Bastou uma única entrevista para que “O Brutalista” passasse de um dos mais elogiados de 2024 a um dos mais criticados. Tudo por culpa do uso de inteligência artificial na fase de produção. O filme, que ainda assim, esta quinta-feira confirmou as impressionantes 10 nomeações para os Óscares, acaba de chegar aos cinemas nacionais .
O protagonista é Adrien Brody, que interpreta László Tóth, um arquiteto húngaro de raízes judaicas que sobreviveu ao Holocausto e que chega aos Estados Unidos para começar uma nova vida. Ao mesmo tempo, aguarda pela chegada de Erzsébet, a mulher retida na Europa de Leste com a sobrinha.
O que László encontra é uma América muito diferente daquela com que contava. E a promessa do sonho americano revela ser apenas uma ilusão. A reputação como arquiteto de sucesso em Budapeste é inútil na Pensilvânia industrializada. László e Erzsébet suportam a pobreza e a indignidade, mas o génio do arquiteto acaba reconhecido pelo industrial Harrison Lee Van Buren, que o encarrega de projetar um grande edifício modernista. Será o projeto mais ambicioso da carreira e vai ter de equilibrar a sua visão intransigente com a influência do patrono.
O filme, que já conquistou três Globos de Ouro e caminha seguro para uns Óscares de sucesso, está agora no centro de uma polémica, desde que Dávid Jancsó, um dos editores da produção, revelou à revista de tecnologia “Red Shark News” que tinha sido utilizada inteligência artificial, sobretudo para melhorar a autenticidade dos diálogos em húngaro dos protagonistas Adrien Brody e Felicity Jones.
“Sou falante nativo de húngaro e sei que é uma das línguas mais difíceis de aprender a pronunciar”, afirmou Jancsó. “É uma língua extremamente única. Treinámos [Brody e Jones] e eles fizeram um trabalho fantástico, mas queríamos aperfeiçoar ao ponto de nem mesmo os locais conseguirem notar qualquer diferença.”
De acordo com Jancsó, algumas palavras são particularmente difíceis de pronunciar, por isso os cineastas “tentaram gravar estas partes mais complicadas com os atores” para superar essa dificuldade. “Depois tentámos gravá-las completamente com outros atores, mas simplesmente não funcionou. Assim, procurámos outras opções para melhorar.”
Brody e Jones gravaram as suas vozes no software de IA e Jancsó introduziu a sua própria voz no sistema para “aperfeiçoar os dialetos mais complicados.” “A maior parte do diálogo em húngaro deles tem um pouco da minha voz misturada”, acrescentou. “Fomos muito cuidadosos em preservar as interpretações dos atores. Apenas substituímos algumas palavras aqui e ali.”
Além disso, o editor revelou que a inteligência artificial generativa foi utilizada na cena final de “O Brutalista” para criar uma “série de desenhos arquitetónicos e edifícios concluídos” no estilo de László Tóth, a personagem de Adrien Brody.
Apesar de Jancsó garantir que o uso desta tecnologia foi bastante reduzido, as redes sociais atacaram a decisão e pediram um boicote à produção. Houve até quem acusasse de hipocrisia uma eventual nomeação aos Óscares que acabou por acontecer; isto porque a banda sonora de Hans Zimmer para “Dune: Parte Dois” ficou desqualificada da corrida por utilizar elementos da música do primeiro filme.