O plano inicial do Papa Francisco era que a sua autobiografia fosse lançada apenas após a sua morte. No entanto, o Jubileu da Esperança fez com que mudasse de ideias. Agora, com 88 anos, tornou-se no primeiro Papa a lançar um livro deste estilo em vida. “Esperança” chegou às livrarias de mais de 100 países, incluindo Portugal, esta terça-feira, 14 de janeiro.
No título, o primeiro Papa da América Latina fala abertamente sobre o seu estado de saúde e garante aos seguidores que não têm razões para ficarem preocupados, ele que tem sido frequentemente visto numa cadeira de rodas — algo que confessa acontecer apenas devido à idade avançada e a dores nos joelhos e nas costas. “A realidade é bastante simples: estou velho”, escreveu. “A Igreja é governada com a cabeça e com o coração, não com as pernas.”
Os últimos dois anos ficaram marcados por alguns sustos de saúde. Em 2021, por exemplo, foi sujeito a uma cirurgia para tratar uma diverticulite — uma doença gastrointestinal caracterizada pela inflamação dos divertículos – bolsas anormais que se desenvolvem na parede do intestino grosso — e em 2023 para tratar de uma hérnia.
“Sempre que um Papa fica doente, ouve-se o vento da conclave a segredar”, escreveu no livro, referindo-se à reunião secreta dos cardeais católicos que escolhem o próximo Papa. “A verdade é que, mesmo durante esses dias de cirurgias, nunca me pensei em retirar”.
“‘Esperança’ é a primeira autobiografia alguma vez publicada por um papa. Uma autobiografia completa que remonta ao início do século XX, com as raízes italianas e a emigração aventureira dos antepassados para a América Latina, desenvolvendo-se através da infância, dos entusiasmos e perturbações da juventude, a escolha vocacional, a maturidade, até ao seu pontificado e ao tempo presente”, lê-se na sinopse.
“Ao narrar as suas memórias com uma profunda força narrativa, Francisco aborda também as questões cruciais do pontificado e desenvolve com coragem, franqueza e profecia os temas mais importantes da contemporaneidade: guerra e paz (incluindo os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente), migrações, crise ambiental, política social, condição da mulher, sexualidade, desenvolvimento tecnológico, futuro da Igreja e das religiões.”

Ao longo do livro de 303 páginas, complementado por muitas fotografias privadas e inéditas, provenientes do seu arquivo pessoal, o Papa também fala sobre algumas das decisões consideradas controversas que tomou desde que está no poder, como a decisão de deixar os padres abençoarem casais homossexuais, algo que, deixa bem claro, depende de caso para caso. Destina-se a “todos aqueles que, reconhecendo-se desamparados e necessitados da sua ajuda, não reivindicam a legitimidade da sua própria condição”, lê-se numa declaração partilhada em dezembro de 2023 no “Fiducia Supplicans”. A decisão gerou muito debate na Igreja e bispos de muitos países, especialmente no continente africano, não deixaram que os padres implementassem esta medida.
A obra foi escrita com Carlo Musso, ex-diretor editorial de não-ficção da Piemme e da Sperling & Kupfer. “Foi uma aventura longa e intensa que ocupou os últimos seis anos: o trabalho de redação começou em março de 2019”, comentou.
Já o Papa Francisco afirma que o livro “é o relato de um caminho de esperança que não posso imaginar separado do da minha família, da minha gente, de todo o povo de Deus”. “É também, em cada página, em cada passo, o livro de quem caminhou junto de mim, de quem nos precedeu, de quem nos seguirá”, diz na introdução de “Esperança”.
“Uma autobiografia não é a nossa literatura privada, é mais o nosso saco de viagem. E a memória não é apenas o que recordamos, mas o que nos circunda. Não fala unicamente do que foi, mas do que será. Parece que foi ontem, mas afinal é amanhã. Tudo nasce para florir numa eterna primavera. No fim, diremos apenas: não recordo nada em que Tu não estejas”, conclui.
O título já está disponível nas livrarias nacionais. Atualmente, custa 19,76€, graças a um desconto de 10 por cento (o valor habitual será de 21,95€). Em Portugal, foi publicado através da editora Nascente.