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Victor Correia: “O sexo é apresentado na Bíblia Sagrada como um plano divino”

Um pai que tinha relações com as filhas porque “era o plano de Deus” para a salvação da humanidade é apenas um dos episódios retratados.
Garante que o tópico foi abordado com todo o respeito.

Durante a juventude, Victor Correia foi acólito e escuteiro, tendo, posteriormente, frequentado um seminário com a intenção de se tornar padre. Desde cedo, a sua educação foi profundamente marcada pela religião.

A Bíblia sempre fez parte da sua vida, embora soubesse que “muitas verdades não lhe eram reveladas”, especialmente no que diz respeito à sexualidade. “Relata a história do povo judeu e sabia que era impossível não contar as histórias de amores e desamores, traições, relacionamentos íntimos e adultérios daquelas personagens”, realça, em entrevista à NiT.

Durante cerca de três anos, Victor dedicou-se a estudar e a registar todos os momentos em que o sexo é abordado na “Sagrada Escritura”. Esta investigação resultou na publicação do livro “Sexualidade e Erotismo na Bíblia Sagrada”, lançado pela editora Guerra e Paz a 27 de agosto. 

O seu propósito principal é demonstrar que “as pessoas acreditam conhecer a Bíblia, mas, na verdade, não a conhecem plenamente”. Além disso, Victor argumenta que “o livro sagrado não pode ser utilizado como modelo de relações, pois também aborda o sexo antes do matrimónio.” E acrescenta: “No Antigo Testamento, um homem podia ter várias esposas sem que isso fosse censurado por Deus.”

Com 55 anos, Victor não se via como escritor na infância, uma vez que almejava ser padre. Contudo, rapidamente reconheceu que não possuía vocação para tal. Apesar disso, continua a nutrir um apreço pela religião. Nas últimas férias esteve num mosteiro em Trás-os-Montes durante uma semana.

Licenciado em Filosofia, já publicara anteriormente uma obra, editada pelo Clube do Autor, na qual discutia “contradições, erros e absurdos da Bíblia Sagrada”. “Vendeu bem”, revela. Um dos pontos que explora é a figura de Judas, considerado traidor, uma ideia que lhe parece incoerente. “A sua traição era necessária para que o plano de Deus para a humanidade se concretizasse. Se foi parte do plano divino, como pode ser rotulado de traidor?”

Sobre sexualidade, Victor esclarece que “muitas coisas estão implícitas” na Bíblia e, em certas passagens, são até explícitas. “É só ler com atenção.” Durante a sua investigação, destacou alguns versículos, em particular o “Cântico dos Cânticos”, que considera ser o mais erótico, pois retrata um amor genuíno entre um homem e uma mulher, incluindo carícias, beijos e relações sexuais, apesar de não serem casados.

Conta episódios que muitos desconhecem.

Outro episódio marcante que refere é a história de Ló, que, vivendo numa caverna, teve relações com as filhas. “Na minha infância, não fui ensinado sobre isso. Existem realmente temas que chocam. É justificado como forma de preservar a espécie humana, mas Deus, sendo tão poderoso, poderia ter encontrado outras formas de a garantir. Se a relação íntima entre duas mulheres e o pai era parte do Seu plano, então estamos a falar de um plano questionável”, enfatiza.

Na sua obra, Victor analisa várias outras passagens bíblicas, como a do sacerdote que, ao descobrir que a esposa tinha relações com outros homens, a esquartejou e distribuiu os pedaços pelo povo. Faz ainda a observação de que o sexo era uma ferramenta de poder utilizada contra os israelitas e outras nações, sublinhando que “a mulher servia como um chamativo para atrair homens.”

Apesar de possíveis acusações de blasfémia e críticas, Victor sente-se seguro da seriedade e rigor da sua abordagem. O seu receio centra-se no próximo livro que está a planear, onde abordará o mesmo tema, mas focando-se em Jesus Cristo. “Poderá ser visto como sacrilégio”, admite, “mas não o trato de forma leviana”.

“Sexualidade e Erotismo na Bíblia Sagrada” está disponível nas livrarias por 15,30€ graças a um desconto de dez por cento (o valor habitual será de 17€). Tem 240 páginas.

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