Seis meses depois de lançar “Cercado, Os Dias Fatais de José Sócrates”, em maio de 2015, o jornalista Fernando Esteves começou a trabalhar num segundo livro sobre José Sócrates. Não poderia ser de outra maneira: a primeira obra terminou praticamente no momento em que José Sócrates foi detido, portanto o caso que envolvia o ex-primeiro-ministro ainda mal tinha começado. Nos dois anos que se seguiram, as buscas, interrogatórios, vigilâncias e declarações chocantes sucederam-se. O resultado foi uma investigação que ficou conhecida por Operação Marquês e que originou mais de 40 mil folhas processuais.
Em “A Sangue Frio”, lançado a 12 de outubro pela editora Matéria-Prima, Fernando Esteves falou em on e off the record com 43 amigos, inimigos, parceiros, ex-parceiros, camaradas e rivais de José Sócrates. Consultou dezenas de milhares de páginas em fontes documentais, percorreu milhares de quilómetros e teve de lidar com dezenas de recusas — o que o levaram a concluir que José Sócrates, mesmo sendo um animal feroz, ainda assusta muita gente. O resultado é um livro que não quer alimentar mais rumores ou suspeitas. Bem pelo contrário, pretende afirmar-se como uma exposição crua dos factos que alicerçam este caso.
No prólogo do livro escreve a seguinte frase: “(…) à medida que fui evoluindo na investigação, tropecei em informações isoladas que possuem um valor relativo, mas que, quando juntas, formam um retrato assombroso sobre várias realidades”. Foi isso que o levou a publicar “A Sangue Frio”?
Sim. Em “Cercado, Os Dias Fatais de José Sócrates” [2015] abordei as várias polémicas em que José Sócrates foi sendo envolvido. A Operação Marquês era apenas uma delas — ocupava 40 páginas do livro. Este é só sobre a Operação Marquês, que pode ser vista de várias perspetivas. Se for isolada, temos a relação de Sócrates com a comunicação social; com Carlos Santos Silva; com os membros do seu gabinete; com os banqueiros; com o poder político; empresarial; com Lula; com o Partido dos Trabalhadores no Brasil. Qualquer uma destas peças do puzzle dá histórias autónomas.
Mas se juntarmos tudo…
Tudo isto montado, tudo isto articulado, dá-nos ideia de que existe aqui uma mega estratégia de tomada de poder dos principais centros de influência no País. Na minha opinião este processo, e a dimensão dos supostos crimes que José Sócrates cometeu, só pode ser visto em toda a sua amplitude se juntarmos todas estas peças.
Sobre a Operação Marquês especificamente, o que é que este novo livro traz de novo em relação a “Cercado, Os Dias Fatais de José Sócrates”?
O “Cercado, Os Dias Fatais de José Sócrates” ia basicamente só até à prisão de José Sócrates. “A Sangue Frio” traz tudo depois da prisão, que é efetivamente quando tudo acontece. Ele foi preso em novembro de 2014, eu escrevi o “Cercado, Os Dias Fatais de José Sócrates” em maio de 2015. Entretanto já passaram dois anos. Aconteceram muitas coisas — ele foi libertado, colocou mais de 30 recursos, o caso é ligado à PT, à Espírito Santo Enterprises, descobriu-se, no entender do Ministério Público (MP), como é que o dinheiro terá chegado às contas dele. Portanto, tudo na Operação Marquês aconteceu depois de eu publicar o primeiro livro.
Começou logo a trabalhar em “A Sangue Frio” quando terminou “Cercado, Os Dias Fatais de José Sócrates”?
Fiz um intervalo de seis meses. A minha editora [Matéria Prima] queria que eu fizesse imediatamente outro, mas achei que não fazia muito sentido. Continuei sempre a escrever sobre José Sócrates, e percebi que a informação estava a evoluir a uma velocidade tão grande que eu muito brevemente teria já material para fazer outro livro.
Quando é que terminou “A Sangue Frio”?
