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“Odeio o Meu Chefe”: o livro que precisa para fazer uma revolução no trabalho

Filipa Fonseca Silva reuniu várias histórias sobre chefes arrogantes e seus infelizes súbditos. 

Quantos de nós já nos arrastámos para uma reunião, pedindo licença a cada passo, porque já sabemos que dali só vêm banalidades? E quantos já tivemos um familiar doente que nos obrigou a ausentar-nos uns dias do trabalho? É nestas alturas que somos confrontados com a figura do “chefe”, uma espécie de suprasumo da inteligência, da sabedoria, da bondade e de tudo o resto. Tal como o querido líder da Coreia do Norte, que surge em vídeos a pilotar um airbus — porque ele sabe tudo, até aterrar aviões comerciais — o chefe português merece a nossa profunda admiração. Curvemo-nos, portanto, perante tamanha sagacidade e mostremos o significado da palavra “gratidão”. Certo?

Claro que não. E foi sobre isso mesmo que Filipa Fonseca Silva se debruçou no seu último livro, que chega esta semana às livrarias. “Odeio o Meu Chefe” (Bertrand) podia ser um manifesto sobre a incompetência suprema, um manual sobre tudo o que um líder não deve ser ou uma espécie de cardápio das relações desequilibradas entre quem manda e quem pouco mais resta do que obedecer. 

A autora do livro “Os 30 — Nada é Como Sonhámos” (foi a primeira portuguesa a entrar no top 30 de vendas da Amazon) reuniu uma série de histórias reais, vividas por trabalhadores por conta de outrem que sofreram na pele histórias que dariam uma bela comédia, não fossem tão tristes. Mas o ponto de partida foi outro, mais pessoal: Filipa e o marido já tinham tido várias histórias do género, que envolviam chefes malvados e dias infernais no trabalho.

“Um dia, o meu marido perguntou-me: ‘porque não escreves um livro?’ Fiquei a pensar no assunto e cheguei à ideia de um personagem, talvez inspirado nas tiras da Criada Malcriada, e desenhei àquele boneco”, conta a autora à NiT.

O “boneco” é uma caricatura e serve de introdução a cada uma das histórias, contadas ao longo de quase 200 páginas. São desenhos simples em jeito de tira BD, com diálogos hilariantes, seguidos de textos escritos a partir dos depoimentos que a autora recolheu ao longo de vários meses. 

“Fui ouvindo histórias de amigos e lancei um desafio aos leitores do meu blogue para partilharem de forma anónima os seus casos. Recebi muitas respostas, são tudo histórias reais, aqueles diálogos aconteceram”, conta Filipa.

É o caso do funcionário que pediu mais um elemento para a equipa e que ouviu como resposta o chefe dizer-lhe que precisava “mesmo de alguém que não levante esse tipo de problemas”, ou de uma colaboradora que questionou o porquê de a “Ana ir ao Havai com o cliente” se o cliente era seu. Resposta: “Porque ela tem umas grandes mamas e tu não”.

 

Algumas daquelas histórias aconteceram com a própria autora, em estágios e quando começou a trabalhar. Ao contrário do que se possa pensar, não são histórias exclusivas dos trabalhos menos qualificados: aconteceram em agências de publicidade, redações de jornais e um pouco por todas as áreas de atividade.

“Estes problemas são transversais, nem são apenas do género masculino, embora a caricatura seja de um chefe homem por uma questão estatística: há muito mais homens na liderança do que mulheres. Mas algumas daquelas histórias aconteceram com mulheres no poder.”

A autora recolheu também depoimentos do estrangeiro. Como aconteceu com o chefe que estava de férias num resort e ligou para a secretária: “Está lá? Liga para a receção do meu hotel e diz-lhes que não há empregados na zona da piscina há mais de 20 minutos! Ouviste?”, berrou ao telefone.

Se for um chefe porreiro, escreve a autora no livro, “daqueles organizados, que confia e sabe delegar, provavelmente está a ligar porque aconteceu alguma coisa grave (…). Se for um mau chefe, só pode vir merda…”

 

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