“Já te disseram que és mesmo parecido com o Mick Jagger?” A frase começou a ser cada vez mais frequente assim que Paul Ashworth chegou à adolescência. Nunca ligou muito aos comentários. “E então?”, respondia. Na verdade, o britânico não concordava minimamente com a comparação.
“É estranho porque, ainda hoje, olho-me ao espelho e não vejo o Mick Jagger. Vejo-me a mim. Não acho que seja nada parecido com ele”, confessa à NiT o sósia profissional do vocalista dos The Rolling Stones — e que é também o vocalista de uma das mais prestigiadas bandas de tributo do grupo, os Not The Rolling Stones.
Serão eles, ao lado dos Counterfeit Beatles — que é, por sua vez, uma das maiores bandas de tributo do mundo dos The Beatles —, que animarão a noite de 13 de outubro no Casino Estoril. O Salão Preto e Prata recebe o Maior Concerto das Nossas Vidas, que contará com uma atuação especial deste Mick Jagger contrafeito. Ou melhor, uma atuação de Mike Jagger, nome de batismo escolhido pelo próprio. Os bilhetes já estão à venda na Ticketline.
As parecenças são tantas que é comum ser confundido na rua. Não só ele mas os companheiros de banda, sobretudo Adrien Pounce, cujas semelhanças com Keith Richards são igualmente espantosas, sobretudo em palco. E quem não gostaria de ser confundido com uma rock star? Pode parecer um sonho, mas não é propriamente a situação mais confortável do mundo, explica Paul.
“Lembro-me de estarmos uma vez no Mónaco. Viram-nos na rua e acharam que nós éramos os verdadeiros Rolling Stones. Começaram a pedir-me que autografasse os telemóveis com marcadores permanentes. Achei tudo aquilo uma loucura e disse ao meu agente que ia explicar-lhes que não era o Mick Jagger”, recorda. Quem não gostou da conversa foi o agente, que foi perentório. “Nem te atrevas a dizer-lhes isso. Autografa os telemóveis e pronto.”
Apesar de ter passado uma vida inteira a ser confundido com Jagger, continua a ser difícil habituar-se. É, sobretudo, um exercício de respeito, apesar de muitas vezes mentir por omissão. “Nunca tive problemas, mas é algo que me deixa nervoso. Não quero que ninguém fique chateado.”
Também por isso hesita quando o abordam na rua. “É complicado porque não quero que as pessoas se sintam estúpidas. Também não quero que fiquem desapontadas. Não gosto nada de ser abordado.”
É um preço a pagar por aquilo que se transformou numa forma de ganhar a vida. Com tantas comparações, já adulto acabou por decidir tentar fazer algum dinheiro e tornou-se num sósia profissional. Sofria e sofre com défice de atenção e portanto nunca conseguiu dedicar tempo suficiente à aprendizagem de um instrumento.
Percorreu o caminho mais fácil: criou um guarda-roupa e começou a cantar. Em pouco tempo, estava a ser convidado para eventos corporativos, depois para programas de televisão e anúncios.
A idade, não revela. “Nem à minha mãe digo quantos anos tenho”. Mas era ainda miúdo quando se apaixonou pelos Stones. “Lembro-me que a primeira canção que realmente me marcou foi a “Shine a Light do Exile on Main St.”, porque era cool, era sujo, muito longe das coisas pop que ouvíamos”, conta.
Ser um fã dos temas facilitou a transição para o papel de vocalista. Já “arranjar o guarda-roupa” é que é “uma tarefa mais difícil”. “Por exemplo, esta camisa”, explica na entrevista via Zoom, enquanto se levanta para revelar uma peça de roupa espampanante, coberta de brilhantes lantejoulas verdes. “Esqueci-me dela aqui há umas semanas num concerto e fiquei aterrorizado porque pensei que nunca mais iria encontrar algo semelhante. O guarda-roupa que uso agora levou anos a montar.”
