Gosto de chamar-lhe a outra montanha que o Pico tem. Agente cultural de excelência, emigrou muito novo para o Canadá, onde cresceu e trabalhou em grandes teatros e produções. De regresso à ilha para cuidar dos pais, sem sequer dominar bem a língua dos progenitores, Terry Costa rapidamente se tornou no furacão pacífico que transformou a ilha do Pico — com pouco mais de 14 mil habitantes — num epicentro cultural capaz de, em 13 anos de sucessivas temporadas e eventos, já ter atraído quase três mil artistas do mundo inteiro à segunda maior ilha açoriana em termos de área, e território místico onde habita o ponto mais alto de Portugal.
O Terry, força da natureza, empreendedor, sorridente, ou está num festival, a planear ou promover um evento, ou a angariar verba, ou a construir algo com artistas, ou a escrever e publicar livros ilustrados.
Trouxe o Fringe Festival para os Açores, criou o Encontro Audiovisual Açoriano, promove os projetos SOLO9VIOLA (nomeado para os Iberian Awards) e os Sorrisos de Pedra, de Helena Amaral; organiza o AnimaPix, a Música no Forte, o Montanha Pico Festival, o LavaDias (cinema ao ar livre), e prepara novo livro para a coleção Néveda Ent, com a ilustradora Vera Bettencourt.
No meio de tudo isto ainda conseguiu fazer jurisprudência e humilhar em tribunal um autarca patético que lhe lançara um insulto homofóbico. Mas disso, o Terry nem gosta de falar. Criar, produzir, divulgar, estabelecer pontes entre as ilhas e o mundo é o que lhe interessa exclusivamente. E consegue ainda inventar tempo para o Cordas World Music Festival, de músicas do mundo e projeto cultural artístico nos Açores com mais prémios internacionais.
Fulgurante, a trabalhar para plateias que vão das crianças aos cidadãos seniores, o Terry não sabe parar. Mais recentemente, com o apoio dos três municípios da ilha, criou o Prémio Curta Pico, que atribui 10 mil euros ao projeto vencedor e cujo lançamento da segunda edição está para breve. E conseguiu levar por diante a organização dos primeiros P.A.A. Awards, prémios destinados a celebrar o melhor que se faz no audiovisual açoriano.
Felizmente para os Açores e a sua cultura, ainda bem que ele não sabe parar, que existe, resiste e persiste.
Um produtor de Hollywood está louco para fazer um filme sobre a tua vida, mas falta convencer o estúdio, que só avança se for o Spielberg a realizar… ora sucede que dás por ti num elevador com o sôr Steven. Como venderias o teu peixe?
Lembra-se da era do “E.T.”, sôr Steven? Que tal voltarmos a esses níveis de criatividade e audiência? Tenho a história certa, no local certo. Eu, os Açores, e uma vida bem vivida em que já morri duas vezes, fui atropelado pela polícia (numa passadeira, junto ao Teatro Nacional D. Maria), perdi anos de memória, desapareci e não sei onde fui… e cada cena na sua era e nenhuma dessas coisas aconteceu sequer no palco. Interessado? Assine aqui, por favor.
Qual foi o dia profissionalmente mais feliz da tua vida e porquê?
Quando a “meia-idade” bateu, decidi começar de novo. Atravessei o Atlântico com duas caixas de livros e uma mala de roupa, e deixei mais de duas décadas de “tralha” para trás…
O que poderia Portugal Continental aprender com os Açores?
A ser insular e apreciar o vizinho.
De que forma o carácter atlântico, a açorianidade, o ser ilhéu influencia o teu processo criativo?
É uma fonte de inspiração quando nos deixamos levar pela natureza e fechamos a torneira às imagens exteriores. Aprender a amar a bruma, o nevoeiro, a humidade, as quatro estações num dia, alimenta a mente para a criação.
O maior disparate que já ouviste sobre as ilhas é?
Vivem pessoas aí? As pessoas voam para fazer o festival?! — perguntas de um artista que ficará anónimo. Ele lá acabou por vir uma vez e percebeu que, sim, há gente na ilha e não é como o canal National Geographic apresentou, só natureza.
Que crime cometerias se não houvesse castigo?
Apagava a inveja.
Como reage a tua família à tua profissão?
?!?
Aquele sonho por realizar é?
O que ainda não sonhei.
Qual é o sentido da vida?
O sentido é vivê-la sem algemas interiores.
Restaurante?
Cella Bar, no Pico e Manézinho, em São Jorge.
Vista?
Forte de Santa Catarina com a montanha do Pico descoberta, ou olhar para a montanha a partir do Lajido de Santa Luzia.
Banhos/zona balnear?
No “Fim do Mundo” – é só para quem sabe!
Ritual/tradição?
Antes de dormir ou depois?
Artista referência ou que admires (nas ilhas, vivo ou morto)?
Natália Correia.
Obrigatório visitar (museu, associação, teatro, bar ou outro)?
MiratecArts Galeria Costa, na freguesia da Candelária, concelho da Madalena, ilha do Pico, Açores. É só colocar no Google Maps.