Jorge Nuno Pinto da Costa, o dirigente desportivo com mais títulos e o mais antigo do futebol mundial, morreu este sábado, 15 de fevereiro, aos 87 anos, vítima de doença prolongada. O ex-presidente do FC Porto, clube ao qual se dedicou durante mais de 40 anos, foi diagnosticado com cancro da próstata em 2021, doença com a qual travou uma árdua batalha desde então.
O último ano de vida do dirigente desportivo ficou marcado pelo agravamento do seu estado de saúde e pela sua saída da presidência do clube azul e branco, após a derrota nas eleições para André Villas-Boas. Um mês antes de deixar o cargo, estreou na Prime Video uma série documental que retrata a sua vida e carreira, já com um tom de despedida.
Intitulada “Senhor Presidente: o Campeonato de uma Vida”, a série, lançada em março de 2024, é composta por três episódios e oferece um olhar íntimo sobre os 86 anos de Pinto da Costa, narrando uma trajetória repleta de desafios e obstáculos, que se transformaram em triunfos, tanto na esfera desportiva como na pessoal.
“É um apaixonado por desporto, mulheres, fado e poesia. Mas foi a sua maior paixão, o FC Porto, que lhe deu palco mundial. Os seus discursos tornaram-no sinónimo de uma região, uma cidade, um clube”, lê-se na sinopse.
A produção inclui depoimentos de familiares, amigos e várias personalidades que cruzaram o seu caminho ao longo da vida, como José Mourinho, Florentino Pérez, Joan Laporta, Angel Gil, Futre, Madjer, Deco, Pepe e o ex-Presidente da República Ramalho Eanes.
Ao longo dos três episódios, Pinto da Costa recorda momentos marcantes, como a expectativa de receber cartas da família quando estava internado num colégio, e o apoio da mãe na decisão de se tornar presidente do clube do seu coração. Naquela época, o FC Porto ainda não tinha um símbolo definido; como explica à neta Jasmim na produção, foi ele quem instituiu o dragão, que hoje é o emblema máximo do clube.
A série também revisita conquistas memoráveis, como a vitória na Taça dos Clubes Campeões Europeus (atualmente Liga dos Campeões) em 1987 e a conquista da Taça Intercontinental em 2004. Contudo, não faltam referências a episódios controversos da sua presidência, como o caso do Apito Dourado, em que foi acusado de corromper árbitros, além de outras alegações de tráfico de influências e corrupção desportiva.
A produção conta ainda com testemunhos importantes de outras figuras conhecidas como Iker Casillas, Vítor Baía, Herman José, Joana Marques, Fernando Santos, Rui Moreira, Valentim Loureiro ou Rui Reininho.
As gravações da série documental, realizada por Cristina Arvelos, decorreram durante um ano, começando com o lançamento da fotobiografia do presidente do Futebol Clube do Porto, “Largos anos têm 14.600 dias”, a 16 de dezembro de 2022, no Estádio do Dragão.
O livro de despedida
Após o documentário, chegou o último livro de Pinto da Costa. Em outubro do ano passado, em outubro de 2024, depois da derrota nas eleições para a presidência do clube, o dirigente lançou o livro “Azul até ao Fim”, uma obra mais centrada na sua vida desde que foi diagnosticado com cancro.
“O primeiro dos meus últimos dias”. Foi este o primeiro pensamento de Pinto da Costa quando o médico lhe disse que tinha um tumor maligno. “É um grande choque e emoção [receber o diagnóstico]. Quem já passou por isso, sabe o que significa. Quem não passou, espero que nunca passe. A partir daí, as decisões que tomei foram do fundo do meu coração. Resolvi escrever para mim, porque era uma maneira de desabafar e me confortar”, explicou o ex-presidente durante a apresentação do livro, citado pela “Renascença”.
Pinto da Costa começou a escrever o livro no dia em que recebeu a notícia da sua doença, partilhando, ao longo de 200 páginas, as suas reflexões, inquietações e sentimentos sobre os seus derradeiros três anos de vida. “Terminou-os às três da manhã, deixando registadas três decisões: nunca mais perder tempo com os inimigos, aproveitar os dias que lhe restavam para conviver com aqueles de quem gostava e lutar até ao último dia pelo FC Porto”, lê-se na sinopse.
O livro aborda não só a sua saúde, mas também a perda de amigos próximos, os natais em família, os 42 anos de presidência, a última época desportiva, o seu quotidiano no clube, o último título, a decisão de não se recandidatar e a reversão dessa decisão, bem como as eleições em que saiu derrotado.

“São todas essas páginas que Pinto da Costa torna agora públicas, num livro que emociona e espanta, e termina com a partilha daquilo que pretende para o seu funeral, incluindo quem quer, e quem não quer, que nele esteja presente”, refere a editora. Nesse dia, que aconteceu este sábado, 15 de fevereiro, “os adeptos do clube que tornou referência internacional chorarão a perda do maior dos seus”.
Em “Azul até ao Fim”, Pinto da Costa expressa o desejo de uma cerimónia simples e apresenta uma lista de pessoas que não gostaria que comparecessem ao seu funeral, previsto para segunda-feira, 17 de fevereiro, na Igreja Paroquial de Santo António das Antas.
Além dos elementos da atual direção, não pretendia que alguns ex-atletas, como Antero Henrique, Hélton Maniche e Eduardo Luís, estivessem presentes, considerando-os traidores. “Não quero mal a ninguém. Mas, uma vez que tanto prejudicaram a paz dos meus últimos dias, não gostaria que lá estivesse alguém da atual direção do clube e nenhum dos ex-jogadores que sempre estiveram comigo e me traíram”, escreveu.
Por outro lado, desejava ter no seu funeral nomes como António Henriques, Pedro Pinho, Fernando Póvoas, Luís Gonçalves, Sandra Madureira e Fernando Madureira. A capa do livro, na qual aparece apoiado num caixão coberto com a bandeira do clube que lhe trouxe 2.591 títulos em 21 modalidades, foi concebida pelo próprio autor.
“Azul até ao Fim”, disponível por 15,93€, é a quinta obra de Pinto da Costa, que já tinha publicado anteriormente “A Chama do Nosso Dragão”, em 2021, “Até ao Mar Azul”, em 2018, “31 Anos de Presidência, 31 Anos de Decisões”, em 2013, e “Largos Dias Têm 100 Anos”, em 2004.