Cinema

“Os Fabelmans”: já chegou o filme mais pessoal de Spielberg, e é candidato aos Óscares

Desta vez, o famoso realizador centra-se na história da própria família — e conta como se apaixonou pelo cinema durante a infância.
O filme tem 2h31 de duração.

Steven Spielberg é, sem qualquer dúvida, um cineasta histórico. Talentoso, versátil e comercial (embora também seja respeitado pela crítica), é o autor de sagas e filmes icónicos como “Tubarão”, “E.T. – O Extra-Terrestre”, “A Lista de Schindler”, “O Resgate do Soldado Ryan”, “Indiana Jones”, “Encontros Imediatos de Terceiro Grau”, “Império do Sol”, “Parque Jurássico” ou “Apanha-me se Puderes”, entre tantos outros.

A 22 de dezembro, estreou nos cinemas o seu filme mais pessoal, “Os Fabelmans”. A história é baseada na sua própria infância e adolescência, na relação com os pais e a dinâmica familiar, e no início da sua paixão pelo cinema. Nem tudo aconteceu exatamente tal como é retratado na produção, mas é um guião bastante aproximado da realidade.

A narrativa acompanha o pequeno Sammy, que representa o próprio Steven Spielberg, a partir do início dos anos 50. O seu pai é Burt (Paul Dano), um engenheiro de computadores muito prático e racional; a mãe é Mitzi (Michelle Williams), uma mulher imaginativa e criativa, uma dona de casa que poderia ter sido pianista profissional. Com eles vivem ainda as três irmãs de Sammy.

A família muda de cidade consoante o trabalho de Burt, mas Mitzi é a força emocional que vai moldando a dinâmica da família — alguém que busca sentimentos e entusiasmo, mesmo quando isso pode acarretar um risco. Por exemplo, pega no carro e leva os filhos em direção a um tornado porque o acontecimento é excitante, só se apercebendo depois de que aquilo que estava a fazer poderia ser perigoso.

Aos poucos, o casamento entre os pais vai-se deteriorando, processo que culmina num divórcio — precisamente como aconteceu na vida real de Spielberg. Em simultâneo, Sammy inicia-se na produção de vídeos caseiros com uma câmara que entretanto arranja. Consegue explorar a sua criatividade, criando histórias com as irmãs; mas também é uma forma de poder. É a única forma que tem para que o rapaz mais popular da escola, por exemplo, lhe preste atenção e só aja ao seu sinal, quando ouve a palavra “ação!”. Outra personagem relevante no enredo é um amigo muito próximo da família, Bennie (Seth Rogen).

De acordo com algumas entrevistas que deu, Steven Spielberg hesitou em fazer este filme, mas acabou por sentir a necessidade de o fazer. A ideia já pairava há vários anos — e os próprios pais encorajaram-no a concretizá-la. Apesar de se terem divorciado e de terem formado novas famílias, os dois acabaram por se reaproximar no fim da vida, mantendo uma relação próxima e de afeto.

“Eles até me chateavam: ‘quando vais contar a história sobre a nossa família, Steve?’”, contou o realizador e argumentista à revista “The Hollywood Reporter”. “Isto era algo que os deixava muito entusiasmados.” Depois de os pais morrerem, e após algumas conversas com as irmãs, Spielberg decidiu avançar com o projeto.

“Para mim, o filme é uma forma de trazer a minha mãe e o meu pai. E também me aproximou das minhas irmãs — a Annie, a Susie e a Nancy —, mais do que achava que era possível. Valeu a pena fazer o filme”, disse à “Entertainment Weekly”.

Já em declarações à BBC, admitiu que este era um projeto em que teria de expor as suas vulnerabilidades. “Sou uma pessoa reservada que se tornou pública e não me pude esconder atrás da autoria de outra pessoa, de um livro, de um género ou da história da América.” Desta vez, era mesmo a vida de Steven Spielberg num filme — ele que chamou a isto uma “terapia de 40 milhões de dólares”. As gravações foram bastante emotivas e diversos atores revelaram que Spielberg não conteve as lágrimas em muitas das cenas que filmaram.

No geral, o filme está a ser elogiado pela crítica especializada e venceu o prémio do público no Toronto Film Festival. Está a ser apontado como um dos principais candidatos à próxima edição dos Óscares, além de estar nomeado a vários Globos de Ouro.

“O título do filme aponta para a elaboração de mitos, as histórias familiares que contamos e que podem assumir vidas próprias. No entanto, Spielberg é inflexível quanto ao egoísmo de Mitzi em dividir a família, e quanto à insistência de Burt de que Sammy deveria ser prático sobre uma carreira e deixar de sonhar com filmes. À distância do tempo, Spielberg vê as piores qualidades dos pais com o perdão que faz lembrar a fala clássica de ‘As Regras do Jogo’ de Jean Renoir: ‘Toda a gente tem as suas razões’. Essa enorme generosidade de coração é o que torna ‘Os Fabelmans’ tão entusiasmante”, escreveu, por exemplo, a BBC.

Sammy é interpretado por dois atores, Mateo Zoryan e Gabriel LaBelle, consoante a fase da sua juventude. O elenco inclui ainda nomes como Keeley Karsten, Julia Butters, Judd Hirsch, Sophia Kopera, Jeannie Berlin, Robin Bartlett ou Sam Rechner, entre vários outros.

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