Televisão

De refugiado a estrela da televisão: a jornada de Pedro Pascal até Hollywood

É a estrela de “The Last of Us” e “The Mandalorian”, depois de ter brilhado em “Narcos” e participado em “A Guerra dos Tronos”.
Tem 47 anos.

Nos últimos anos, Pedro Pascal tem-se afirmado como um dos grandes nomes no mundo das séries de televisão. Brilhou em “A Guerra dos Tronos”, embora por pouco tempo, ao interpretar Oberyn Martell — cuja morte se tornou numa das mais famosas de sempre na série da HBO. Pouco tempo depois, foi contratado pela Netflix para ser uma das principais estrelas de “Narcos”, a série que conta a história real de Pablo Escobar e do tráfico de droga na Colômbia. Pedro Pascal interpretava o agente da DEA Javier Peña, figura central no enredo.

Em 2020, tornou-se a estrela de “The Mandalorian”, a primeira série em imagem real do universo de “Star Wars”, e um dos principais destaques da Disney+. A terceira temporada estreia na plataforma de streaming a 1 de março.

Além disso, Pascal está em grande destaque ao protagonizar com Bella Ramsey a série do momento, “The Last of Us”. A adaptação televisiva da HBO, a partir do famoso videojogo, relata a história dos sobreviventes de uma pandemia provocada por um fungo — que essencialmente transforma as pessoas em zombies e alterou drasticamente toda a vida na Terra, levando ao fim da civilização como a conhecíamos. 

A série tem sido amplamente elogiada, tanto pela crítica como pelo público, como provam as audiências. A segunda temporada já está confirmada e têm sido muitas as surpresas e os pontos a favor — sendo que o desafio seria sempre ser original e marcar pela diferença, tendo em conta que não faltam narrativas relacionadas com zombies e mundos pós-apocalíticos nos últimos anos.

Pedro Pascal só se tornou famoso numa fase mais tardia da carreira e da vida — o ator já tem 47 anos. E nem sempre tudo lhe foi assim tão fácil. Nascido em Santiago do Chile, numa altura de turbulência no país sul-americano, os seus pais e outros familiares eram apoiantes do regime socialista do presidente Salvador Allende, que tinha sido eleito em eleições livres.

O governo de Allende foi derrubado em 1975 pelo exército chileno, liderado pelo general Augusto Pinochet, com o apoio da CIA, que instaurou uma ditadura militar, perseguindo, raptando, torturando e assassinando os opositores políticos. Milhares de chilenos fugiram do país e alguns deles foram a família de Pedro Pascal — cujo nome completo é José Pedro Balmaceda Pascal.

Os pais tinham ajudado alguns amigos opositores a esconderem-se e tinham participado nalgumas ações contra o regime de Pinochet. Dirigiram-se até à embaixada venezuelana, onde fizeram um pedido de asilo, como tantos outros refugiados políticos que tentavam escapar da opressão. A família de Pedro Pascal esteve algum tempo na Dinamarca, onde foi acolhida, até regressar às Américas, fixando-se de forma permanente nos Estados Unidos. 

Pedro Pascal com os irmãos.

Pedro Pascal era apenas uma criança. tinha três ou quatro anos. O seu pai era médico especialista em fertilidade, a mãe era uma antiga psicóloga infantil. Pedro tinha uma irmã. Eram de classe média e conseguiram ter uma vida confortável nos EUA. Pascal cresceu entre Orange County, na Califórnia, e San Antonio, no Texas. Os pais acabaram por ter mais dois filhos, já nascidos no novo país.

O seu pai costumava levar a família ao cinema — às vezes a duas ou três sessões por semana — e isso fez com que Pascal começasse a adorar a arte da representação, como revelou numa entrevista à revista “Time”. “Esta fantasia de eu me tornar ator? Posso culpar o meu pai por isso. A minha família agora não consegue acreditar, o meu pai está muito impressionado.”

Pedro Pascal também era um ótimo nadador. Por volta dos 11 anos participava em várias competições de natação. No entanto, decidiu interromper o percurso desportivo quando começou a fazer aulas de representação, ainda no início da adolescência, que lhe tiravam bastante tempo.

Aos poucos, a família também foi regressando ao Chile com alguma regularidade ao longo dos anos. Em 1995 — quando Pedro Pascal já tinha 20 anos — os seus pais e irmãos mais novos mudaram-se definitivamente para o seu país-natal.

Há quem diga que o seu pai, Jose Balmaceda, fugiu dos EUA depois de um escândalo que envolveu a clínica de fertilidade que geria com dois outros médicos em Orange County. Foram acusados de alegadamente terem usado óvulos de pacientes noutras mulheres. Pedro Pascal sempre alegou que o seu pai não fez nada de errado. A mãe morreu pouco tempo depois de voltarem ao Chile. Atualmente, um dos seus irmãos está a estudar para ser médico e o outro, Luca Balmaceda, também é ator.

Ainda nos anos 90, e com o objetivo de seguir uma carreira na representação, Pedro Pascal estava a morar em Nova Iorque, num apartamento minúsculo que dividia em Manhattan com a irmã — que também ficou a viver nos EUA. Pascal estudava representação na Tisch School of the Arts, da Universidade de Nova Iorque.