Menos trabalho deu a transformação física em Jagger. Os maneirismos, mesmo a dançar, “não são algo consciente” — e atribui as parecenças à “forma corporal”. “O meu corpo é muito parecido com o do Jagger e acho que não passa tudo de uma coisa acidental. Quando me movo, parece que me movo como ele. Mas não é algo pensado. Sou só eu a fazer o que fiz sempre.”
Ao fim de alguns anos de trabalho a solo, achou que tudo seria mais divertido se pudesse ter uma banda. Decidiu então colocar um anúncio na secção de música de um jornal londrino. “Mick procura Keith”, escreveu, sem mais detalhes. Em pouco tempo recebeu uma chamada de um tipo que tinha uma banda. Encontraram-se e, desde 2002, que formam os Not The Rolling Stones.
Da formação original resta apenas Paul e mais um membro, à medida que “as coisas foram evoluindo”, de pequenos concertos em festas privadas a aparições em festivais. Nos primeiros anos, não faziam mais do que 10 concertos por ano. Hoje, Paul estima que façam “um mínimo de 80”.
Apesar da inexperiência, os primeiros espetáculos não foram muito difíceis. “É fácil porque começas no nível mais baixo de todos. Não começas logo pelos grandes festivais. Tens tempo para aprender, para evoluir”, conta. “A resposta do público foi sempre boa. Quando percebem que somos super semelhantes, que cantamos de forma similar, que tocamos, isso provoca aquele fator ‘wow’. A partir daí é fácil porque tens as pessoas do teu lado.”
E as fãs, são tão ousadas com este Mike Jagger do que são com o o verdadeiro Mick? “Já houve algumas abordagens inapropriadas, sobretudo porque as pessoas já estiveram a beber. Mas eu sou um homem casado, não posso entrar em detalhes”, confessa.
“Já passei por algumas experiências bizarras, mas a questão aqui é: quando os Stones estavam no seu auge e as mulheres se atiravam para cima deles, elas estavam nos seus 20. Hoje, o nosso público anda todo acima dos 40, já ninguém atira cuecas para cima do palco. São mais subtis.” Mais uma finta ao tema controverso. “É difícil mergulhar nessas histórias sem correr o risco de tocar em ilegalidades (risos).”
Recorda, contudo, o momento que mais o frustrou em toda a carreira como imitador de Jagger. Se Adrien Pounce, o Keith da banda, já “conheceu todos os membros originais” e até “frequentou por várias vezes a casa de Richards”, Paul nunca teve essa sorte.
Teve uma oportunidade de ouro, que não pôde aproveitar. “Um dia recebi um telefonema de alguém a convidar-me para aparecer num videoclipe da banda, que seria realizado pelo próprio Jagger, onde eu teria que o imitar. O problema é que eu estava a trabalhar noutro país e não conseguia ir. Foi uma pena, porque queria mesmo ter ido. Fiquei super chateado.”
Hoje, como banda de tributo, Paul assume que estão “no topo”. Além dos espetáculos ao vivo, também figuram num espetáculo teatral que corre o Reino Unido. Há, afirma, três ou quatro bandas de tributo minimamente credíveis. “Acho que sou um Jagger mais autêntico, o nosso Keith também é super autêntico. E acho que há uma Premier League, um nível de topo no que toca a bandas de tributo dos Stones e eu acho que estamos nesse nível.”
Casado e com dois filhos, Paul confessa que evita andar vestido à Jagger no seu dia a dia. “Nem a minha mulher me deixa sair à rua com as roupas brilhantes. Ela não fica nada impressionada com o que eu faço. Diz que é ‘engraçado'”, explica. A opinião dos filhos é diferente. Por agora. “São adolescentes e acho que ainda me consigo safar, acham que o que eu faço é cool. Ainda não se envergonham. É deixar passar mais uns aninhos…”
Os Not The Rolling Stones atuam no Casino Estoril a 13 de outubro. A primeira parte do espetáculo será com um best of dos temas dos The Beatles, graças aos Counterfeit Beatles. No final da noite vai haver um DJ set com as melhores músicas dos anos 60, 70 e 80.
Os bilhetes para este espetáculo único já estão à venda online: custam 35€.