A vida de Jesus Cristo mudou a Humanidade e alguns dos melhores e piores acontecimentos da História aconteceram precisamente em seu nome — apesar de ter sido o profeta que daria origem à religião cristã com uma mensagem nobre de amor ao próximo.
Um novo livro, intitulado precisamente “Jesus”, pretende contar como foi a vida real do homem que dividiu a História entre antes e depois. Foi escrito por Rodrigo Alvarez, jornalista brasileiro especializado no tema. Tem 288 páginas, é uma edição da Porto Editora e está à venda por 14,94€ desde 4 de abril.
Rodrigo Alvarez estudou em escolas católicas desde a infância. Nos últimos oito anos mergulhou a fundo na investigação religiosa. Por isso mesmo é que também escreveu “Maria”, um livro sobre a mãe de Jesus.
O jornalista pesquisou em manuscritos encontrados em Israel e no Egito, que só foram decifrados recentemente. A maior parte deles não é reconhecido pela Igreja.
“Ao mergulhar na história de nossa senhora tive de estudar a história toda. Foi um novelo que foi puxado”, explica à NiT Rodrigo Alvarez, que atualmente é correspondente da “Rede Globo” em Paris, em França. Chegou a Lisboa esta terça-feira, 16 de abril, para promover o livro precisamente no dia em que aconteceu o incêndio trágico na catedral de Notre-Dame. Se não fosse o livro, seria ele a cobrir a notícia.
“Por coincidência, durante o processo de investigação mudei-me para Jerusalém. Quando vives lá, tens duas realidades à tua frente: a do conflito entre israelitas e palestinos, que é muito presente; e a histórica e religiosa, que também está muito marcada. Onde eu vivia bastava andar cinco ou dez minutos a pé para chegar ao túmulo de Jesus. Em alguns aspetos pouca coisa mudou: os desertos continuam lá, o mar Morto continua, o rio Jordão também.”
O livro pretende ser imparcial e oferecer todas as perspetivas que se conhecem sobre a vida de Jesus, com as provas e indícios que existem. Alvarez explica que não foi escrito para abalar a fé de nenhum crente, nem, por outro lado, para defender nenhuma tese sobre Jesus.
“O leitor que é religioso diz: obrigado, fiquei ainda mais religioso. O ateu que me escreve diz: obrigado pelo seu livro, porque me deu mais argumentos para continuar ateu. E quando leio esses dois comentários, que são frequentes, fico satisfeito. Não queria defender nenhuma tese nem atacar nenhuma fé. O que proponho com o livro é dizer até onde podemos chegar com o conhecimento que temos.”
Rodrigo Alvarez explica que muitas das ilusões que crescemos a ouvir sobre Jesus tem a ver com a forma como a Igreja foi moldando a realidade e determinando o que os crentes deviam pensar sobre o profeta.
“A Igreja cristã no começo decidiu selecionar o que a humanidade não deveria saber sobre Jesus. Os textos foram queimados, houve uma censura e uma leitura viciada com dogmas. Hoje é possível sabermos mais sobre Jesus do que naquela época e surpreendeu-me porque se tornou uma personagem histórica maior do que eu estava à espera.”
Estas são algumas das principais conclusões a que o livro de Rodrigo Alvarez chega — e que poderão ser desconhecidas para a maior parte das pessoas.
Jesus Cristo como judeu
“Jesus Cristo nasceu judeu, viveu como judeu e morreu como judeu. O conhecimento que nos é transmitido sobre Jesus por todas as igrejas cristãs é um conhecimento cristão, que pressupõe o cristianismo. Quando eliminas todas as alterações históricas que foram feitas, percebes que há um Jesus muito mais judeu do que nos foi apresentado. Muito mais dentro de seu tempo e contexto do que poderia parecer.”

Jesus Cristo era um pensador mais complexo do que podemos pensar
“Quando lês os textos dos gnósticos, que era uma linha cristã contemporânea ao catolicismo, entendes que a visão deles é completamente diferente. Surge uma visão de Jesus como muito mais filosófico do que imaginávamos. É um pensador mais complexo, com mais camadas, menos simplificado. Ele não poderia ter sido o homem que foi e causado o impacto que causou sem ter sido um grande mestre. E as simplificações às vezes tornam-no menor do que ele foi. As visões dele sobre a humanidade, o mundo, Deus, eram muito mais amplas do que aquilo que está nos Evangelhos.”