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José Rodrigues dos Santos: “Escrever é questionar, é pôr em causa, e isso frequentemente desagrada”

O jornalista e autor acaba de lançar “O Protocolo Caos”, a nova obra que fala sobre como “as redes sociais estão a destruir as nossas sociedades”.
Saiu no final de outubro.

“Vamos viajar até à Rússia de Putin e à América de Trump e compreender de que modo estamos a ser manipulados pelas redes sociais para que a Rússia nos domine a todos”, começa por afirmar à NiT José Rodrigues dos Santos. “Nunca podemos esquecer que o projeto de Putin é criar uma Rússia que vá de Vladivostoque a Lisboa. Como nos tencionam eles conquistar?”

O entusiasmo é notório e facilmente explicável: trata-se do enredo do novo livro do pivô da RTP. Um romance “que explica” todo este cenário ficcionado, mas altamente enraizado na realidade e na atualidade da política internacional. Tudo isto está na base de “O Protocolo Caos”, obra lançada em Portugal a 24 de outubro e que narra uma história cheia de política e reviravoltas.

A apresentação decorreu no passado sábado, 26 de outubro, num evento que contou com Nuno Rogeiro, investigador e analista de temas de política internacional, que manifestou algumas reservas sobre a ligação do romance ao cenário político atual. “Foi pena o Nuno ter tido de sair a meio da sessão, pois senão ter-lhe-ia mostrado a minha interpretação dos factos”, começa por responder o autor, que aponta precisamente para a figura de Trump e as suas ações no romance, que suscitam a questão: será o presidente dos EUA um agente duplo russo?

“O comportamento de Donald Trump [no livro] está em consonância com a interpretação de algumas das principais figuras do mundo dos serviços de informações, desde os antigos diretores da CIA, John Brennan e Michael Hayden, até ao antigo diretor do FBI, James Comey, passando
pelo antigo diretor-adjunto da CIA, Michael Morell, pelo ex-conselheiro de segurança nacional de Trump, John Bolton, e pelo ex-chefe de gabinete de Trump, o general John Kelly”, conclui. “Mas é natural que haja outras interpretações, sem dúvida com os seus méritos, não vejo qualquer
problema nisso.”

A obra começa com um massacre perpetrado por um homem encapuzado. Quanto retira a máscara, percebemos que o assassino é Tomás Noronha, o suposto herói da trama. Perceber o porquê de ter levado a cabo este massacre é o ponto de partida do título. Além de Tomás, a obra é protagonizada por um agente russo e por um eleitor trumpista que, embora sejam fictícios, foram inspirados em pessoais reais.

Para os criar, José Rodrigues dos Santos tentou perceber como é que o cidadão comum é manipulado pelas redes sociais, sobretudo pela propagação de fake news e de teorias da conspiração, de modo a tomar decisões que vão contra os seus próprios interesses. “As redes sociais estão a destruir as nossas sociedades”, assevera o autor, que opta pelo uso de “personagens ficcionais para descrever o que se está realmente a passar no nosso mundo”.

Embora não sejam personagens ativas, tudo em “O Protocolo Caos” depende de Donald Trump e Vladimir Putin. “O livro mostra como Putin quer destruir o Ocidente, neutralizar a NATO, extinguir a União Europeia e vassalizar a Europa — e como Trump é um dos instrumentos fundamentais desse projeto.”

O facto de o livro ter sido lançado pouco antes das eleições presidenciais nos Estados Unidos foi uma coincidência, até porque, aponta o autor, todos os seus títulos foram publicados em outubro, embora não negue a pontaria da escolha. Para Rodrigues dos Santos, a coincidência poderá ajudar as pessoas a perceberem “aquilo que está em jogo”.

Tem 624 páginas.

A trama esteve sempre muito bem definida na mente do autor: “Criar uma intriga que mistura espionagem e thriller e usá-la para expor a grande manipulação que a Rússia está a exercer sobre o Ocidente para o destruir, atuando diretamente através das redes sociais e indiretamente através de cavalos de Tróia”. Trump é, para o jornalista, um destes cavalos de Tróia.

“Um escritor, para ser verdadeiramente um escritor, tem de ser alguém que enfrenta os mitos, os dogmas e os tabus, que põe tudo em questão e, ao fazê-lo, tudo clarifica. A literatura serve para nos ajudar a compreender o mundo, para dizer o que não pode ser dito e que, ao ser dito, muda o mundo”, explica, reafirmando que não há qualquer receio no momento de tocar no nome de políticos poderosos. “Se tivesse medo, não era escritor.”

“Leiam-se os romances ‘O Crime do Padre Amaro’, ‘Madame Bovary’ ou ‘1984’ e percebe-se o que eu quero dizer. Muitas vezes os escritores são demonizados no seu tempo, aconteceu com Orwell, D H Lawrence, Flaubert e tantos outros, mas o que eles escreveram foi fundamental para que as mudanças acontecessem. Escrever é questionar, é pôr em causa, e isso frequentemente desagrada.”

A obra de 624 páginas, publicada pela Planeta, pode ser adquirida nas livrarias por 20,25€, graças a um desconto de 10 por cento — o valor sem promoção será de 22,50€.

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