A realizadora Emerald Fennell sabia muito bem o que queria fazer quando filmou “Saltburn”, uma das longas-metragens mais aguardadas do ano. Tornou-se um fenómeno nas redes sociais, muito antes de chegar às salas de cinema internacionais, a 22 de novembro (embora ainda não data de estreia em Portugal).
As cenas explícitas e cruas foram escalpelizadas praticamente frame a frame nas caixas de comentários. A cineasta, porém, afirma que não tinha vontade de chocar, mas exorcizar os fantasmas da pandemia.
“Existe uma linha direta entre os fluidos trocados neste filme e o facto de não nos ter sido permitido respirar o mesmo ar durante quase dois anos”, argumentou, em entrevista à Sky News. “Quero despertar emoções semelhantes à sensação de estarmos num quarto escuro cheio de estranhos, sem saber no que podemos tocar.”
“Saltburn” combina elementos do thriller e da comédia negra e é protagonizado por dois jovens atores, Barry Keoghan (“The Killing of a Sacred Deer” e “Os Espíritos de Inisherin”) e Jacob Elordi (“Euphoria” e “Priscilla”). À dupla talentosa juntou-se uma controversa campanha publicitária — e voilá, foi criada a receita para o sucesso.
As primeiras imagens e sinopses prometiam momentos “explícitos” envolvendo a personagem de Keoghan, desde cenas de dança em nu integral a sexo “gráfico”. O frémito criado antecipadamente nas redes sociais desembocou nas salas de cinema, o que fez com que fosse uma das melhores estreias limitadas do ano.
Com exibições em apenas algumas salas dos Estados Unidos, arrecadou cerca de 290 mil euros no total, gerando um lucro de 41 mil euros por sala. Em comparação, o último lançamento de Wes Anderson, “Asteroid City”, nos mesmos moldes, lucrou 92 mil euros por espaço.
O mais recente trabalho de Emerald Fennell, realizadora responsável por “Promising Young Woman”, acompanha a história de Oliver Quick, um estudante da Universidade de Oxford, com dificuldade em ambientar-se. Tudo muda quando começa a sentir-se atraído pelo mundo do encantador e aristocrático Felix Catton (Elordi).
Felix convida Oliver para passar um inesquecível verão em Saltburn, a extravagante propriedade da família. Aqui, o rapaz desajustado vai mergulhar em experiência únicas, mas também se vai encontrar no centro de segredos familiares desconfortáveis.
O buzz gerado pela série nas redes sociais foca-se, essencialmente, nas cenas mais gráficas. Numa delas – que já se tornou infame online, mesmo entre quem ainda não viu o filme – Oliver surge a lamber o sémen de Felix (Elordi) do ralo de uma banheira.
“É um filme inteiramente sobre o desejo e a cobiça, em todas as manifestações imagináveis. Esse espectro de possibilidades é muito importante para aquilo que queria transmitir”, disse, referindo-se à expressividade queer da longa-metragem.
Contudo, nem todos são fãs desta abordagem da cineasta. “‘Saltburn’ é chocante apenas pela sua infantilidade”, escreveu Justin Chang, no “Los Angeles Times”.
“Fennell é adepta do pastiche e, pelo menos, deu-se ao trabalho de procurar referências que valem a pena ser citadas. Mas é um filme totalmente superficial, sem nada perspicaz a dizer”, argumentou David Rooney, do “The Hollywood Reporter”.
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