Com mais de 36 milhões de subscritores no YouTube, o brasileiro Luccas Neto é um enorme fenómeno de popularidade internacional junto do público infantil. O criativo — que exerce funções de ator, guionista, realizador, cantor e bailarino — é a força motriz de uma empresa com dezenas de trabalhadores.
Aquilo que começou como um canal amador de vídeos no YouTube tornou-se numa grande marca de entretenimento infantil — transversal a várias áreas. Hoje, a plataforma só representa cerca de 15 por cento da faturação da Luccas Toon.
Parte importante deste projeto são os espetáculos ao vivo. “Luccas Neto e a Escola de Aventureiros” chega agora a Portugal — onde milhares de crianças são suas fãs — para sete sessões. A 6 e 7 de novembro, a performance pôde ser vista na Altice Arena, em Lisboa.
Entre 19 e 21 de novembro vai haver espetáculos no Pavilhão Multiusos de Guimarães. Os ingressos estão disponíveis dos 20€ aos 50€. A NiT encontrou-se com Luccas Neto em Lisboa para uma entrevista de antecipação dos shows.
Quando começou a desenvolver um espetáculo a partir do seu projeto, que elementos que sabia que não podiam faltar?
Dança, muita dança, para as crianças curtirem muito. Música. E mensagens importantes. Ensinamos que a criança tem de estudar, tirar notas boas, que tem sempre de escovar os dentes, que tem de tomar banho, há muitas lições envolvidas neste espetáculo. Ensinamos o amor de irmão, que às vezes acontecem algumas confusões entre os irmãos, mas o amor tem sempre de prevalecer. São esses os três pilares: dança, música e educação.
Como é que criou a persona que interpreta nos vídeos? Porque obviamente o Luccas não é, na vida real, como nos vídeos no YouTube.
Foi um processo. Tivemos que criar marcas. O Aventureiro Azul hoje é uma marca. Tivemos que nos adaptar a isso. No começo, interpretava uma criança num corpo de adulto. Depois, percebi que esse não é o objetivo. O foco mesmo é fazer um trabalho que melhore a atuação, o grupo no seu todo. Por isso, hoje os aventureiros são adolescentes. A minha personagem tem 16 anos — e fica mais fácil de me adaptar na interpretação. Claro que tivemos de cuidar a apresentação. Por exemplo, tenho tatuagens nas pernas. Mas uso meias altas. Fomos trabalhando isso para podermos esconder as coisas que demonstram que não temos 16 anos. Para desmistificar isso na cabeça das crianças. Mas tenho uma tatuagem que não abro mão de mostrar. É uma rosa e uma esmeralda — o nome da minha mãe, Rosa Esmeralda. Só que, no nosso mundo de fantasia, não é uma tatuagem, é uma marca de nascença. E até pareço ter 16 anos [risos].
Ao mesmo tempo, o Luccas é pai e já mostrou o seu filho em vídeos…
Só nas redes sociais, que não são para crianças de três, quatro, cinco ou seis anos. Mostro o Luke às mães e pais porque faz parte da minha família e temos de partilhar esses momentos. Se eles interagem connosco, confiando no nosso trabalho e mostrando os filhos deles, acho que é gratificante mostrar-lhes um pouco da minha família. Mas agora, quanto à carreira do Luke, só lá para a frente é que ele vai decidir [risos].
Mas para si faz sentido incluí-lo nos seus vídeos daqui a uns anos, por exemplo?
Total sentido. Acho super válido ele virar um artista. Só que ele vai fazer diferente. Se quiser seguir este caminho, vai ter de estudar muito para conseguir. O pai foi na raça, aprendendo e fazendo coisas más, treinando. Mas quero que ele estude. Se e quiser seguir esta carreira, quero que vá para uma escola de música, de canto e de dança. E se Deus quiser vai ser a nossa própria escola, que estamos a preparar abrir.
É o próximo grande projeto da marca?
É um dos. Estamos com muitos projetos. Queremos lançar dois a três filmes no cinema por ano. Queremos internacionalizar a marca, por isso estamos a fazer a dobragem de todos os nossos episódios. São muitos projetos.
Provavelmente há muitas crianças que veem o Luccas na rua e deverão estranhar, tendo em conta que na vida normal terá um aparência certamente diferente daquele com que aparece nos vídeos. Como costumam ser essas abordagens?
A criança, primeiro, não acredita. Fica em choque. Diz: ele existe mesmo, não é na televisão?! Acham que somos um desenho animado. Conseguimos transformar isso graças ao trabalho de branding que fizemos. Hoje somos realmente um programa infantil, temos 50 pessoas nos estúdios a gravar os nossos conteúdos. Antigamente era apenas um youtuber. O que fazemos hoje é tão lúdico e mágico que a criança acha que sou da televisão. Por isso ficam em choque. E aí é que a mãe diz: é mesmo o Luccas Neto! Geralmente ando de boné, e nessas situações tiro e mostro o meu cabelo. Aí a criança abraça-me, agarra-me e a festa começa. Já estou totalmente habituado. Toda a gente que vem falar comigo, não importa a hora nem o momento… Existe aquela coisa de “ah, eles têm a privacidade deles”. Tudo bem, mas escolhemos este caminho e falamos com crianças. Já fui criança e é muito frustrante querer falar com um ídolo e ele ser completamente diferente da personagem. Por isso, quando uma criança me vê, a primeira coisa que faço é entrar no papel de aventureiro. Começo a interpretar ali mesmo para a criança não perder aquela magia e fantasia que tem na cabecinha dela.
Obviamente, o irmão do Luccas — o Felipe Neto — também é seguido por muitas pessoas, embora tenha um público muito distinto. O vosso trabalho acaba por se tocar nalgum ponto nos dias de hoje? Equacionam definir estratégias para os projetos dos dois?
Hoje em dia não, é muito separado. Os caminhos são muito diferentes. A minha empresa profissionalizou-se em entretenimento infantil. O meu irmão não é tão infantil. Por isso separámos bastante os assuntos. Temos companhias diferentes. No início até trocávamos muitas ideias, mas como tivemos de nos separar, como os percursos eram distintos, atualmente já não conversamos tanto sobre isso. Os poucos momentos que temos juntos deixamos para curtir a vida pessoal. Vamos jogar póquer, vamos brincar, mas esquecemos o trabalho [risos].
A família materna do Luccas é portuguesa. Que relação que tem com o nosso País?
Sinto-me em casa aqui. Mais do que no Brasil até. É bizarro. Acho que é porque a minha avó fala português de Portugal e foi ela que me educou. A minha mãe tinha que sair para trabalhar, eu ficava todo o dia com a minha avó. Tenho Portugal muito vivo dentro de mim. Quando há um jogo do campeonato do mundo, torço por Portugal [risos]. Quando é Brasil contra Portugal, fico muito na dúvida, mas gosto tanto do Cristiano Ronaldo que acabo por torcer um pouco mais por Portugal. Sinto que nasci para este lugar.
E a sua família portuguesa é de alguma região específica?
Está espalhada, mas é de Santo Tirso.