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Palestra nos EUA defende que “Os Maias”, de Eça de Queiroz, é uma obra racista

Os argumentos têm a ver com a linguagem utilizada. A palestra online aconteceu a 18 de fevereiro.
"Os Maias" foram publicados em 1888.

Foi a 18 de fevereiro que uma palestra online da Universidade de Massachusetts Dartmouth se propôs a refletir se “Os Maias”, o clássico de Eça de Queiroz, é uma obra racista. “Is Eça de Queiroz The Maias (1888) a racist novel?” foi precisamente o título desta sessão pública apresentada pela doutoranda cabo-verdiana Vanusa Vera-Cruz Lima na plataforma Zoom.

Esta é a narrativa de uma família ao longo de três gerações — sendo que Eça de Queiroz se centra sobretudo na mais nova, onde está integrada a história de amor entre Carlos da Maia e Maria Eduarda.

“A perceção e a representação de pessoas negras n’Os Maias’ dependem de agressão, desumanização e degradação. O meu objetivo é analisar a linguagem usada por Eça de Queiroz para se referir às pessoas negras, através das personagens, narração, discurso e escolha de palavras, entre outras abordagens estilísticas”, pode ler-se logo na apresentação da palestra, assinada por Vanusa Vera-Cruz Lima.

“O objetivo é trazer atenção e perceber o papel que a raça tem no trabalho de Eça ao analisar não só a linguagem racista prejudicial usada neste clássico”. A investigadora diz ainda que existe “uma descomunal admiração pela brancura detetada na narrativa”.

Segundo um texto publicado no jornal “Observador”, Vanusa Vera-Cruz Lima defendeu que esta obra do século XIX é exemplo de alguém “que perpetua sem consciência os estereótipos que legitimam e permitem a propagação do racismo”.

Entre os exemplos de linguagem presentes que possam ser considerados racistas estão expressões como as “crises de melancolia negra” de Pedro da Maia ou os olhos de Maria Monforte que parecem “negros de cólera”.

Foi também referido uma “escada escura e feia” e quartos “alegres, forrados de papéis claros”, entre outras referências em que a brancura é associada à beleza feminina.

Já Carlos Maria Bobone, que assinou o texto no “Observador”, argumenta com exemplos contrários. Pode encontrar-se n’”Os Maias” expressões como “os belos cabelos negros” da filha de Maria Eduarda e a “palidez pouco saudável” de Eusebiozinho.

Segundo a apresentação da palestra, Vanusa Vera-Cruz Lima tem um curso em Relações Internacionais feito na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, Brasil. Fez um mestrado em Linguísticas Aplicadas na Universidade de Massachusetts. Atualmente está a fazer um Ph.D em Estudos e Teoria Luso-Afro-Brasileiros na Universidade de Massachusetts Dartmouth, onde também ensina português.

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