Foi na noite desta quinta-feira, 17 de junho, que o humorista Diogo Faro publicou um vídeo no Instagram onde revelou que no aeroporto de Budapeste, na Hungria, foi alegadamente insultado de forma violenta pelo jornalista da SIC Nuno Luz e outras pessoas, inclusivamente o seu filho de 17 anos.
O jornalista ainda não reagiu publicamente ao que terá acontecido — nem ao vídeo de Diogo Faro. Contactada pela NiT, a SIC respondeu apenas: “A SIC não tem nada a comentar sobre este assunto, exceto que conhece e confia no trabalho do Nuno Luz desde 1992, que é público e escrutinado pelos nossos telespectadores”.
A NiT entrevistou Diogo Faro sobre a situação no aeroporto, o que a pode ter motivado, as reações negativas ao seu trabalho e questionou se o comediante intenciona apresentar uma queixa formal.
Teve logo a certeza de que queria fazer aquele vídeo, aquela denúncia, depois daquela situação?
Sim… Porque foi violento, sem ter chegado a vias de facto, mas tem sido um acumular de situações, nunca com o Nuno Luz, mas as pessoas são mesmo muito violentas comigo desnecessariamente. Acho que por mais que não gostes de mim, ou das minhas opiniões, ou das minhas piadas, o nível de violência tem aumentado. E disto não estava à espera, que comece a sair da Internet. E com o Nuno Luz nunca fiz nada de especial. Já fiz umas piadas, toda a gente já fez umas piadas, como fazemos sobre outras pessoas, como outras pessoas fazem sobre mim. E achei aquilo completamente despropositado. Com qualquer pessoa seria despropositado. Vindo de um jornalista credenciado, mesmo com a credencial da SIC e da UEFA ao peito, acho completamente surreal. Não quis reagir, por mais que o sangue fervesse. Como disse no vídeo, acho que as coisas não se resolvem à pancada, por mais que apetecesse, e muito menos ali, não queria estragar as férias a mim, aos meus amigos. Ia ser mau para a imagem de Portugal. Imagina sair nas notícias, era tudo descabido. Agora, não podia só aceitar isto e nem sequer falar publicamente sobre o que se passou. Decidi logo que ia falar sobre isto quando voltasse para Lisboa, que foi o que aconteceu. Lá diverti-me, estive a ver o jogo e quando cheguei cá, então, tratei disto.
Tem ideia do que é que um dia poderá ter dito que tenha ofendido ou irritado tanto Nuno Luz?
Eh pá, não faço ideia. Os meus amigos, quando chegámos lá ao Airbnb, ainda foram pesquisar o que é que eu teria dito. E descobrimos lá várias piadas, sete ou oito, antigas, não é como se eu tivesse feito um vídeo de meia hora a falar sobre ele. Ou que tivesse um espetáculo sobre ele. Foi um tweet ou outro.
Nada de especial?
Nada. Que mais ou menos meio milhão de portugueses, ou meio País, já fez. Estivemos a pensar, mas não consegui mesmo perceber o que é que poderia estar na origem de uma coisa tão violenta. Mas entretanto tenho recebido muitas histórias, tanto de colegas profissionais dele, de vários meios desportivos e não só, e de outras pessoas. E eu não sou nada especial nesta história, percebi que é um comportamento mais ou menos comum nele. Volta e meia ameaça pessoas e tem estas atitudes violentas, etc. Isto não posso corroborar, é o que as pessoas me contam. Mas tudo o que me aconteceu, tudo o que disse no vídeo, é completamente real e há várias testemunhas. Tenho várias pessoas que mandaram logo mensagem a dizer “Diogo, eu vi tudo, e posso testemunhar se precisares”.
E todas essas histórias que recebeu entretanto faz com que sinta que isto não foi assim tão pessoal?
Sim, mas eu estou super tranquilo. Não estou aqui nem assustado [risos] nem nada. Acho é que esta escalada de violência comigo, ou com outro comediante ou pessoa qualquer, não faz sentido, não leva a lado nenhum. Eu também não gosto do trabalho de muita gente, mas não vou para a cara deles gritar “és um otário de merda”. Pronto, não gosto, não sigo, não vejo, está tudo bem.
