É já na manhã desta quarta-feira, 8 de janeiro, que os restos mortais de Eça de Queiroz vão ser trasladados para o Panteão Nacional, 125 anos após a morte do autor de “Os Maias” e quatro anos depois da aprovação no Parlamento. Não foi uma decisão unânime, uma vez que alguns familiares ainda vivos do escritor lutaram para manter os restos mortais em Baião, no distrito do Porto.
A decisão foi comunicada em outubro do ano passado, após um litígio judicial que começou em janeiro de 2021, quando a Assembleia da República aprovou uma proposta do PS para que o escritor fosse reconhecido pelo impacto da sua obra na literatura portuguesa.
A cerimónia, que pode ser acompanhada a partir das 10h30 na RTP, tem início na Assembleia da República com música e a leitura de excertos da obra do escritor. O momento arranca com a Banda de Música e Fanfarra da Guarda Nacional Republicana.
Após o hino nacional, o cortejo vai encaminhar-se pela Rua de São Bento, com escolta de honra a cavalo, até ao Panteão Nacional. Ao chegar ao monumento que homenageia algumas das mais importantes personalidades da história e cultura portuguesa, serão projetadas imagens de Eça de Queiroz. O hino nacional é interpretado novamente, desta vez pelo maestro João Paulo Santos e pela soprano Sara Braga Simões, do Coro do Teatro Nacional de São Carlos.
Afonso Reis Cabral, trineto do escritor e presidente da Fundação Eça de Queiroz, fará o elogio fúnebre. Seguem-se depois diferentes momentos musicais e leitura de excertos de obras. A cerimónia termina com a assinatura do Termo de Sepultura do Panteão Nacional e a urna será transportada por militares da GNR até à sala onde se encontra a Arca Tumular.
Após ter falecido, a 16 de agosto de 1900, Eça de Queiroz foi sepultado em Lisboa e, em setembro de 1989, os seus restos mortais foram transportados para um jazigo de família, no cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião. A trasladação para o Panteão Nacional esteve envolvida em polémica, uma vez que alguns familiares não desejavam ver os restos mortais sair da aldeia de Santa Cruz do Douro.
Foi o caso do bisneto do autor de “Os Maias”, que defendeu que esta mudança não será uma honra e admite que os únicos que ficariam orgulhosos do troféu seriam os políticos. “Meu Deus, o Eça disse mal do Estado e dos políticos portugueses. Considerar que ir para o Panteão é uma honra é inverter as polaridades”, afirmou o familiar António Eça de Queiroz, citado pelo “Expresso”.
Por outro lado, o trineto Afonso Reis Cabral, que dirige a Fundação, refere que não há “nada que indique uma vontade pessoal” nem “nenhum testamento” que confirme que o escritor quisesse ficar em Baião. “Eça esteve 90 anos em Lisboa e apenas por uma contingência passou muito dignamente para Santa Cruz do Douro, em Baião, onde está”, defendeu.
Dos 22 familiares diretos do escritor português, 13 estão a favor da ida para o Panteão, seis contra e três abstêm-se. Com a trasladação para o monumento nacional, o romancista e diplomata irá juntar-se a outras figuras ilustres do País, como a cantora Amália Rodrigues, os escritores Sophia de Mello Breyner Andresen e Aquilino Ribeiro ou o futebolista Eusébio da Silva Ferreira, entre outros.