Robert De Niro foi novamente o protagonista de uma conversa no Tribeca Festival Lisboa, ao lado da produtora Jane Rosenthal. O tema da talk deste sábado, 19 de outubro, era “Criar Histórias que Sobrevivem ao Teste do Tempo numa Sociedade que Está em Constante Mudança”. No entanto, o tópico passou rapidamente para a política e, depois de várias perguntas, o público começou a ficar saturado. “Estamos aqui para falar de cinema, não de política”, gritou um espetador. O ator sorriu e concordou: “Estou aqui para falar de cinema e não de política.”
Mesmo assim, antes deste episódio, ainda respondeu a algumas questões do jornalista Bernardo Ferrão que abordavam, sobretudo, Donald Trump. Quando questionado sobre o porquê de o “odiar tanto”, o vencedor de dois Óscares afirmou que “uma pessoa como ele não devia sequer estar perto da presidência”. “Os americanos acham que caso ele chegue ao poder, vão conseguir controlá-lo, mas já vimos historicamente que não é isso que acontece.”
Bernardo Ferrão perguntou depois ao ator se ele acreditava que problemas como o controlo da fronteira com o México e a crise da habitação nos EUA davam impulso à candidatura de Trump. Visivelmente aborrecido, De Niro disse que não estava a perceber a questão — e foi aí que o membro do público chamou à atenção sobre o verdadeiro tópico da conversa.
Embora tivesse ocupado grande parte do tempo, a política não foi o único tema abordado. Ao longo de aproximadamente uma hora, Robert, de 81 anos, e Jane Rosenthal, de 68, falaram sobre o estado atual de Hollywood e os segredos para se criarem histórias que conseguem sobreviver ao teste do tempo. “Temos de ser fiéis ao que acreditamos quando estamos a criar um filme”, comentou o ator.
Jane, contudo, diz que não há uma resposta e os produtores nunca sabem o que realmente vai perdurar. A norte-americana deu o exemplo de “Um Bairro em Nova Iorque”. Lançado em 1993 com Chazz Palminteri no papel principal, foi a primeira obra realizada por De Niro — que também é co-protagonista. “Quando saiu no cinema, ninguém o viu e foi um flop. 30 anos depois, está em todas as plataformas de streaming, é citado diariamente e as pessoas adoram-no. É impossível saber o que se vai tornar num clássico”, diz a norte-americana. Robert acrescenta: “E o que é um clássico para uns, pode não o ser para outros.”
Mesmo assim, o ator garante que quando um filme é realizado por Martin Scorsese, as probabilidades de se tornar num êxito são substancialmente maiores. Basta olharmos para a filmografia de De Niro para perceber que isto é verdade. Ao longo da carreira, já trabalhou dez vezes com o cineasta, em projetos como “O Irlandês”, “O Cabo do Medo”, “Taxi Driver” e “O Touro Enraivecido” — que lhe rendeu um Óscar. “Soube logo que eram filmes especiais e, para nós, eram muito pessoais. Mesmo que não fossem sucessos comerciais, não haveria problema”, garante.
Além do realizador, outro fator importante para um filme é sempre o orçamento. Quando este é mais limitado, torna-se difícil concretizá-lo, assegura o norte-americano. Apesar disso, é possível criar obras com importância mesmo com um budget reduzido. Como exemplo, o ator fala de “Ezra”.
A obra de 2023 acompanha a história de Max Bernal, um humorista de stand-up que vive com o pai enquanto tenta coeducar, com a sua ex-mulher, o seu filho autista. “Um dos meus filhos está no espetro e havia outras pessoas da equipa que estavam na mesma situação. Todos com quem trabalhei tinham muito carinho por esta história e isso foi uma grande ajuda.”
Pouco antes do final da conversa, Bernardo Ferrão perguntou a Robert e Jane se alguma vez tinham visto um filme português, que muitas vezes também têm orçamentos bastante limitados. Ambos bufaram e riram-se, o que deixou claro a resposta: não. “Quando voltar no próximo ano garanto que já terei visto alguns”, disse De Niro. “Absolutamente”, concordou Rosenthal, com quem criou o Tribeca Film Festival em 2002.
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