Agora. No final de setembro. O último texto que escrevi foi a Nota Final, que terminei no final de setembro. Mas o grosso do livro estava escrito em julho.
O livro começa com uma descrição do momento em que está sentado na sala de espera do Campus de Justiça juntamente com outro jornalista, António José Vilela, a ser julgado pela alegada violação do segredo de justiça no processo Marquês. Alguma vez temeu que a divulgação de determinada informação pusesse em causa o processo?
Não. Houve alturas em que não publiquei notícias por achar que ia colocar em causa uma investigação, e a relevância da notícia não era suficiente para que isso acontecesse. Fi-lo por uma questão de responsabilidade, uma vez que o jornalista também tem de ter bom senso. Neste caso em concreto, o interesse público é estratosférico. O interesse público tem de se sobrepor claramente ao segredo de justiça. As pessoas não iam compreender que os jornalistas só escrevessem sobre este caso quando este transitasse em julgado, ou quando aparecesse a acusação. Estamos a falar de um primeiro-ministro que, a acreditar no Ministério Público, basicamente, em bom português, roubou o estado. Utilizou o estado, utilizou o seu cargo, para usufruto pessoal. Isto é mais importante do que qualquer lei.
Já agora, e em relação a esse processo em que se viu envolvido, já houve alguma conclusão?
Ainda está a decorrer. Estamos em fase de julgamento, faltam fazer as alegações finais. A sentença em princípio será tomada em janeiro. Não deixa de ser estranho que eu e António José Vilela, que investigamos isto há muitos anos (já trabalhamos há 20 anos juntos, em várias publicações), sejamos os dois únicos jornalistas das cerca de duas dezenas que investigaram o caso mais proximamente a sentarmo-nos no banco dos réus.
Escolheu começar o livro com Carlos Santos Silva. Porquê?
Carlos Santos Silva é o grande pivô de José Sócrates. É a chave de toda esta investigação. É ele o dono do dinheiro ou não? Essa é a grande resposta a que tem de se responder.
Pensa que ele é a peça fundamental na acusação, portanto?
Sim. Se Carlos Santos Silva decidir agora revelar que o dinheiro afinal não era dele, o caso acaba. E acaba no sentido em que Sócrates é condenado sem qualquer tipo de hipóteses. Carlos Santos Silva era a pessoa em quem Sócrates alegadamente confiava para guardar o dinheiro dele. E a confiança era de tal forma cega que Sócrates nem sequer era beneficiário do dinheiro em offshore. Carlos Santos Silva tem, a partir deste momento, o poder de esclarecer isto de uma vez por todas. Basta uma palavra dele em tribunal.
Achas que isso é possível? Carlos Santos Silva dizer que o dinheiro afinal não era dele mas sim de José Sócrates?
Acho que é muito difícil isso acontecer. José Sócrates criou uma espécie de religião à sua volta. As pessoas são-lhe absolutamente leais. Ele tem um magnetismo e um carisma de tal modo fortes que é muito difícil de explicar. Eu acabo o livro precisamente reconhecendo a minha impotência para explicar o fenómeno José Sócrates. Ele é um homem que provoca muito mais dúvidas do que certezas, precisamente por ser muito imperscrutável interiormente, mas depois ser muito decifrável na relação que tem com as outras pessoas. E pode ser eventualmente na relação que ele tem com os outros — que é uma relação de autoridade, domínio, influência e sedução — que nós poderemos chegar a uma conclusão definitiva sobre aquilo que ele é. Eu ainda não cheguei.
Esse magnetismo que José Sócrates tem não se verifica apenas com o seu núcleo pessoal, não é verdade? Ainda há eleitores que o defendem cegamente.
Sim, completamente. Eu próprio já tive problemas familiares por causa disso. Há pessoas que efetivamente continuam a acreditar que isto é uma mega conspiração inventada por alguém, alguma criatura transcendental, para abater o melhor primeiro-ministro de todos os tempos em Portugal. E nem perante os factos transpostos para a acusação as pessoas cedem sequer à tentação de colocar a possibilidade de ele ser culpado. Eu não sei se ele é culpado ou não, mas há coisas muito concretas que ele próprio já reconheceu.
