Cinema

Tommy Wiseau: o louco que pode dar um Óscar a James Franco

"Um Desastre de Artista" estreia esta semana e conta a história verídica de um realizador excêntrico e contraditório que fez um dos piores filmes de sempre, "The Room". 

Tommy Wiseau, o verdadeiro e o fictício.

“The Room” é tão mau, tão mau, que acabou por se transformar em filme de culto, com fãs de todo o mundo a juntarem-se em visionamentos vestidos como as personagens desta história bizarra e sem nexo de 2003. O projeto de Tommy Wiseau e todos os acontecimentos surreais dos bastidores transformam-se agora num novo filme, “Um Desastre de Artista”, que estreia em Portugal esta quinta-feira, 4 de janeiro. 

James Franco realizou e protagonizou a adaptação para cinema que se inspira em “The Disaster Artist: My Life Inside The Room, the Greatest Bad Movie Ever Made”, um livro escrito por Greg Sestero, amigo de Wiseau e colaborador em “The Room”. Alguns críticos dizem que este é o melhor papel de sempre de Franco e que os Óscares estão no horizonte. Por enquanto, há em jogo duas nomeações para os Globos de Ouro, como Melhor Filme — Musical ou Comédia e Melhor Ator — Musical ou Comédia, e um prémio SAG.

O fenómeno “The Room” não foi só ditado pela fraca história e pior realização mas também por todos os mistérios em torno de Tommy Wiseau. Ninguém sabe bem a idade dele, de onde vem ou como arranjou tanto dinheiro — nas primeiras semanas o filme fez 1494 euros de lucro contra um investimento de 4,98 milhões de euros, tudo suportado por ele.

As filmagens foram caóticas. Nos estúdios da produtora Bims & Sawyer, em vez de alugar o material, insistiu em comprar tudo ele próprio. Aparecia tarde e tratava mal a equipa, chegando a não lhes arranjar sequer água para beber. Usava dois cintos, óculos escuros, pintava constantemente o cabelo de perto e era obcecado com hidratação.

Ao longo dos anos foi contando histórias loucas e claramente inventadas sobre a sua vida, mudando detalhes, datas e sendo evasivo. A NiT reuniu o (pouco) que se sabe sobre Tommy Wiseau.

Um cidadão do mundo?

Várias entrevistas, várias versões. Já disse que viveu em França “há muito tempo”, que cresceu em Nova Orleães ou que tinha uma “família inteira” em Chalmette, no estado do Louisiana.

Um documentário de 2016, “Room Full of Spoons”, Rick Harper revelou que Wiseau era polaco e da cidade de Poznan. Ele nunca confirmou exatamente esta informação mas admitiu que era “originalmente da Europa”. Disse que falava francês e era católico. Recentemente, no programa de Jimmy Kimmel, deu nova explicação

“As pessoas perguntam-me: ‘De onde vens?’ Sabem? Portanto, o que querem fazer? Que país escolhes? Um, sabes, eu escolho Nova Orleães.” Ficou esclarecido? Nós também não.

Em “The Room”.

A idade

Garantiu que tinha nascido em 1968  ou então 1969 (ele próprio não sabe bem) mas, no livro de Sestero, o autor chegou à conclusão de que ele seria bem mais velho e que teria nascido na década de 50. Segundo a pesquisa de Rick Harper, o ano correto terá sido 1955, o que faz com que Wiseau tenha atualmente 63 anos.

A viagem para os Estados Unidos

No final da adolescência terá passado por Estrasburgo, França, onde lavava pratos num restaurante e pedia que lhe chamassem Pierre. Terá sido detido, por engano segundo ele, depois de uma rusga no hostel onde estava e, por isso, decidido mudar-se para os Estados Unidos. Instalou-se com os tios numa quinta em Chalmette.

De vendedor de brinquedos a milionário

Do Louisianna para São Francisco, passou a vender brinquedos a turistas. Por esta altura, garantiu ele, formou-se em psicologia no Laney Community College, em Oakland. Ainda assim, de acordo com Greg Sestero, teve vários trabalhos em São Francisco, desde copeiro num restaurante a funcionário de um hospital. Começou também a vender calças de ganga com defeito e afirmou que foi com tudo isto que ganhou muito dinheiro muito depressa. 

O verdadeiro nome

Durante a tal carreira de vendedor de brinquedos, terá ficado conhecido como “the birdman” (o pássaro), o formato do que vendia, e nessa altura terá adotado o nome Wiseau — usando o final da palavra “oiseau”, pássaro em francês, e juntando-lhe um “w”. Problema: se este foi um apelido escolhido por ele, também ninguém sabe qual era o original. Um utilizador do Reddit dedicou-se a uma pesquisa intensa e descobriu que o nome de família dos tios do Louisianna era Wieczor.

A publicidade compensou.

O dinheiro para o filme

O mistério mantém-se. Ninguém sabe de onde surgiram os quase cinco milhões necessários para produzir “The Room” e na altura chegou a falar-se de lavagem de dinheiro de um qualquer grupo criminoso. Contudo, Sestero explicou que isso era “pouco provável”, embora não elaborando muito mais. Outra versão diz que ele recebeu uma avultada indemnização após um acidente de carro. Não há registos de que isto tenha realmente acontecido, apesar de Tommy Wiseau ter estado internado — uma “experiência de quase morte” que o levou a perseguir o sonho de Hollywood. O próprio James Franco está fascinado com toda a história.

“Havia um cartaz gigante em Los Angeles durante uns cinco anos pelo qual ele [Wiseau] deve ter pago milhares de dólares e é a coisa mais assustadora alguma vez vista, com aquele olho preguiçoso a olhar para nós. Parece a publicidade de um culto”, disse no Festival de Cinema de Toronto. No entanto, a longo prazo o investimento compensou. “[‘The Room’] passa em quase todas as grandes cidades pelo menos uma vez por ano. Penso que chegámos à conclusão de que ele deve fazer entre 415 mil euros e 830 mil euros por ano”, contou James Franco. 

O envolvimento em “Um Desastre de Artista”

Tommy Wiseau achou que James Franco seria perfeito para interpretá-lo, assim como Dave Franco no papel de Greg Sestero. Mais: o próprio tem uma pequena participação nos créditos como Henry, uma personagem que interage com Wiseau (o fictício).

Novo projeto a caminho

Vampiros e palhaços malvados ressuscitados juntam-se em “Best F(r)iends”, um projeto que volta a ter Tommy Wiseau e Greg Sestero. A estreia está prevista para 2018 e vai beneficiar da publicidade de “Um Desastre de Artista”. Como se não bastasse um filme, já está em fase de pós-produção “Best F(r)iends: Volume Two”. 

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