Cinema

“Os Espíritos de Inisherin”: estreia agora em Portugal um dos melhores filmes do ano

Está nomeado para 9 Óscares. Colin Farrell, Brendan Gleeson e Martin McDonagh voltam a reunir-se depois de “Em Bruges".
O filme vai estrear nos cinemas.

Tradicionalmente, janeiro e fevereiro são alguns dos melhores meses do ano para ver filmes em Portugal. É nesta altura que estreiam nos cinemas muitas das produções nomeadas aos grandes prémios de cinema, como os Óscares e os Globos de Ouro. Seguindo a tradição, esta quinta-feira, 2 de fevereiro, chega às salas nacionais “Os Espíritos de Inisherin”, um dos filmes mais elogiados do ano, que está a concorrer a nove Óscares — incluindo os de Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Argumento Original e em três categorias de Atores.

A produção marca o reencontro entre os atores irlandeses Colin Farrell e Brendan Gleeson com o cineasta britânico Martin McDonagh, que realizou e escreveu o filme. Os três já tinham trabalhado juntos na comédia criminal “Em Bruges” (2008), o primeiro projeto dirigido por McDonagh. Agora, reúnem-se para outra comédia negra, mas com um sentido mais trágico e dramático. A narrativa de “Os Espíritos de Inisherin” passa-se numa fictícia ilha remota na costa oeste da Irlanda, no ano de 1923, no final da guerra civil — que serve como pano de fundo.

Colin Farrell e Brendan Gleeson interpretam dois amigos de longa data que dão por si num impasse. Gleeson é Colm Doherty, um músico de folclore que de um dia para o outro começa a ignorar a personagem de Farrell, Pádraic Súilleabháin, um agricultor local.

Para Colm, Pádraic até pode ser um bom companheiro de copos no pub, mas é demasiado limitado e imaturo. Preenchido por uma sensação de que a sua vida poderá não durar muitos mais anos, Colm deseja passar o resto dos dias a compor música e a criar uma obra que possa perdurar depois do seu tempo. É um pensador, com uma veia intelectual bastante mais acentuada. Não quer perder tanto tempo com conversas insignificantes que não vão dar a lado nenhum.

À medida que o enredo avança, Pádraic vai sentir-se cada vez mais perturbado com esta rejeição súbita — e vai insistir e insistir, uma e outra vez, junto de Colm, que cada vez terá menos paciência. Outras personagens relevantes nesta narrativa caricata são Siobhán (Kerry Condon), a irmã mais esperta de Pádraic; e Dominic (Barry Keoghan), um rapaz local que só deseja escapar ao brutamontes do seu pai, um polícia alcoólico e abusivo.

Por muitos momentos cómicos que o filme vá tendo, existe um sentimento de melancolia que acaba por dominar a ação, aponta a crítica internacional. Acima de tudo, explora-se o medo de não deixar um legado, de sermos esquecidos quando morrermos. Este é o último capítulo de uma espécie de trilogia de McDonagh, depois das peças de teatro “The Cripple of Inishmaan” (1996) e “The Lieutenant of Inishmore” (2001), outras histórias passadas em ilhas remotas da Irlanda.

No elenco estão ainda nomes como Pat Shortt, David Pearse, Aaron Monaghan, Sheila Flitton, Gary Lydon, Bríd Ní Neachtain ou Jon Kenny, entre outros.

A ligação entre Colin Farrell e Brendan Gleeson

Dois dos mais reputados e conhecidos atores irlandeses são os protagonistas deste filme. A amizade de ambos já se prolonga há mais de 20 anos. Embora ambos sejam naturais da zona de Dublin, são de gerações diferentes — têm 21 anos de diferença. 

Curiosamente, conheceram-se em Nova Iorque, nos Estados Unidos, no conhecido Chelsea Hotel, em 2001. Brendan Gleeson estava a tentar concretizar um filme e gostava de contar com Colin Farrell no elenco — por isso, acabaram por marcar um encontro naquele hotel. A história tem tudo a ver com Martin McDonagh e a trilogia de que “Os Espíritos de Inisherin” faz parte. Isto porque aquele era precisamente o hotel onde estava hospedado o elenco da peça “The Lieutenant of Inishmore”, que estava a ser apresentada na Broadway. Nesse elenco estava Domnhall Gleeson, o filho de Brendan. 

“Eu tinha deixado os copos recentemente, certo? Estava sóbrio há mais ou menos um ano e meio”, recordou Colin Farrell em declarações à CBS. “E ele abriu a porta”, disse, referindo-se a Brendan Gleeson. “Entrámos para o quarto, sentámo-nos, e eu sabia que este homem gostava de uma cerveja de vez em quando. E eu certamente tinha uma reputação, e sabia-se que estava sóbrio há pouco tempo. Ele sabia”.

“Ele disse: ‘Queres uma bebida?’ E ele foi ao mini bar, que parecia que já não trabalhava desde os anos 50, abriu-o e tirou duas garrafas de água. ‘Com ou sem gás?’ E naquele momento, juro por Deus, foi a coisa mais doce. A simplicidade daquele gesto disse-me que este era um homem que cuidava de ti. É um homem que tem consideração pelas pessoas.” Aquele filme acabou por não ir para a frente. Só trabalharam juntos em “Em Bruges”, sete anos depois. 

“Divertimo-nos tanto nesse primeiro”, disse Martin McDonagh ao “Deadline”. “Eu definitivamente queria trabalhar outra vez com os rapazes, mas também havia alguma trepidação, no sentido em que não queríamos fazer nada menos do que o ‘Em Bruges’. Nos anos a seguir à estreia, todos tivemos pessoas a virem ter connosco para nos dizerem o quanto tinham gostado. Tu não queres desapontar essas pessoas, tal como não queres replicar exatamente o que fizeste antes. E se o ‘Em Bruges’ é uma história de amor entre as duas personagens deles, isto é o fim. É o fim do amor”, disse o cineasta, que caracterizou o novo filme como sendo sobre uma separação e os sentimentos em torno disso — mesmo que seja no caso de uma amizade e não de um romance.

“Às vezes é pior do que uma separação romântica. Podes trabalhar por uma relação romântica, e podes perceber porque é que alguém pode já não ter esse amor por ti. Mas numa amizade é muito mais difícil. Vai até à essência de quem tu és. Quando eles saem, quem és tu, depois daquilo? Como é que te vês a ti próprio? Foram algumas das coisas interessantes que explorámos.”

Brendan Gleeson e Colin Farrell chegaram a equacionar manter alguma distância entre si para que ajudasse na construção das personagens, mas rapidamente resolveram não o fazer. “Abordámos isso, eu estava um bocado nervoso com isso”, confessou Colin Farrell à CBS. “Só porque adoro o homem, e estava nervoso. ‘Será que teremos de dar algum espaço um ao outro?’ E depois encontrámo-nos pela primeira vez num par de anos para começar isto e… ‘Será que precisas de um bocadinho de… Vamos fazer um pouco…’ E olhámos um para o outro e foi ‘Bem, não, não precisamos disto’.”

Carregue na galeria para saber onde pode ver outros dos filmes candidatos aos Óscares.

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