Como por exemplo?
Estamos a falar de um ex-primeiro-ministro que já reconheceu que viveu à custa de um empresário com quem o estado teve negócios de milhões. Isso é um facto. E é commumente aceite como sendo eticamente reprovável. Eu não consigo perceber como é que estas pessoas que o cercam e que o seguem não percebem isto. E depois há tudo o resto, factos que constam da acusação. Há coisas absolutamente indesmentíveis. Será que não provoca alguma inquietação às pessoas a utilização de códigos numa conversa entre amigos? Porque é que se fala em envelopes ou em garrafas de vinho quando se pode falar em dinheiro? Porquê? Porque é que uma pessoa utiliza linguagem cifrada? Seguramente terá alguma coisa para esconder. José Sócrates disse que entre amigos, se criava ali uma linguagem em código. Eu não conheço nenhuma pessoa que tenha esse tipo de linguagem.
Depois de Carlos Santos Silva, o livro segue para Domingos Farinho, alegado autor de dois livros de José Sócrates e que recebeu 100 mil euros por eles. Porquê este caso em particular, quando há outros mais flagrantes na acusação ao ex-primeiro-ministro?
O capítulo de Domingos Farinha é importante no sentido de mostrar uma dimensão de José Sócrates que é extremamente relevante — por um lado, o facto de não ser ele a escrever os livros dele; por outro, o esquema que ele montou para comprar os seus próprios livros.
Para ser um sucesso de vendas.
Isto revela duas coisas. Primeira: preguiça intelectual, e isso contribui para definir o seu carácter. Segunda: um gigantismo em termos de ego absolutamente brutal. José Sócrates não colocava a possibilidade de o livro dele não estar no primeiro lugar do Top de vendas.
“Há pessoas que efetivamente continuam a acreditar que isto é uma mega conspiração inventada por alguém, alguma criatura transcendental, para abater o melhor primeiro-ministro de todos os tempos em Portugal.”
Porquê?
Porque José Sócrates só pensa em grande. José Sócrates é incapaz de falar em construir um edifício — para ele só faz sentido construir uma cidade.
Neste capítulo aproveita também para falar sobre a forma como José Sócrates gere a relação com os jornalistas.
Há um episódio que conto com a jornalista da “Sábado”, Maria Henrique Espada, que descobriu que ele ia lançar um livro sobre tortura. Ela quis fazer uma notícia, telefonou-lhe e ele garantiu-lhe que era mentira, que não havia livro. Maria Henrique Espada guardou a história na gaveta, mas uma semana depois viu-a publicada no “Expresso”. Afinal havia livro. Telefonou-lhe, e ele disse-lhe: “Pois, para começar a senhora não é ninguém para me pedir justificações, normalmente é ao contrário. Depois, disse-lhe que a haver livro, não seria sobre tortura, seria sobre tortura em determinadas circunstâncias.”
Alguma vez se sentiu pressionado diretamente por José Sócrates?
Por parte dele não, senti por parte das pessoas que o envolviam, que o cercavam, que o rodeavam. Sim, algumas vezes. Mas isso é daquelas coisas a que não atribuo nenhum significado. É normal no exercício da minha profissão, quando uma pessoa decide ser jornalista e abordar este tipo de temas. O que seria estranho era se estas coisas não acontecessem.
As pressões existem, e existem em todas as áreas. Faz parte. O que pergunto é se não sentiu que José Sócrates foi longe demais da tentativa de controlar a imprensa.
Claro. Por alguma razão o procurador de Aveiro disse que ele tinha em marcha um atentado ao estado de direito. Nunca houve nenhum político como José Sócrates, tão verdadeiramente preocupado com aquilo que se publicava sobre ele na comunicação social. E agora sabe-se porquê. De facto, e uma vez mais a acreditar na acusação, ele tinha muitos rabos de palha. Porque é que ele começa a pressionar a TVI e decide acabar com o “Jornal Nacional” de Manuela Moura Guedes? Porque a TVI estava a publicar material profundamente comprometedor para ele. Foi a TVI que divulgou um vídeo em que um administrador do Freeport diz que José Sócrates é corrupto. Depois aparece o escândalo Face Oculta.
