Os códigos de vestimenta a seguir nas discotecas variam, mas geralmente incluem peças de roupa de determinada cor, mais sexy ou elegantes. Em Berlim, contudo, a cena noturna diverge bastante, bem como os requisitos de cada espaço. Um dos mais icónicos, o KitKatClub, é reservado a clientes nus ou vestidos com peças e acessórios fetichistas muito reveladores.
“O meu desejo sempre foi que houvesse o máximo de nudez possível. No início, em 1994, quando inauguramos a casa, as pessoas frequentavam-na vestidas de forma convencional. Pensavam que iriam apenas assistir a sexo ao vivo e que não precisavam de respeitar as normas. A situação não era clara”, revela o fundador e produtor pornográfico (já fez mais de 60 filmes) austríaco Simon Thaur, em entrevista ao “The Berliner”.
Para ajudar os clientes a libertarem-se das convenções sociais, começou a oferecer tintas corporais, juntamente com a mulher e cofundadora, Kirsten Krüger, para que se sentissem menos expostos. No entanto, a ideia não teve os resultados esperados. Com receio de que o seu sonho se tornasse um fracasso, Simon, atualmente com 64 anos, decidiu assumir o papel de protagonista nas noites do clube. Assim, subiu ao palco com Kirsten e, libertos de inibições, começaram a ter relações sexuais. “Percebi que esse era o segredo”, confessa.
Antes de inaugurar a sua própria discoteca, o empresário testou a sua ideia no Turbine, que encerrou em 1996. As noites de quinta-feira estavam reservadas às suas festas, que, no início, eram tudo menos concorridas: apenas 25 pessoas compareceram nas primeiras edições. Tipicamente, era um dia da semana em que raramente se saía à noite. Contudo, quando outro promotor aceitou trocar as datas com Simon, houve um crescimento no número de clientes.
No início, o casal também andava pelas ruas a distribuir panfletos e a convidar todas as pessoas com quem se cruzavam. Com o tempo, o boca a boca fez o seu trabalho e decidiram abrir o seu próprio espaço. Durante o primeiro ano e meio, atuavam todas as noites de forma bastante explícita. “Estávamos nus e a fazer coisas muito sexuais. Embora não desejássemos que fosse uma performance no sentido estrito, esperávamos influenciar as pessoas”, recorda.
Atualmente, o KitKatClub — cujo nome é uma referência a um espaço existente no musical “Cabaret” — permanece famoso não apenas pelo nudismo, mas também pelas festas com elementos fetichistas e BDSM que organiza regularmente. A programação semanal inclui eventos variados, destinados a casais, solteiros e membros da comunidade LGBTQIA+. O estilo musical predominante é o techno.
Situado na Köpenicker Straße, no distrito de Mitte, o clube dispõe de várias pistas de dança, bares e áreas de lounge, além de espaços privados e semi-privados onde os frequentadores podem participar em atividades sexuais mais ousadas. As fotografias são estritamente proibidas.
A discoteca acabou por se tornar uma das mais emblemáticas na subcultura da vida noturna de Berlim. Devido ao seu conceito único, já foram produzidos vários documentários sobre o clube e Simon Thaur. “KitKatClub: Life Is A Circus”, por exemplo, narra a história do célebre espaço e do seu fundador, cuja vida oscila entre os aspetos sombrios e luminosos do hedonismo.
“Sejamos underground ou populares, isso não me diz respeito. Fico contente com o sucesso, mas para mim nunca foi nem será um projeto comercial. Mantemos a confiança de sempre, que é o mais importante. Continuamos a querer que este seja um espaço de liberdade de expressão e sexualidade. A energia que criámos aqui permanece inalterada. O KitKatClub nunca vai mudar”, sublinha o empresário.
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Carregue na galeria e veja algumas imagens das famosas festas fetichistas do KitKatClub.