Os últimos minutos da vida de Anne Heche foram um puro terror. A atriz norte-americana morreu a 11 de agosto de 2022, na sequência de um acidente de carro bizarro que tinha acontecido apenas uma semana antes. Heche tinha 53 anos.
Apesar da morte, os últimos projetos em que a atriz tinha participado continuaram a ser lançados de acordo com o calendário de estreias dos estúdios. Foi assim, por exemplo, com “Girl in Room 13”, que chegou aos cinemas a 17 de setembro daquele ano. Agora, vai acontecer o mesmo nas salas de cinema portuguesas, esta quinta-feira, 1 de fevereiro, com “Super Tornado“. O filme foi realizado por Herbert James Winterstern e as gravações decorreram no verão de 2021, na Georgia, nos EUA.
A história acompanha William Brody (Daniel Diemer), um estudante que se foca mais em perseguir furacões do que nos estudos. Este fascínio faz sentido, porque o seu pai tinha esta atividade perigosa como passatempo favorito — e acabou por ser esta a causa da sua morte.
Como seria de esperar, Quinn, a sua mãe (interpretada por Anne Heche), odeia, e com razão, este hobby, Ao longo da vida, tem tentado de tudo para que William não seguisse o fascínio do pai — um esforço que nunca teve sucesso.
No filme, o protagonista parte na aventura mais desafiante da sua vida, ao lado de Roy Cameron (Skeet Ulrich), o antigo parceiro do pai. Durante o percurso, descobre que o legado do seu progenitor está a ser usado por uma empresa turística de caçadores de tempestades. O negócio é liderado por Zane Rodgers (Alec Baldwin), que usa William como chamariz para levar grupos de corajosos a aproximarem-se perigosamente dos furacões.
Para a produção, Herbert James Winterstern inspirou-se nos grandes clássicos dos anos 80, como “E.T.”. Isto verifica-se na própria trilha sonora criada por Corey Wallace, que replica a nostalgia do êxito de Steven Spielberg.
“Desde o início que soube como é que queria que este filme fosse. Tinha de ter muito presente aquele sentimento de regresso ao passado”, conta o cineasta ao site Movie Web.
Embora, na vida real, o seu pai não fosse um caçador de tempestades, o realizador tentou replicar a admiração que tinha por ele na narrativa de “Super Tornado”. Outra figura impactante para este filme foi a mãe de Herbert, que tinha Alzheimer. “Ela ajudou a tornar o meu pai no homem que era, e eu tentei retratar a relação deles neste projeto. Não me foquei em criar um espetáculo, mas sim em trazer histórias e personagens com as quais as pessoas se conseguem identificar”.
O valor exato do orçamento não é conhecido — apenas sabemos que é “uma fração de 50 milhões de dólares”. Para conseguir criar uma obra boa com o valor que tinha disponível, a produção optou por não recorrer a efeitos especiais. Para as cenas que decorriam ao pé dos furacões, por exemplo, usaram máquinas de vento.
“Acho que os atores gostaram disto, porque fez com que se lembrassem de uma época mais antiga do cinema. Foi um gatilho positivo”.
Uma das maiores fãs desta abordagem clássica foi a atriz Anne Heche. “Ela divertiu-se imenso durante as gravações”, recorda o realizador. Foi a primeira vez que trabalharam juntos, mas criaram logo uma relação próxima — e até aos dias de hoje, Winterstern só tem elogios.
“Ela era uma das grandes estrelas do cinema, e sabia muito bem conversar com as pessoas”, começa por explicar. Quando falaram ao telemóvel pela primeira vez, recorda-se de que a atriz passou oito minutos a falar da decoração da sua casa.
“Senti que estava a falar com uma melhor amiga, e parecia que lhe podia dizer tudo que não seria julgado. Conseguia quebrar o gelo e estar realmente presente nas conversas”, descreveu à mesma fonte.
Segundo o realizador, Anne Heche manteve sempre uma ligação à terra, sem que a fama alterasse a sua personalidade. “Ela tratava de forma igual um fã que lhe pedia uma fotografia na rua, um assistente de produção e um realizador. Respeitava toda a gente. E acho que isso diz muito sobre a pessoa que ela era. É uma tragédia a forma como a perdemos. Tinha tanto amor à volta dela”.
Apesar do elenco de luxo, “Super Tornado” não foi muito bem recebido pelos críticos. No Rotten Tomatoes, tem uma avaliação de 50 por cento. “Quando os céus não têm nuvens, este thriller de revirar os olhos sobre caçadores de tempestades do Texas perde o seu impacto”, escreve o “Cinemalogue”.
“Quando Baldwin e Heche aparecem no ecrã, é claro que eles são os grandes profissionais do filme, e isto fez com que aguardássemos as suas próximas cenas com expectativas. Fora isso, a produção é um desastre”, acrescenta o site “Third Coast Review”.
A trágica morte de Anne Heche
Há dois anos, a 5 de agosto, Anne Heche conduzia um Mini Cooper azul a alta velocidade quando bateu contra uma garagem num bairro de Los Angeles, nos Estados Unidos. Antes que os moradores, alertados pelo estrondo do embate, a conseguissem ajudar, a atriz fez inversão de marcha para fugir.
Porém, poucos minutos depois, embateu contra um Jaguar e seguiu caminho (todos os envolvidos saíram ilesos). Passado pouco tempo, veio o acidente que acabaria por vitimar Anne. Estava a acelerar numa rua apertada de Mar Vista (LA) quando, pelas 10h56, foi contra um edifício, tendo perfurado a parede com o veículo e, consequentemente, ficado presa numa casa que estava a arder.
O primeiro camião dos bombeiros chegou cinco minutos depois. Os paramédicos conseguiram salvar uma pessoa do edifício em chamas, mas não era Heche. Na verdade, naquele momento, nem sabiam que ela estava lá. “Já não temos mais pacientes”, disse um dos profissionais às 11h18, numa gravação à qual a NBC Los Angeles teve acesso.
Porém, estavam errados. “Afinal, temos aqui outra vítima”, ouviu-se, poucos minutos depois. A atriz estava desmaiada e escondida, entre os destroços, as chamas e o fumo. Quando finalmente os bombeiros conseguiram controlar o fogo à sua volta, socorreram-na pelas 11h49 e retiraram o veículo daquele inferno com um reboque. Heche foi transportada para o o centro médico Ronald Reagan e, depois, transferida para o hospital de West Hills.
Nunca recuperou a consciência após ter entrado em coma. O seu coração continuava a funcionar graças às máquinas, mas o seu cérebro não tinha qualquer tipo de atividade. Após retirarem alguns dos órgãos para doação, desligaram o equipamento. Anne morreu oficialmente a 11 de agosto.
A 6 de dezembro, o Mégico Legista do Condado de Los Angeles anunciou os resultados da autópsia da estrela de 53 anos, revelando que não tinha drogas ativas no sistema sanguíneo na altura em que teve os acidentes.
Foram encontrados, porém, vestígios de cocaína quando chegou ao hospital, o que indica que tinha usado substâncias ilícitas poucos dias antes. Também forma encontrados canabinoide e fentanil, que tinham sido usados durante o tratamento.
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