Nessa altura a comunicação social começa a ser um problema para José Sócrates.
José Sócrates percebeu que a comunicação social estava a ir à frente da justiça, estava a fazer uma investigação paralela. Daí essa necessidade absoluta de a tentar controlar. Por outro lado, há aqui um problema de ego também. Sócrates sempre esteve muito preocupado com o lugar que ocuparia na História. Ele regressa a Portugal de Paris por causa disso. Ele regressa para fazer um programa de comentário na RTP e reescrever a História. Ele sai da política pela porta pequena, não se conforma com as notícias e artigos de opinião que vão saindo na comunicação social a criticarem-no. Regressa para ajustar contas com toda a gente e para reescrever o seu papel. Mais uma vez, por uma questão de ego.
E também porque ainda lhe faltava chegar a Belém.
Sim. A partir do momento em que rescrevesse a sua história — em que colocasse a dúvida metódica na população se de facto tinha sido ou não responsável pela desgraça do País —, então arrancaria para Belém. Estava seguramente na cabeça dele, ele achava que tinha condições para chegar à presidência. Como hoje.
Acha que José Sócrates ainda pensa em voltar para a política?
Eu não sei se ele está absolutamente convencido que a carreira política dele acabou. 99,99% das pessoas deste País acreditam que isso aconteceu, mas José Sócrates e mais duas ou três pessoas que o rodeiam ainda acreditam provavelmente que isto ainda não acabou. Que ainda só vai no início.
No segundo capítulo fala de Fernanda Câncio, ex-namorada de José Sócrates. Porquê, tendo em conta que ela nunca foi suspeita na Operação Marquês?
Por um motivo muito simples: todo o processo começa com as denúncias de que José Sócrates vivia um estilo de vida que não tinha nada a ver com aquilo que ele ganhava. Ele tinha rendimentos declarados de cerca de dois mil euros, que são a pensão dele enquanto deputado, e gastava muito mais. Vivia em Paris, viajava frequentemente entre Paris e Lisboa, sustentava não sei quantas pessoas, fazia férias na neve em grandes estâncias, passava o Carnaval em Veneza, a Passagem de Ano no Rio de Janeiro. Portanto, era um estilo de vida que não se coadunava.
E o que é que Fernanda Câncio tem a ver com isto?
Fernanda Câncio, enquanto namorada, acompanhava-o nesse estilo de vida, fazia férias com ele. Portanto, ela não tem nada a ver com os crimes que José Sócrates terá praticado, mas é uma interveniente ativa no estilo de vida que o ex-primeiro-ministro levava. E é essa a importância que ela tem para o processo. Enquanto testemunha, ela é importante porque esteve lá. Ela pode relatar aquilo que José Sócrates fazia com o dinheiro. E isso é muito importante porque foi o início do processo.
Mas Fernanda Câncio garante que José Sócrates vinha de uma família com dinheiro.
Sobre isso só tenho a dizer uma coisa: acho que a Fernanda Câncio é muito distraída. Ou é burra, ou é muito distraída.
Saltemos para Hélder Bataglia e Ricardo Salgado, que refere no terceiro capítulo do livro. São duas figuras fundamentais na acusação a José Sócrates?
Sim, o Hélder Bataglia foi nuclear para que o processo atingisse outra dimensão. Ele fez um depoimento em Angola, onde não disse nada. A dada altura, os investigadores conseguiram que ele viesse a Portugal prestar depoimento, dando-lhe a garantia de que não seria preso. Ele vem e diz uma coisa fulcral: “Ricardo Salgado pediu para utilizar a minha conta em offshore para fazer chegar dinheiro a Joaquim Barroca, que por sua vez o deu a Carlos Santos Silva, ou seja, a José Sócrates”. A partir do momento em que eles têm alguém que diz isto, eles conseguem fazer a ligação entre o alegado corruptor e o alegado corrompido. Isto foi crucial para que a investigação desse um salto gigante e se transformasse naquilo que é hoje.
