O novo filme de Steven Spielberg, “Os Fabelmans”, estreou nos cinemas na passada quinta-feira, 22 de dezembro — e é provavelmente a produção mais pessoal da carreira do famoso cineasta. Baseia-se na sua juventude, nas dinâmicas da sua família e na forma como se apaixonou pelo cinema e iniciou as primeiras experiências de câmara na mão.
O filme deverá ser um dos grandes candidatos à próxima edição dos Óscares e é o pretexto ideal para recordarmos uma história pouco conhecida do percurso de Steven Spielberg — ele que é o autor de sagas e filmes icónicos como “Tubarão”, “E.T. – O Extra-Terrestre”, “A Lista de Schindler”, “O Resgate do Soldado Ryan”, “Indiana Jones”, “Encontros Imediatos de Terceiro Grau”, “Império do Sol”, “Parque Jurássico” ou “Apanha-me se Puderes”, entre tantos outros.
No final dos anos 90, após o enorme fenómeno de popularidade em torno dos livros de “Harry Potter”, a Warner Bros. preparava a adaptação deste universo mágico ao cinema. Steven Spielberg terá sido a primeira escolha dos estúdios, que já trabalhavam com o cineasta há bastante tempo.
Spielberg fez mesmo parte do projeto durante cinco ou seis meses, só que as suas ideias acabaram por chocar com as intenções da Warner Bros. O realizador desejava fazer um filme animado e não uma produção de imagem real, com atores de carne e osso.
Na altura, Spielberg estava muito entusiasmado com o cinema de animação — tinha fundado os estúdios Amblimation, especializados nessa vertente, e tinha sido o produtor executivo da série “Animaniacs”. A Pixar estava em grande e era muito influente em Hollywood.
Além disso, Spielberg desejava fundir vários livros de “Harry Potter” num só filme, o que hoje pode soar muito estranho para inúmeros fãs — visto que a saga acabou por ser construída partindo da premissa de um filme por livro, exceto “Os Talismãs da Morte”, que foi repartido em duas produções distintas.
Alegadamente, Spielberg também desejava que a personagem de Harry Potter — o grande protagonista — fosse interpretada por Haley Joel Osment. Na altura, o jovem ator tinha brilhado em “O Sexto Sentido” e acabaria mesmo por trabalhar com Spielberg em “A.I. Inteligência Artificial” (2001). Só que a Warner Bros., que acabaria por escolher Daniel Radcliffe, queria mesmo que todo o elenco principal fosse britânico.
Outro pormenor que poderá ter sido relevante para a forma como as coisas se desenrolaram é que Steven Spielberg tinha fundado naquela altura o estúdio DreamWorks SKG. Apesar de não lhe faltarem projetos (quase todos os seus filmes entre 1997 e 2007 tiveram a participação da DreamWorks SKG), o estúdio precisava de produções grandes.
Neste caso, a Warner Bros. não estava disposta a partilhar os lucros daquele que seria, muito provavelmente, um estrondoso êxito de bilheteira. Se a DreamWorks SKG tivesse feito parte do projeto, provavelmente Spielberg poderia ter insistido para continuar a fazer parte da adaptação.
Depois de Steven Spielberg abandonar a preparação do primeiro filme de “Harry Potter”, a Warner Bros. equacionou várias hipóteses, mas acabou por estabelecer uma parceria com Chris Columbus — que, curiosamente, havia colaborado com Spielberg ao longo do seu percurso. Columbus tinha escrito os guiões de “Gremlins” e “Os Goonies”, ambos filmes produzidos por Spielberg, e ficou com a missão de realizar os primeiros dois filmes de “Harry Potter”. Já Steven Spielberg acabou por ficar com o tal filme de “A.I. Inteligência Artificial”, a que estava associado há algum tempo, desde que a pasta lhe fora passada pelo icónico Stanley Kubrick. O filme só estreou nos cinemas em 2001, dois anos após a morte de Kubrick.
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