Música

Entrevistámos o filho de Bono, dos U2 (que tocou com a sua banda no NOS Alive)

Elijah Hewson é o vocalista e guitarrista dos Inhaler, que atuaram no palco secundário do festival em Algés.
Os Inhaler lançaram o primeiro disco em 2021.

Se ainda não conhece os Inhaler, é porque esta banda irlandesa só começou a tocar há poucos anos — em 2019 o grupo de rock fez a sua primeira tour internacional. Depois, com a pandemia, todos os espetáculos foram suspensos. Mas os quatro rapazes de Dublin lançaram o álbum de estreia, “It Won’t Always Be Like This”, em 2021.

Se ouvir a sua música ou assistir a uma atuação, é provável que lhe soe familiar. Isto porque o vocalista e guitarrista, Elijah Hewson, é filho de Bono Vox, o vocalista dos U2. E tem uma aparência e voz semelhantes. 

A formação é ainda composta pelo baixista Robert Keating, pelo guitarrista Josh Jenkinson e pelo baterista Ryan McMahon. Conheceram-se todos na escola e já tocavam instrumentos. A banda veio tocar ao NOS Alive nesta quinta-feira, 7 de julho, no Palco Heineken. Além do disco, têm um novo single para apresentar: “These Are The Days”.

Pouco antes do espetáculo, conversaram com a NiT — mas recebemos a indicação de que não falariam sobre a ligação aos U2, uma vez que se querem distanciar da banda de Bono Vox. Leia a entrevista.

Alguma vez tinham vindo a Portugal?
Elijah Hewson (EH), Robert Keating (RK) e Ryan McMahon (RM): Sim, sim.

Josh Jenkinson (JJ): Bem, já tinha vindo de férias uma vez, em 2017. 

Estão a gostar até agora? Ou não conseguiram ver nada?
JJ: Vimos a Torre de Belém do carro, o que foi fixe. E a Ponte Vasco da Gama.

Quando é que perceberam que queriam mesmo ser músicos?
RK: Bem, é diferente para todos nós. Eu costumava tocar guitarra na escola, mas nunca achei que o faria a sério. Só o fazia por diversão. Mas quando cresces na Irlanda há a coisa de “vou ser a próxima estrela de rock n’ roll”. É uma coisa que existe, porque não há muito para fazer quando és jovem, por isso começámos a tocar música juntos. Mesmo agora, nem sabemos muito bem… 

Como estava a dizer, a Irlanda tem um longo historial de bandas de rock que se tornaram estrelas mundiais. Sentem que esse legado se reflete também na vossa geração?
EH: Sim, sem dúvida. Para nós, os Thin Lizzy foram uma enorme influência, por exemplo. Nunca tinhas visto nada como aquilo a sair da Irlanda. Temos muitas pessoas em quem nos inspiramos, obviamente. E Dublin é uma cidade tão musical. Se estás por lá, não consegues evitar a música. Está por todo o lado. Não sei se é do clima ou se não há mais nada para fazer. Costuma dizer-se que se o tempo está mau, a música é boa. 

São alturas mais poéticas ou introspetivas.
EH: Exato, tiras mais coisas cá de dentro. 

E porque escolheram o nome Inhaler? Existe alguma história?
RM: Boa pergunta [risos], acho que mudámos a narrativa da coisa umas quantas vezes. 

JJ: Sim, qual é a história que vamos usar hoje?

RM: Era uma vez um asmático chamado Elijah, que era gozado por ser asmático e acabámos por tornar essa piada no nome da banda…

RK: Ou, então, uma vez ele foi alvejado e a bala bateu num inalador que ele tinha no bolso [risos], salvando-lhe a vida.

JJ: Essa é a narrativa número 54.

Falando novamente sobre o legado das bandas da Irlanda, sentem que a fasquia está mais alta para vocês por causa disso? Ou não pensam nisso?
RK: Se virmos no geral, sim, mas por estes dias não há assim muitas bandas… Nem sequer há bem uma fasquia, qualquer pessoa que consiga tocar música de guitarra é uma vitória para todos. Pessoas como o Sam Fender no Reino Unido ou os Fontaines D.C., regozijamos com o sucesso deles, porque estão a fazer aquilo que queremos fazer. É uma boa questão, mas não é algo evidente nos dias de hoje, porque não há competição suficiente.

