Faça uma lista mental dos maiores fenómenos da música pop nas últimas décadas. Pelo caminho, pense nos maiores programas televisivos de música do mesmo período. Seja qual for o tamanho da lista, é quase certo que, por detrás de muitas das suas escolhas, estará o nome do britânico Simon Fuller.
O empresário de 61 anos é apenas e só o criador das Spice Girls e pioneiro no conceito de girls band. Se isso o atirou para o estrelato, os anos seguintes confirmaram que Fuller tem mesmo olho para o talento — e para o negócio. Foi da sua mente que saiu o conceito da série “Pop Idol” e posteriormente “American Idol”.
Agora que chegamos a 2022, Fuller tem uma ideia bem definida do que poderá ser o próximo grande sucesso da música pop. Chamam-se The Future X e são o seu novo projeto, que nasce e habita quase inteiramente no TikTok, a rede social do momento.
O grupo é formado por sete membros, com destaque para os vocalistas principais, Angie Green, Luke Brown e Maci Wood, acompanhados pelos dançarinos Drew Venegas, Tray Taylor, Sasha Marie e Jayna Hughes.
Não são nomes famosos — por enquanto —, mas a aposta é que se tornem rapidamente em caras bem conhecidas. Os membros, todos eles nascidos nos Estados Unidos e Canadá, moram juntos em Malibu e já estão a preparar a primeira digressão, que tem arranque marcado para março deste ano, bem com concertos conjuntos com a outra nova grande banda de Fuller, os Now United.
O processo de casting arrancou em 2021, mas toda a máquina foi posta em andamento por Fuller ainda em 2020, quando assinou um contrato com a TikTok. O objetivo? Criar o próximo grande supergrupo da pop. Dois anos depois, os motores já funcionam.
@thefuturexofficial New group, Who This?! 💥 #TheFutureX
“A nova geração de estrelas pop abraçaram a plataforma e com a ajuda da audiência do TikTok, vamos criar um elenco de artistas incríveis que irão moldar o futuro da pop”, revelou à época. Desde então que, sob uma hashtag comum, milhares de candidatos mostraram os seus talentos na rede social. E ao fim de mais de 300 milhões de visualizações geradas em torno da hashtag, Fuller conseguiu escolher os sete membros.
Não se pode dizer que os The Future X tenham começado do zero. Em conjunto, os membros garantiam já uma audiência de mais de quatro milhões, com destaque para o dançarino Tray Taylor.
O projeto manteve-se em relativo segredo até esta terça-feira, 25 de janeiro, quando o primeiro single da banda foi lançado, obviamente, em exclusivo no TikTok. “This Kind of Love” acumula por enquanto umas modestas 166 mil visualizações, mas espera-se que isto seja apenas o começo.
No TikTok que serão mostradas “todas as fases da jornada criativa e pessoal” da banda. Em apenas dois dias, os The Future X já partilharam perto de uma dezena de vídeos.
O homem com a fórmula secreta
A Spice Girls continuam a ser a sua maior conquista, mas foi a criação da girls band que permitiu a Simon Fuller montar uma carreira absolutamente estonteante nos bastidores da pop.
Ao longo das últimas três décadas, o britânico geriu a carreira de nomes como David e Victoria Beckham, Annie Lennox, Steven Tyler, Amy Winehouse, Kelly Clarkson, Emma Bunton ou Carrie Underwood. Foi também agente de desportistas como Lewis Hamilton, o mais bem-sucedido piloto de Fórmula 1 da história, e Andy Murray.
Pelo caminho, idealizou a criação de outras bandas, à imagem das Spice Girls. A fórmula levou-o à fundação dos S Club 7, um dos sucessos britânicos do início dos 2000. Em 2017, adotou um processo semelhante ao dos The Future X para criar um supergrupo internacional, os Now United, que são hoje um fenómeno global.
Fuller passou da música para a televisão em 2001, quando lançou o concurso “Pop Idol” no Reino Unido, que depois transportaria para um ainda maior sucesso nos Estados Unidos, sob o nome de “American Idol”, que esteve no ar durante 15 longos anos. Recentemente, Fuller foi também o responsável pelo regresso dos ABBA numa versão em realidade virtual. Não admira que seja considerado um dos homens mais influentes do mundo, sobretudo na música e na televisão.
A era das estrelas TikTok
A fórmula de Fuller não é nova, nem no que toca à composição do grupo, nem sequer ao meio usado para atingir o sucesso. A ascensão da rede social nos últimos dois anos trouxe consigo uma série de talentos musicais que praticamente se fizeram por si só nos pequenos vídeos da plataforma.
Foi nos vídeos com trechos e rotinas de dança virais que, por exemplo, nasceram sucessos como o rapper Lil Nas X, Lizzo ou Doja Cat. Muitos dos lançamentos de novos artistas são moldados com a rede social em mente: pequenos trechos são editados e produzidos para que se tornem altamente partilháveis.
O meio mudou, mas o fenómeno parece ser altamente semelhante ao que se viveu na década passada com o YouTube, onde pequenos artistas emergentes ganhavam popularidade e se mostravam, antes mesmo de serem contratados pelas grandes editoras. Esse era o passo seguinte.
Também por isso há quem coloque em causa o potencial sucesso dos The Future X, alegando que muitos dos fenómenos emergentes conquistam o público pela sua autenticidade. Ora no caso da banda de Fuller, está quase tudo bem polido e preparado para o sucesso: um produto final e acabado que pode ser a razão da sua implosão.
Um dos exemplos paradigmáticos é a parceria já assinada pela banda com uma empresa de cosméticos, a e.l.f. Cosmetics. O contrato obrigou a que, imediatamente a seguir ao lançamento do primeiro single, a banda tivesse que lançar um novo vídeo no TikTok a promover um concurso para quem quiser ser o novo maquilhador dos membros. Um conteúdo, claro, patrocinado pela empresa de cosméticos.
Fuller parece convencido de que nada disso impedirá o sucesso do seu novo projeto. “Têm tudo o que é excitante nos novos artistas contemporâneos: autenticidade, confiança, empoderamento e um equilíbrio único entre dançarinos extraordinários e cantores icónicos.”