“La Casa de Papel” chegou ao fim. A segunda metade da quinta temporada estreou na Netflix na sexta-feira, 3 de dezembro, com os derradeiros cinco episódios. A ação dentro e fora do Banco de Espanha desenrolou-se em grande escala, com reviravoltas inesperadas e um final feliz. Pode ser suficientemente satisfatório para muitos fãs, mas também apostamos que há outros tantos que esperavam mais.
A série é um gamechanger e um caso paradigmático do momento da indústria da televisão e do cinema. Mostrou que era possível criar um fenómeno mundial com uma história contada noutra língua que não o inglês — e foi determinante para que a Netflix continuasse a sua aposta de desenvolver produções em diversos países, contribuindo para as indústrias locais e democratizando o mercado.
A série criada por Álex Pina começou na estação de televisão espanhola Antena 3. Depois de a Netflix adquirir a primeira temporada (dividida em duas partes) e a distribuir pelo mundo, tornou-se um fenómeno internacional. A plataforma de streaming acabou por comprar a série na sua totalidade e financiou a produção das temporadas que se seguiram.
“La Casa de Papel” continuou a resultar e manteve os elementos que a tornaram um sucesso — as personagens carismáticas com nomes de cidades, os macacões vermelhos e as máscaras de Dalí, o lado rebelde e até ideológico dos assaltos meticulosamente planeados. Mas a verdade é que a série nunca conseguiu superar a qualidade das primeiras duas partes. O que prova, mais uma vez, que mais orçamento não equivale necessariamente a melhor ficção.
Além disso, caiu na quase inevitabilidade de se tornar repetitiva, ao voltar a colocar — durante episódios a fio — os protagonistas num novo assalto épico, desta vez no Banco de Espanha, onde a fasquia está mais alta e as ameaças são maiores. Na vida real, passou mais de um ano, mas a narrativa continuou a passar-se nos poucos dias em que decorreu o assalto.
Ou seja, as mortes de Nairobi e Tóquio, a luta com Gandía e Arturito, o resgate de Rio e a entrada do Professor no banco — todos estes acontecimentos aconteceram em poucos dias, ainda que as dinâmicas emocionais das personagens sejam claramente alargadas. Num episódio, Rio está desolado com a morte de Tóquio. Noutro, está a celebrar como se não houvesse amanhã por terem conseguido roubar a reserva nacional de ouro de Espanha. As incongruências são gritantes — ainda que esta seja uma série com uma aura pouco realista.
A grande característica diferenciadora desta última temporada foi a ação. Mais cenas de combate, mais armas, sangue e mortes. Isso também se sente na realização estilizada, numa direção de fotografia superior, mas não significou uma narrativa de maior qualidade.
Muitas reviravoltas marcaram estes últimos episódios, embora várias delas tenham sido contadas de forma apressada — especialmente por comparação com os melodramas desgastantes de “La Casa de Papel”, como o triângulo amoroso Denver-Manila-Estocolmo, ou os flashbacks de Berlim e companhia.
Outrora uma das melhores personagens da série, o facto de se repetir ad nauseam em múltiplos flashbacks faz com que nos cansemos dele. E sabemos agora que vai ser o protagonista de um spinoff de “La Casa de Papel”, com data de estreia marcada para 2023 — esperemos que com mais sucesso do que a sua presença nas últimas temporadas. As cenas de Berlim também têm sido usadas para quebrar o ritmo intenso que se vive no presente do enredo, mas acabam por não encaixar da melhor forma e ficamos com a sensação de que estão a mais.
O plot twist de Tatiana e do filho de Berlim, Rafael, que traem o Professor e o grupo de protagonistas (antes de cederem a sua vantagem, do nada) parece estar completamente fora de sítio, sem qualquer relevância. Os flashbacks parecem servir apenas para fazer a ponte com o futuro spinoff centrado em Berlim.
Por outro lado, o arco narrativo da inspetora Sierra — que se junta ao grupo dos “atracadores” depois de formar uma ligação improvável com o Professor — merece ser elogiado. Najwa Nimri volta a estar irrepreensível como a complexa agente policial.
Os planos por cima dos estratagemas do Professor acabam por formar uma estratégia que, com muita “esperança” à mistura, consegue salvar os protagonistas daquela situação ultra complicada — até com o apoio do governo espanhol. Por um lado, bate certo; por outro, perde-se o sentido ideológico que aquela missão acarretava, para lá de salvar Rio e de cumprir mais um sonho criminal do Professor.
Ficamos com a sensação de que “La Casa de Papel” poderia ter sido mais ousada e surpreendente na hora da despedida. Um final feliz era expectável — mas também aborrecido e bastante convencional, tendo em conta todas as possibilidades numa série como esta. Infelizmente, não foi com este desfecho que nos conseguimos reconciliar com a irreverência e qualidade das primeiras duas partes.
Carregue na galeria para conhecer outras séries (e temporadas) novas para ver em dezembro.