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Anne Frank, Margaret Atwood e Murakami entre os autores de livros banidos de escolas na Flórida

São mais de 600 obras consideradas "controversas". Outros estados têm seguido os mesmos passos. A NiT fez uma lista com alguns dos livros proibidos.

A luta das escolas públicas norte-americanas para manterem certos livros nas suas bibliotecas não é recente. Mas desde que Donald Trump voltou a assumir o poder, em janeiro de 2025, tem-se tornado cada vez mais alarmante. Só no condado de Hillsborough, na Florida, foram removidos mais de 600 livros, no período de um mês, por alegadamente conterem “temas sexuais e controversos.”

A decisão surgiu por parte do Departamento de Educação da Florida e do recém-criado Gabinete de Direitos Parentais do Procurador-Geral, Ashley Moody. O objetivo é permitir que os pais de miúdos e jovens investiguem e abordem “potenciais violações dos direitos parentais, especialmente em ambientes educacionais e de saúde”. As duas entidades lançaram uma nova campanha que pressiona o distrito escolar de Hillsborough a proibir os livros.

Segundo a organização “PEN American”, em maio, foram enviadas cartas ameaçadoras ao distrito, classificando uma lista de títulos “pornográficos” e afirmando que precisavam de ser removidos. Caso a medida não fosse seguida, seria tomada uma ação judicial formal.

A 4 de junho, Van Ayres, superintendente das escolas públicas de Hillsborough, foi convocado perante o Conselho Estadual de Educação e sujeito a um interrogatório público sobre a disponibilidade de determinados livros nas bibliotecas escolares.

“Já consideraram despedir todos os vossos especialistas de media e começar do zero com mulheres e homens que sabem ler ou têm um mínimo de decência? Estas pessoas em quem confiam para rever estes materiais estão a abusar das crianças do vosso condado. São abusadores de crianças”, disse Grazie Christie, membro do conselho.

Em resposta, Van Ayres colocou, temporariamente, para revisão mais de 600 livros considerados “inapropriados e controversos” das bibliotecas escolares. As obras coincidem com uma lista de livros criticados pela Citizens Defending Freedom, uma organização de defesa conservadora.

O processo deverá custar 350 mil dólares americanos (cerca de 303 mil euros) ao distrito. A iniciativa, por outro lado, não se baseou em queixas locais, mas sim em livros removidos nos distritos da Florida durante os anos letivos de 2022-2023 e 2023-2024.

A prática tem sido adotada religiosamente desde 2023, altura em que uma nova lei exigiu que todos os distritos escolares da Flórida tivessem uma política em vigor para contestar livros que incluíssem conteúdo que “retratasse ou descrevesse conduta sexual.” No primeiro ano escolar, foram removidas mais de 4500 obras. 

Além disso, qualquer menção à orientação sexual ou identidade de género é proibida desde a creche até ao ensino fundamental, “a menos que seja apoiada pelos padrões académicos estaduais”. A administração de Donald Trump tem rejeitado as queixas das escolas contra a medida.

A organização “PEN American” alertou que a prática “não é uma aplicação ponderada da preocupação parental”, mas sim um “esforço calculado para consolidar o poder através do medo, para contornar os precedentes legais e para silenciar as vozes diversas nas escolas públicas da Flórida.”

“Os educadores e os pais vêem esta campanha como uma forma de censura dirigida pelo Estado, com o objetivo de intimidar os profissionais a abandonarem a sua especialidade”, escreveu. “Os livros estão a ser alvo de críticas e removidos sem uma revisão significativa e sem ter em conta o contributo das famílias ou das comunidades locais.”

A entidade acrescentou que a remoção das obras em massa na Flórida é altamente alarmante, dado que “vai além dos livros”. “Trata-se de preservar o controlo local, proteger a perícia dos educadores e garantir que os alunos da Flórida têm acesso a uma educação completa e inclusiva.”

Além da Flórida, outros estados já tomaram ações semelhantes, como o Texas (foram mais de 500 livros banidos durante o ano escolar de 2023-2024) e o Iowa (mais de 3600). Regiões como Missouri, Utah, Tennessee e Pensilvânia também adotaram novas leis que permitem que as obras sejam revistas e retiradas das escolas e bibliotecas.

Entre as obras banidas, estão autores como Margaret Atwood, George R.R. Martin, André Aciman, Rupi Kaur, entre vários outros.

Carregue na galeria para conhecer alguns dos livros banidos nas escolas norte-americanas

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