Livros
As semelhanças (e diferenças) entre “A Rapariga no Comboio” e o novo livro de Paula Hawkins
“Escrito na Água” chega às lojas portuguesas esta terça-feira, 2 de maio. A história é completamente diferente mas há certos elementos que já são recorrentes na escrita da britânica.
Autora vai estar em Portugal em junho
Aos 41 anos precisava do dinheiro do pai para sobreviver. Depois, “A Rapariga no Comboio” fez dela milionária e continua a ser o livro mais vendido em Portugal desde 2015. Paula Hawkins regressa às lojas esta terça-feira, 2 de maio, com “Escrito na Água” (16,91€), editado pela Topseller.
A história volta a ser contada por mulheres e tem elementos de suspense semelhantes ao thriller de Rachel, uma alcoólica que vê algo através da janela de um comboio que vai mudar a sua vida e a de pessoas que nem sequer conhece. Desta vez, é numa localidade à beira-rio que acontecem mortes suspeitas.
O livro de 2015 e a nova obra têm histórias bastante diferentes mas há elementos na escrita de Paula Hawkins — que vai estar em Portugal este ano, na Feira do Livro de Lisboa — que já começam a ser frequentes, como as narradores mulheres ou os homens que são sempre violentos.
A NiT já leu “Escrito na Água” e revela-lhe quais são as semelhanças e as principais diferenças dos dois livros. E não se assuste, não há spoilers.
O comboio e o rio
Em “A Rapariga no Comboio”, Rachel fazia todos os dias o mesmo trajeto, de casa para Londres e ao contrário. Era da janela do comboio que observava as casas e as pessoas, imaginava as suas vidas e inventava histórias na sua cabeça. Foi também numa dessas viagens que assistiu a uma cena que influenciaria toda a história (e mais não dizemos porque pode haver ainda três pessoas no mundo que não tenham lido o livro). Aqui o comboio é o elemento que faz as várias ligações e desencadeia todos os acontecimentos.
“Escrito na Água” desenvolve-se todo à volta de um rio — ou melhor, o rio envolve a localidade de Beckford e afeta a vida de todos os seus habitantes. É lá que tomam banho, que pescam, recuperam energias mas é também um cenário de tragédias e lendas. O Poço das Afogadas é conhecido pelos misteriosos suicídios de várias mulheres.
Memórias recalcadas
Paula Hawkins começou a pensar em alguém com problemas de memória como uma consequência por beber demasiado. Rachel, a protagonista de “A Rapariga no Comboio”, não tinha recordações ou lembrava-se apenas de uma versão das coisas que não correspondia à realidade. Isso tornava-a vulnerável e facilmente manipulável e era um problema que ela tinha de combater durante toda a história.
Em “Escrito na Água” há duas personagens com memórias deturpadas, embora nenhuma delas por causa do álcool. Sean carrega um trauma relacionado com a morte da mãe, no Poço das Afogadas; Jules tentou esquecer por completo o que lhe aconteceu na adolescência, quando tinha excesso de peso e era um fardo para todos, até para a própria irmã.
As mulheres comandam a história
Rachel, Anna e Megan. Os acontecimentos de “A Rapariga no Comboio” são contados do ponto de vista destas três mulheres. Nenhuma é ingénua, todas têm defeitos e acusações umas contra as outras mas acabam por estar ligadas contra a mesma ameaça.
O novo livro de Paula Hawkins tem mais narradoras: Jules, Lena, Erin, Louise, Nickie (há ainda outras cujas histórias são contadas na terceira pessoa). Cada uma vê a realidade de forma diferente e, tal como em “A Rapariga no Comboio”, nenhuma delas partilha qualquer laço de amor ou amizade, pelo contrário. No entanto, as circunstâncias vão juntá-las.
Homens violentos
Tom, o ex-marido de Rachel e marido de Anna, revela-se manipulador, sem escrúpulos e violento. Mesmo Scott, marido de Megan, que está genuinamente a sofrer com o desaparecimento da mulher, é possessivo, ciumento, desconfiado e vasculha as coisas dela.
Os homens são todos maus. Isso é visível em “A Rapariga no Comboio” e também em “Escrito na Água”. Os protagonistas masculinos de Paula Hawkins tratam mal as mulheres, são física e psicologicamente abusivos e não há mesmo nenhum que escape a este estereótipo.
As mortes
Com o estrondoso sucesso de “A Rapariga no Comboio”, Paula Hawkins terá feito duas descobertas. Para funcionar, as suas histórias devem ser contadas por várias vozes (sendo as mais importantes de mulheres) e ter mortes ou desaparecimentos como ponto de partida. Ao longo dos livros, vão passando várias teorias — crime ou acidente, quem é o culpado — pela cabeça do leitor e as revelações inesperadas é que fazem toda a diferença.
“Escrito na Água” requer mais paciência do que “A Rapariga no Comboio” porque há mais personagens, o que pode tornar as coisas confusas e dispersas no início, e as respostas demoram tempo a aparecer — mas estão lá e vale a pena esperar por elas até ao fim.