Como contou no vídeo, e também agora, tem havido muitas reações negativas de pessoas que não o conhecem mas parece que o odeiam, por coisas que diz ou pelo seu trabalho no geral. Como disse, até houve pessoas no aeroporto que aproveitaram o momento para se juntarem aos insultos. Sente que tem havido uma onda maior de negatividade nesse sentido?
Tenho, tenho. E tem acontecido eu conhecer pessoas, como no caso de um dos putos que começou a gritar nomes no aeroporto, depois falei com ele mais tarde, no estádio, que me disse depois que nem sequer me seguia nas redes sociais. Mas que um amigo dele lhe tinha mostrado uma merda que ele não tinha gostado e então ele sentiu-se legitimado para me chamar nomes. Pá, mas está tudo bem? Porque não gostam de alguma coisa que eu disse? Está a escalar, isto não faz sentido nenhum, esta escalada de violência contra mim. O pessoal é um bocado nervoso.
Esse rapaz acabou por se arrepender do que disse?
Sim, fizemos meias pazes e pronto, porque não fazia sentido. Era um puto de 21 anos, mas não desculpa. Quando eu tinha 21 anos também não ia para a cara das pessoas, dos comediantes que não gostava, chamar “otário de merda”. É ainda mais grave da parte do Nuno Luz, ali, à frente de toda a gente, a acicatar. Porque foi uma coisa muito violenta. Não foi “eh pá, disseste isto e não sei quê”. Foi aos berros a insultar-me, e o filho a empurrar-me, e os outros a empurrarem e não sei quê.
E durante bastante tempo, pelo que disse no vídeo.
Sim, foram uns quantos minutos. O muito tempo nessas situações é sempre relativo, se calhar durou cinco minutos mas para uma situação destas é imenso tempo, não é?
Planeia avançar com algum tipo de queixa formal?
Não faço ideia. Não me quero aqui comprometer, vou ter de falar com a minha advogada sobre se fará sentido ou não e ela logo decidirá o que é melhor.

Apesar disso, gostaria que a SIC enquanto empresa e estação de televisão importante, para a qual o Nuno Luz trabalha, reagisse de alguma forma ao que aconteceu?
Eu acho que é importante. Isto não é bem só sobre mim. A SIC enquanto canal que respeito e gosto, onde tenho tantos amigos que trabalham — sejam jornalistas ou atores, etc. —, acho que se devia retratar, fica muito mal a qualquer órgão de comunicação social ter um jornalista que tenta agredir pessoas. Podia ser enquanto está de folga, mas ainda mais com credencial ao peito num evento internacional com tanta visibilidade. Atenção, eu não exijo nenhum pedido de desculpas. Mas acho que no mínimo ficava bem algum esclarecimento. Eu só fiz isto porque não podia aceitar que me fizessem isto e eu nem sequer o contasse publicamente: fingir que não tinha acontecido nada e ia dormir. Mas não vou estar a exigir grandes coisas, agora, cada um fica com a sua consciência.
O vídeo suscitou muitas reações online, como é natural. Recebeu histórias de pessoas sobre o Nuno Luz, também deve ter recebido muitas mensagens de apoio, e outras tantas de ódio, mas era aquilo de que estava à espera, no geral?
Sim, sim, felizmente tive muito apoio, apesar de tudo há muita gente que gosta do meu trabalho [risos]. A questão é que o ódio é sempre mais vocal e parece que é sempre muito maior do que as pessoas que gostam e que apoiam. Ou daquelas que só gostam mais ou menos e está tudo bem. As pessoas que gostam também não gostam de tudo o que eu faço, nem concordam com tudo o que digo. Nem os meus melhores amigos nem a minha família são assim. Faz parte. Ainda bem que tenho apoio, e vou continuar a ter muito ódio. Está a ser uma cena de ódio completamente descabida, principalmente tendo em conta as coisas que eu defendo. Se eu defendesse “viva o racismo, viva a homofobia”, agora, como eu defendo o contrário, é um bocado estranho como é que recebo tanto ódio, mas pronto [risos]. Quase todos os dias vejo algum comentário ou recebo alguma mensagem de alguém que me quer matar ou que me diz que me vai espancar na rua ou que deseja que eu morra. É desgastante, não tenho dinheiro para ir para a terapia falar sobre isto todos os dias.