Cecilie Fjellhøy estava a usar o Tinder quando deu swipe right a um homem chamado Simon Leviev. Ela era uma norueguesa de 29 anos a estudar em Londres, no Reino Unido. Ele parecia ser um homem charmoso e simpático que levava uma vida de luxo.
Em janeiro de 2018, combinaram encontrar-se para um café no Four Seasons Hotel de Londres. Quando o conheceu, não ficou de todo desiludida. Tinha o mesmo aspeto que nas fotografias e, pela roupa e acessórios, mostrava que era alguém elegante e abastado. Fjellhøy ficou encantada.
Tanto que, quando Leviev lhe explicou que ia ter de viajar naquela tarde num jato privado para a Bulgária — e a convidou para ir consigo —, a estudante disse logo que sim. Supostamente, Simon tinha uma reunião de negócios. Ele alegava ser um “príncipe de diamantes” de Israel, o herdeiro da fortuna bilionária do magnata dos diamantes Lev Leviev.
Depois de enviar um “yolo” (ou seja, “you only live once”) para as amigas, Cecilie Fjellhøy embarcou no avião. Lá dentro estava a equipa privada de segurança de Simon Leviev e uma mulher e um bebé que Simon alegou ser a sua ex-mulher e o filho.
Os dois deram-se bem. Fjellhøy e Leviev passaram a noite juntos no hotel e começaram uma espécie de relação a partir daí. Depois de três incríveis (e surreais) meses juntos, Simon Leviev disse a Cecilie Fjellhøy para começar a procurar apartamentos para os dois alugarem juntos em Londres.
Porém, nunca chegaram a dar esse passo. Pouco tempo depois, recebeu fotografias de Leviev e do seu guarda-costas cobertos de sangue — além de um pedido para entregar o equivalente a cerca de 22 mil euros. Leviev alegava que os seus inimigos estavam a espiar as suas contas bancárias e não podia fazer levantamentos do seu dinheiro. Por isso, precisava de pedir emprestado à namorada.
Fjellhøy acreditou cegamente, pegou em todo o dinheiro que tinha, pediu empréstimos e entregou o dinheiro. Não tinha razões para duvidar que Simon Leviev não lhe ia pagar tudo no dia seguinte. Mas essa devolução nunca chegou. Obviamente, era tudo um esquema e uma grande mentira.
O guarda-costas era um figurante contratado, o jato privado era pago pelo dinheiro de outra mulher que ele estava a enganar, a sua “ex-mulher” era outra vítima dos seus esquemas. O seu nome, claro, também não era Simon Leviev. Era Shimon Yehuda Hayut, originário de uma família de classe média, sem qualquer tipo de ligação ao negócio dos diamantes. E com a linha de crédito aberta em nome de Fjellhøy, Leviev continuou a usar aquele dinheiro e a deixar a norueguesa cheia de dívidas.
A sua história é contada em “O Impostor do Tinder”, documentário que estreia na Netflix esta quarta-feira, 2 de fevereiro. É um projeto dos mesmos produtores de “The Imposter” e “Don’t F**k with Cats: Hunting an Internet Killer”.
Através de fotografias e vídeos feitos por Cecilie Fjellhøy e por outras vítimas durante os seus tempos com Simon Leviev — além de entrevistas com as próprias — a história é relatada do ponto de vista destas mulheres.
Pernilla Sjoholm, da Suécia, e Ayleen Charlotte, dos Países Baixos, foram outras das vítimas de Leviev. As suas histórias também são contadas nesta produção documental. “Foi quase como se entrassem num ‘Truman Show’, que está a ser feito para elas, em que ele tem um guarda-costas e voa mesmo num jato privado”, disse ao “The Guardian” a realizadora, Felicity Morris.
Sjoholm também conheceu Simon Leviev através do Tinder, em março de 2018. Começaram de forma romântica, mas a relação acabaria por se tornar numa amizade profunda. A sueca fazia viagens com Leviev para a Grécia ou Itália enquanto Fjellhøy procurava por apartamentos em Londres.
Quando a norueguesa percebeu o que lhe acontecera, a burla foi tão emocional quanto financeira. Isto porque Simon Leviev comportava-se como um namorado dedicado e carinhoso: enviava flores e mensagens amorosas, além de ter feito uma visita surpresa a Oslo só para a ver, a certo ponto. Não oferecia bens materiais de luxo, mas era um namorado perfeito.
“Todos crescemos à base de comédias românticas e com a ideia de encontrar o amor da tua vida, um príncipe charmoso que te conquiste”, acrescenta Felicity Morris. “Acredito definitivamente que o Simon jogava com isso.”
Eventualmente, uma investigação jornalística da publicação norueguesa “VG” desvendou a sua verdadeira identidade e contou a história — e Shimon Yehuda Hayut foi detido por acusações de fraude e roubo. Passou tempo na prisão na Finlândia e em Israel. Quando saiu mudou legalmente o seu nome para Simon Leviev, e recusou ser entrevistado para este documentário.
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