Livros
Sabia que a Torre dos Clérigos foi escalada para promover uma marca de bolachas?
Aconteceu em 1917, e há um vídeo disso. Esta é uma das histórias que conta “Porto D’ Honra”, um livro publicado este mês, escrito por Manuel de Sousa.
Dois acrobatas espanhóis subiram sem qualquer proteção
Porto, julho de 1917. Portugal vive os tempos liberais da Primeira República e com eles vem a oportunidade de experimentar coisas novas e irreverentes. Como escalar a Torre dos Clérigos sem qualquer proteção, por exemplo. Especialmente se for para promover uma marca de bolachas. Mesmo que não pareça, é uma história real, recordada agora no livro “Porto D’ Honra”. Foi editado este mês pela Esfera dos Livros e escrito por Manuel de Sousa, o autor da página de Facebook “Porto Desaparecido”.
Dois acrobatas espanhóis, José e Miguel Puertollano, pai e filho, escalaram o monumento mais icónico do Porto. Quando chegaram ao topo, tomaram chá acompanhado por bolachas Invicta, uma marca recente que estava a ser promovida na altura. Depois lançaram panfletos para as 150 mil pessoas que estavam na rua a assistir.
Melhor do que tudo, há imagens disso — o feito ficou gravado para a eternidade para se fazer um filme publicitário chamado “Chá nas Nuvens”, produzido por Raul de Caldevilla. As bolachas Invictas esgotaram rapidamente.
Esta é uma das várias histórias contadas em “Porto D’ Honra”, com curiosidades sobre a cidade do Porto. Manuel de Sousa é um dos gestores da página “Porto Desaparecido”, com quase 100 mil seguidores no Facebook, que partilha todos os dias trivialidades históricas sobre a cidade.
Foi criada em 2012 e no ano seguinte já tinha recebido a Medalha Municipal de Mérito pela Câmara Municipal do Porto. Uma vez por mês, Manuel de Sousa organiza visitas guiadas pela cidade, sempre com temas diferentes. A próxima acontece a 18 de fevereiro e vai focar-se nas partes do Porto mais influenciadas pelos emigrantes regressados do Brasil.
Nascido na freguesia de Miragaia, no Porto, em 1965, Manuel de Sousa licenciou-se em história mas depois seguiu uma carreira na área da comunicação — foi diretor de marketing da Exponor, e hoje trabalha no departamento de comunicação da Livraria Lello.
“Sempre tive uma grande proximidade e carinho pela cidade. Acho interessante o seu carácter, como se foi moldando ao longo dos tempos. O meu episódio favorito é o cerco do Porto [1832-1833], quando a cidade passou a ter a alcunha de Invicta”, diz à NiT.
Mas a Torre dos Clérigos não se fica pela escalada.
“Ao longo dos anos, teve várias histórias curiosas. Foi usada para acertar os relógios de toda a cidade [em 1845].” A torre tinha uma engenhoca chamada meridiana, que ao meio-dia — desde que estivesse sol — acendia de forma automática, pela posição dos raios solares, um rastilho de um morteiro que disparava um tiro de pólvora seca e dizia à cidade que horas eram. “Quase toda a gente ficava a saber que era meio-dia.” Só funcionou durante 20 anos, até terem desistido por estar a causar danos ao edifício.
E que tal a origem da palavra cimbalino? “Não podíamos dizer bica, como em Lisboa, mas hoje opta-se pelo neutro e já se diz mais café.” O nome teve origem no café “Piolho”, a alcunha para Âncora D’ Ouro, inaugurado em 1883 e muito frequentado por estudantes universitários.
Foi o primeiro café do Porto a ter eletricidade e a ter uma máquina italiana La Cimbali, que deu assim origem ao termo cimbalino que se espalhou por todo o Porto.
“Porto D’ Honra” está à venda nas livrarias por 18,90€.