O que é que achou da entrevista que José Sócrates deu na RTP no passado domingo, 15 de outubro?
Esta foi a primeira entrevista em que verdadeiramente alguém conseguiu colocar José Sócrates em apuros. Vítor Gonçalves foi trabalhador, corajoso, profissional, e José Sócrates pela primeira vez saiu de um estúdio derrotado. Colocado em causa. Desse ponto de vista, esta entrevista é histórica. Não é normal isto acontecer, José Sócrates é o entrevistado mais difícil da sociedade portuguesa. Quando vai para um estúdio, ele é um entrevistado difícil porque de facto tem arte de retórica, mas ainda mais difícil porque para ele não há regras. Os jornalistas apesar de tudo têm regras, que são definidas pelo código deontológico e pelo bom senso. José Sócrates.
Como assim?
Se for preciso dizer uma mentira, pregar uma rasteira, colocar o jornalista pessoalmente em causa, José Sócrates fá-lo. Aliás, fê-lo com Vítor Gonçalves quando qualificou a última pergunta, que foi possivelmente a mais importante, de como é que ele vivia agora, como sendo do “Correio da Manhã”. Em vez de lhe responder, o que é que ele quis dizer? “Você é um jornalista sem nível”. Isto é um ataque pessoal. José Sócrates não se inibe de descer o nível.
Mas não sente também que nessa última pergunta José Sócrates não sabia efetivamente como responder?
Claro. Ele ficou em apuros. Era a última pergunta a que ele queria responder. Há uma primeira pergunta, que acho que é fundamental: “O senhor é corrupto ou não?”. É uma ótima pergunta. Mas a essa ele pode responder tranquilamente: “Não, não sou”. Agora, a última pergunta é “como é que o senhor vive?”. E a essa ele se calhar não pode responder com honestidade. Porque, de facto, ele gasta milhares de euros. Já nem digo nos advogados, os advogados até podem fazer o trabalho de graça.
Mas existem as custas judiciais.
Tendo em conta os recursos que ele apresentou, mais de 30, os processos contra jornalistas — e não são processos são irrisórios, ele pede sempre 500 mil euros e quanto maior for o valor da indemnização que é pedida, maiores são as custas judiciais. Isto não é pagável com a pensão que ele diz que o sustenta. Não é, pura e simplesmente. Portanto, onde é que ele vai buscar dinheiro tendo em conta que diz que vendeu a casa para pagar a alegada dívida a Carlos Santos Silva? É uma pergunta perfeitamente legítima, que ainda se coloca hoje: assim como em 2014 a investigação partiu da pergunta “como é que ele tem este estilo de vida tendo em conta os rendimentos que tem?”, quatro anos depois a mesma pergunta ainda não é passível de ser respondida.
Ao longo desta entrevista já falámos bastante sobre a personalidade de José Sócrates. Pedia-lhe que me desse três características que acha que são fundamentais nele.
O carisma, egocentrismo e autoritarismo. Acho que é isso.
Acha que é possível José Sócrates ser inocente?
Há sempre uma possibilidade. Há sempre uma dúvida razoável. Mas é uma possibilidade milimétrica, tendo em conta aquilo que é conhecido da acusação, eu diria que José Sócrates está em larga desvantagem à partida para o julgamento. Se José Sócrates não for condenado — e não estou a dizer com isto que desejo que seja condenado —, todos os princípios basilares da justiça e da investigação judicial em Portugal são postos em causa. E esse é um dos pilares da democracia. Aquilo que está em jogo neste processo não é José Sócrates, não é um ex-primeiro-ministro, são as estruturas da democracia portuguesa. Se o processo não resultar numa clarificação absolutamente incontestável, nós vamos ter que discutir tudo sobre os princípios basilares que nos regem. E aí não sobraria pedra sobre pedra.