A nona temporada de “The Voice Portugal” estreou na RTP1 este domingo, 18 de outubro. Entre os concorrentes que se destacaram estava Ava Vahneshan, de 22 anos, que levou uma canção de estética tradicional persa intitulada “Lalayi” ao palco do programa de talentos.
A sua voz fez virar três das quatro cadeiras dos mentores — e acabou por ficar na equipa de António Zambujo. Mas a sua história emocionou todos os presentes no estúdio (e também, claro, aqueles que assistiam em casa). Afinal, Ava Vahneshan veio para Portugal precisamente porque queria ser cantora e não iria conseguir ter uma carreira no seu país.
“Toda a minha vida estava à espera deste momento e é mesmo giro, estou super feliz [risos]. Quero agradecer a este programa e a toda a gente de Portugal que me está a apoiar. Cantar sem ter medo e livre”, diz Ava à NiT, sobre o que está a sentir algumas horas depois de o programa ser transmitido.
Desde pequena que Ava Vahneshan gosta de música e de cantar. E sempre se sentiu mais ligada à música tradicional. “O que era estranho para a minha idade, porque as pessoas da minha idade gostavam mais de pop ou rap [risos]. Mas eu gostava mais do tradicionthe voiceal e acho que temos de ir para a raiz do nosso país, da nossa cultura. Por isso decidi ter aulas de canto mesmo ao estilo tradicional do Irão.”
Quando fez 14 anos, os seus pais decidiram que podia ter aulas de canto. “Era para seguir essa área de uma forma mais séria, mas como no Irão é difícil, como as aulas são todas privadas, escondidas, na casa do professor, não é em público… Durante quatro ou cinco anos fiz essas aulas e depois disso eles perceberam que eu tinha jeito, que este é mesmo o meu sonho — ser cantora — mas lá é impossível. Não há cantoras mulheres, não podem cantar. Então decidiram emigrar para um país onde eu pudesse cantar livremente e sem nenhum problema.”
A família Vahneshan tinha uma vida “muito boa” e confortável no Irão. A mãe era professora de educação física na universidade. O pai tinha uma empresa de construção civil. Mas decidiram abdicar dos seus trabalhos e vidas no Irão para que a filha tivesse uma hipótese de tentar alcançar o seu sonho.
Porquê Portugal? Ava Vahneshan tem um tio que está há cerca de 30 anos no nosso País. Tem uma empresa de tapeçarias persa e a família já o costumava visitar nas férias. “Nós sempre visitámos o meu tio e gostámos, parece que o país tem uma cultura mais ou menos parecida com a nossa, com pessoas muito simpáticas. Por isso, claro que sinto saudades [do Irão], mas não sinto assim tanto. Aqui sinto-me mesmo em casa.”
Os três estão cá há três anos e meio. Mas o irmão de Ava também já tinha vindo para Portugal há cerca de dez anos, antes de completar os 18. “Ele também emigrou por causa de alguns problemas… Tal como há para as mulheres, também há para os homens. O exército lá é obrigatório. Se alguém quiser sair do país antes dos 18 anos pode, mas depois disso tem que fazer mesmo o exército de dois anos e tal e só depois é que pode sair.” Curiosamente, o irmão de Ava também tem uma grande ligação às artes. Estudou na área, faz teatro e participa em curtas-metragens. Já Ava, além de cantar, está no último ano do curso de Medicina Tradicional Chinesa no Instituto Português de Naturologia.
Os pais tiveram que começar do zero quando chegaram a Portugal. Afinal, a barreira da língua era um obstáculo que só com os anos têm vindo a conseguir contornar. “Por causa da língua e de tudo ser novo, tiveram que começar mesmo do zero. A minha mãe não podia dar aulas porque não sabia a língua, e o meu pai já não tinha a empresa, tinha de começar nas obras. Mas eles fizeram isso sem nenhum problema. Agora, a pouco e pouco, tudo está a ficar mais bonito. A minha mãe já está a dar aulas de natação e o meu pai está a trabalhar por conta dele.”
Por seu lado, Ava adaptou-se bastante bem à língua portuguesa. “Quis sempre aprender a língua, porque como adoro Portugal, sem aprender a língua acho que era impossível. Sem isso acho que não faz sentido. Depois de três anos, muita gente pergunta se eu já tinha aprendido no meu país, mas não [risos]. Foi aqui mesmo que comecei”, comenta, sobre o facto de o seu português ser bastante elogiado.
Quando se mudou para cá, começou a frequentar a igreja internacional Riverside, em Cascais, perto de onde vive. Além de local de culto, é lá que canta (em coro e a solo) desde que chegou a Portugal. Em persa, claro, mas também já fez experiências em inglês e em português.
“Acho que cantar não tem língua, mas para cantar bem uma canção temos de perceber as palavras para transmitir a emoção para as pessoas.” Contudo, adianta, muito provavelmente vamos poder vê-la a interpretar um tema português nesta edição do “The Voice”.
Além de gostar bastante de fado — até porque é um género de música tradicional — gosta de nomes portugueses como Carolina Deslandes ou os irmãos Luísa e Salvador Sobral.
Desde que chegou a Portugal, conta, os amigos sempre lhe disseram que devia inscrever-se no “The Voice”. “Para abrir outras portas e para o mundo me conhecer. Eu queria mesmo ser uma cantora profissional, então este ano decidi fazer isto, fi-lo e agora estou mesmo contente.”
Ava Vahneshan admite que não estava à espera de suscitar “reações tão fortes” no programa. “E como cantei noutra língua tinha um bocadinho de medo porque a língua é diferente e eles não estão a perceber as palavras, e como estão virados de costas é difícil só sentir. Mas eu dei o máximo. Eu canto sempre do fundo do meu coração, com sentimento, então achei que a música… Mas virar três cadeiras foi mesmo bom [risos]. E logo no início a Marisa a virar… também foi mesmo bom, porque me senti mais segura ainda.”
A concorrente do “The Voice” diz que não tinha pensado previamente com que mentor gostaria de ficar, mas acabou por sentir “um clique” e optou por António Zambujo. “Ver que agora tinha três opções e no meu país não tinha nenhuma… Foi mesmo um momento muito especial e foi difícil de escolher.” E como se viu no programa, os pais de Ava estão “super contentes”. “Porque estou a seguir o meu sonho e é mesmo o que eles queriam.”