Curiosamente, ainda durante a faculdade, Pascal fez um trabalho de investigação antropológica em Madrid, em Espanha, durante alguns meses. Pascal gostou tanto da cidade que decidiu ficar mais dois meses depois de concluir o seu trabalho. E chegou a ter um emprego temporário como bailarino em discotecas da capital espanhola, um tempo que recordou com nostalgia numa série de entrevistas conduzidas em Espanha em 2017.

Em Nova Iorque, começou a trabalhar em teatro, enquanto tentava ir conseguindo castings para fazer papéis na televisão. Nesse período da sua vida, e como tantos outros atores, teve de equilibrar os seus sonhos com os empregos para pagar as contas. Trabalhou como empregado de mesa, por exemplo. 

Quando terminou a faculdade, foi para Los Angeles para tentar furar na indústria de Hollywood. As coisas não correram bem, por isso, regressou a Nova Iorque e apostou no teatro — área da representação onde se tornou reconhecido, tanto enquanto ator como, mais tarde, enquanto encenador, tendo já vencido vários prémios pelo seu trabalho nos palcos.

Pedro Pascal em “Buffy, Caçadora de Vampiros”

Aos poucos, foi tendo papéis na televisão — pequenas participações que lhe davam tanto dinheiro como uma temporada inteira na Broadway. Apareceu em “Buffy, Caçadora de Vampiros” ou em “Touched by an Angel” e durante muitos anos fez poucas coisas na área, trabalhando sobretudo em teatro.

Mais tarde, a partir de 2008, participou em episódios de séries como “Sem Rasto”, “CSI: Crime Sob Investigação”, “Segurança Nacional” e “Lei & Ordem”. Muitas vezes eram participações de apenas um episódio — só em “The Good Wife” é que fez seis capítulos.

Durante vários anos, a carreira regular de Pedro Pascal foi no teatro, daí que tenha continuado sempre a viver em Nova Iorque. Tudo mudou, lá está, com “A Guerra dos Tronos” — um trabalho que Pascal conseguiu através de algum esforço (e contactos), mas também por acaso.

Quando estava a ser tutor de um jovem aluno na Universidade do Sul da Califórnia, em 2013, o seu protegido estava a treinar para fazer um casting para interpretar uma personagem sedutora e bissexual de cerca de 30 anos. Era Oberyn Martell. Mas o estudante, que tinha 20 e poucos, era muito novo para o papel. E quando Pascal leu o guião, ficou extasiado. Sentiu que o papel parecia ter sido feito para si.

Pedro Pascal decidiu avançar e gravou em casa uma interpretação da personagem — algo que acabou por não contar ao seu estudante, embora ele, Francisco Garat, já tenha dito em entrevistas que ficou contente pelo sucesso do seu antigo mentor.

Depois de gravar o casting, Pedro Pascal pediu a uma das suas amigas mais próximas na indústria, a atriz Sarah Paulson, que passasse a gravação à sua melhor amiga, a também atriz Amanda Peet — que por sua vez é casada com um dos dois criadores da adaptação televisiva de “A Guerra dos Tronos”, David Benioff. 

Benioff, Amanda Peet e o outro showrunner da série da HBO, D. B. Weiss, assistiram ao casting e adoraram a interpretação de Pedro Pascal. Foi Sarah Paulson quem lhe ligou a contar que eles queriam que ele ficasse com o papel de Oberyn. Pedro Pascal já era um grande fã da série, que tinha estreado dois anos antes, e dedicou-se a estudar a personagem e a ler os livros de George R. R. Martin.

Oberyn foi a personagem que o tornou famoso.

O resto, como se costuma dizer, é história. Oberyn foi uma das personagens marcantes naquela era de “A Guerra dos Tronos”, em 2014 — Pascal conta que ficou muito nervoso por fazer uma das suas primeiras cenas com Peter Dinklage — e o ator tornou-se um nome obrigatório a acompanhar. 

Durante as filmagens de “A Guerra dos Tronos”, surgiram rumores, após várias fotos publicadas nas redes sociais, de que Pedro Pascal e Lena Headey (atriz britânica que interpretava Cersei Lannister na narrativa) tinham um caso amoroso. Nunca foi confirmado, embora o tema tenha sido bastante falado na imprensa internacional, sobretudo depois de Lena Headey engravidar — embora depois tenha sido confirmado que o filho era do seu novo namorado, o velho amigo de infância e realizador Dan Cadan. 

Pedro Pascal não costuma falar da sua vida pessoal e amorosa e tem sempre dito que não tem tempo para ter relações — sobretudo quando começou a gravar em produções internacionais, em diversos países. Nunca foi casado nem tem filhos.

Além de “Narcos”, “The Mandalorian” e “The Last of Us”, como já mencionámos, Pedro Pascal viria a ter sucesso ao participar em filmes como “A Grande Muralha”, “Kingsman: O Círculo Dourado”, “The Equalizer 2 — A Vingança” ou “Operação Fronteira”. E em séries como “Graceland” e “O Mentalista”. Foi ainda, ao lado de Heidi Klum, a estrela do videoclipe da cantora Sia para o tema “Fire Meet Gasoline”. Aos 47 anos, Pedro Pascal é um dos maiores nomes na indústria — e o seu sucesso, que é recente, pode ainda estar no início.

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