, vivemos numa espécie de “Keanaissance”, conforme explica a “Vox”. Reeves é meme, é ator da elite de Hollywood, é estrela de ação e é uma espécie de bom rapaz numa indústria recheada de vilões e personagens de caráter duvidoso, sobretudo depois do eclodir do movimento MeToo.
O culminar desta fama aconteceu a 22 de dezembro, com o regresso da saga “Matrix” e com Reeves no papel principal de Neo. “Matrix: Ressurrections” chegou finalmente aos cinemas, 18 anos depois da estreia do último capítulo da trilogia original.
Embora pouco se saiba sobre o novo rumo da história, sabe-se que Reeves voltará a contracenar com Carrie-Anne Moss, ao lado de nomes como Yahya Abdul-Mateen II, Jonathan Groff, Neil Patrick Harris, Jessica Henwick, Jada Pinkett Smith, Priyanka Chopra Jonas e Christina Ricci, entre outros.
Porém, o Neo — ou Thomas Anderson — de 2021 é muito diferente da versão de 1999. Aos 57 anos, Reeves renasceu sob o ar gélido e fatal de John Wick, a personagem que o catapultou de novo na ação e com a qual se prepara para lançar mais dois filmes, o quarto e o quinto da saga do homem que se lançou numa espiral de homicídios para vingar a morte do cão. Fora do ecrã, a capa de durão cai e o ator transforma-se no homem mais simpático de Hollywood.
As redes sociais estão obcecadas por ele. No Twitter, uma conta que partilha apenas fotos de Reeves “a fazer coisas” tem mais de 200 mil seguidores. Há fóruns e sites inteiramente dedicados a acompanhar as suas boas ações, aos pequenos gestos, sobretudo à forma como parece viver a vida como um tipo normal — e não como uma superestrela de cinema. Existe até uma petição com mais de 170 mil assinaturas a pedir a sua eleição como Pessoa do Ano para a revista “Time”.
Na longa lista de pequenos gestos aparentemente insignificantes mas tremendamente reveladores, está uma constatação feita pelos fãs mais acérrimos do ator. Reeves, que simpaticamente nunca recusa tirar uma fotografia com quem quer que seja, parece ter um pequeno ritual: nunca, mas nunca toca nas mulheres que se colocam ao seu lado.
Foi nas redes sociais que este pequeno gesto começou a dar nas vistas. À medida que se percorria o longo arquivo de imagens do ator, percebeu-se que não era uma coincidência, era totalmente deliberado. Reeves não se mantém à distância, mas enquanto se deixa abraçar, faz questão de nunca tocar nos fãs ou até colegas de profissão.
Sem uma explicação do próprio, pode apenas especular-se sobre qual o motivo que leva Reeves a ter esse cuidado. Há quem aponte, claro, para o facto de Keanu ser “respeitador”, algo que condiz com o seu perfil. Outros sublinham que poderá tratar-se de uma mera precaução. Seja qual for o verdadeiro motivo, a verdade é que nunca ninguém lhe poderá apontar o dedo.
Esta é apenas uma das muitas ações que têm feito a Internet e o mundo apaixonar-se por Keanu Reeves. Por onde começar? Talvez pelo vídeo partilhado em 2011, que mostra o ator a usar o metro de Nova Iorque. Não contente com esta exibição de aparente humildade e normalidade, ofereceu o seu lugar a uma mulher carregada de sacos.
Noutra prova em vídeo, o ator é visto a ajudar as equipas técnicas a carregarem material no set de “John Wick 4”. Uma visão raríssima, mas um comportamento a que os colegas nas produções já estão habituados.
Sempre que as gravações terminam, Reeves tem o hábito de oferecer presentes ao staff. E não são presentes quaisquer. Aos seus duplos em “John Wick 4”, ofereceu relógios da Rolex, avaliados em mais de 10 mil euros cada um. Na parte de trás, mandou gravar uma mensagem. “Obrigado, Keanu. JW4 2021.” Quando encerrou a trilogia da saga “Matrix” em 2003, Reeves comprou uma dúzia de motas Harley-Davidson para oferecer a alguns dos elementos da equipa.
Nem todos os gestos são traduzíveis em dólares ou euros. Reeves é conhecido por parar tudo o que está a fazer para agradar a um fã, como quando comprou um gelado apenas para poder assinar um autógrafo a um fã na fatura. O gelado foi para o lixo, mas a missão estava cumprida. Ou como quando ajudou um grupo de passageiros presos num aeroporto local depois de uma aterragem de emergência, ao alugar uma carrinha para que todos chegassem ao destino.
Isto apesar de Reeves ter vivido uma vida recheada de dramas, da ausência do pai à morte trágica da namorada num acidente — e da irmã, vítima de uma leucemia, o que levou o ator a doar milhões à luta contra o cancro. Uma história dramática que a NiT já tinha revelado noutro artigo.