EH: Acho que colocamos a nossa própria fasquia bem alta. Somos exigentes connosco próprios. Se não fôssemos, acho que não quereríamos estar vivos [risos]. É importante, sempre fomos assim, sempre a tentar alcançar o próximo passo, aprender um novo acorde, escrever esta letra, ou construir uma canção melhor. É importante que continuemos a esforçar-nos para o que quer que nos estejamos a esforçar — seja o que for, é para a frente.

Vocês são uma banda de rock em 2022, quando este género de música já existe há muitas décadas. Sentem que é mais difícil ser uma banda de rock agora do que há 40 anos?
Todos: Sim, sim.

RK: Mas é uma pergunta difícil, porque hoje em dia há menos bandas, então existe menos competição. Dantes havia muito mais grupos. Mas agora há menos pessoas a ouvir rock — nas rádios é raro ouvires rock. A música pop e o rap estão gigantes no Reino Unido. E também é difícil juntarmo-nos numa sala a tocar muito alto em 2022. É preciso comprar equipamento para estares numa banda, é muito mais caro do que fazeres as coisas por ti próprio através de um computador, por exemplo [como é possível noutros géneros de música]. São alguns dos obstáculos.

Qual foi a coisa mais surpreendente quando deixaram a Irlanda e passaram a tocar noutros países?
EH: O quão mal eu cheiro [risos]. Não se aproximem de mim com este calor. 

RM: Ele tem uma T-shirt que eu chamo de T-shirt de 2019. Porque ele usou todos os dias durante cerca de dois meses na tour daquele ano. Por isso é que digo que cheira a 2019. Acho que o mais surpreendente é que pessoas fora da Irlanda sabem quem somos. Tocámos em festivais que nunca pensámos que iríamos conseguir alcançar. As pessoas vêm ver-nos e cantam as nossas canções, e isso choca-nos todas as vezes. 

EH: Também me choca como é que o material todo vai de um concerto para outro. Tu apareces e ele está lá!

Sobre o vosso álbum de estreia, vocês já faziam canções e tocavam juntos, mas foi diferente quando começaram a preparar o disco em si?
EH: Sim, foi uma carrada de nervos, porque o teu primeiro disco é um statement, não é? Mas tentámos não pensar muito naquilo como um álbum, pensámos como uma série de temas que acabámos por criar. Nunca falámos muito de conceitos, mas o conceito acabou por vir do facto de estarmos a viver uma pandemia. E mesmo que não estivesses a escrever sobre a pandemia, influenciava as letras e a música de forma inconsciente. Foi uma experiência estranha.

Foi recebido como vocês estavam à espera?
EH: Muito melhor do que nós achávamos que seria. Estamos aqui a tocar num festival em Portugal, é incrível. E a tocarmos canções que escrevemos quando tínhamos uns 16 anos.

RK: E temos uma canção nova agora, termos algo novo para tocar é sempre entusiasmante.

EH: É uma lufada de ar fresco, é como calçar umas sapatilhas novas e querer usá-las o tempo todo. E queremos compor mais canções ao longo do ano e acrescentar ao alinhamento dos concertos.

Acham que esta vida de digressão também vai influenciar os vossos próximos temas?
RM: Definitivamente, porque tivemos uns dois anos sem tocar e isso teve impacto na sonoridade que estávamos a fazer — além das temáticas que abordámos —, e acho que a “These Are The Days” é um produto desse aspeto das nossas vidas, de podermos seguir em frente com tudo, e de podermos tocar novamente, para podermos estar outra vez sentados assim próximos. É um sentimento lindo. 

Qual é a vossa maior ambição na música?
RK: Conseguir arranjar um sítio para viver na Irlanda, do dinheiro que conseguir fazer com a banda. Ou seja, construir uma carreira e podermos viver disso e fazer tours com uma vida confortável.

EH: É aquilo de que os sonhos são feitos. Se conseguirmos fazer isto, as nossas vidas estão… Se bem que tocar em Glastonbury era o nosso sonho. Costumávamos dizer sempre isso, mas agora já o fizemos, por isso mais vale arrumarmos o material, pessoal [risos]. 

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