Anastacia iniciou oficialmente a sua carreira há 22 anos e vai celebrar esse marco com uma digressão europeia. A cantora norte-americana era para ter assinalado, claro, o 20.º aniversário do seu percurso. A pandemia obrigou-a a adiar a tour durante dois anos.
O primeiro espetáculo da tournée “I’m Outta Lockdown” acontece precisamente em Lisboa, no Campo Pequeno, a 15 de setembro. Ainda restam alguns bilhetes à venda, entre os 25€ e os 50€. A ideia é celebrar as canções icónicas da artista natural de Chicago. Entre os temas mais conhecidos de Anastacia encontram-se “Left Outside Alone”, “Stupid Little Things”, “Paid My Dues” e “I’m Outta Love”. A cantora, que se destacou no início dos anos 2000, sempre teve um público forte na Europa.
O último disco de originais, “Evolution”, foi lançado em 2017. É o sucessor de projetos como “Not That Kind”, “Freak of Nature”, “Anastacia”, “Heavy Rotation”, “It’s a Man’s World” e “Resurrection”. Para antecipar o espetáculo em Lisboa, a NiT falou com Anastacia. Leia a entrevista.
Quão ansiosa está para começar esta digressão de regresso?
Nem sequer sei se existe uma palavra… Com a ansiedade, no bom sentido, já dou por mim a perguntar: será que já estamos a 15 de setembro? Estou muito entusiasmada porque esse dia está cada vez mais próximo, e ao mesmo tempo nervosa. Não atuo há muito tempo e este foi o período mais longo que estive sem me apresentar ao vivo — sem ser por estar doente. Só fiz pausas porque não estava bem. Isto foi algo diferente, que todos vivwmos. Sinto que a conexão neste espetáculo em Lisboa vai ser diferente de todos os outros. Todos temos a nossa própria história dos últimos dois anos e meio. Por isso, acredito que isso tudo vai sustentar aquilo que o espetáculo já vai trazer por si. O entusiasmo de atuar perante uma plateia, de ouvir música ao vivo… E não vou a Lisboa há oito anos. Há muita coisa que está atrasada há muito tempo. Antecipo que vai ser uma grande reunião.
O que faz para lidar com a ansiedade que sente?
Vou para a Europa este sábado [13 de agosto]. Assim que chegar aí e começar a ensaiar, sinto que a ansiedade vai diminuir, porque neste momento ainda não trabalhei para o espetáculo. Conheço o alinhamento, mas ainda não toquei… Os músicos que estão a trabalhar comigo são todos novos. Não é só um regresso às tours, é uma banda nova. E isso, só por si, já não acontece há uns 15 anos. É uma grande mudança. O que é adorável, porque nunca pensei que alguma vez me sentiria outra vez uma artista nova. Embora saiba que não o sou, e conheço as minhas canções, mas sinto-o. Porque é uma banda nova e isso vai dar uma perspetiva diferente aos fãs. E porque passou imenso tempo.
Como disse, já não atua em Lisboa há oito anos. Há alguma história relacionada com a cidade que guarde na memória?
Tenho uma história [risos]. Fui tocar no mesmo dia que o Sting ao Rock in Rio Lisboa [em 2006]. E eu não sabia, mas estávamos no mesmo hotel. A minha varanda era por baixo da varanda dele. O tempo estava fantástico em Lisboa e queria certificar-me de que estava bem bronzeada. Então estava a apanhar sol na varanda. E depois nos bastidores ele disse “sim, vi-te na varanda, estava por cima de ti”. E eu… [faz cara e gemido de susto]. Sentia que estava sozinha, mas, meu Deus, ele estava por cima de mim a olhar. Foi um momento… Meu deus, o Sting a ver-me apanhar sol. Nem sabia o que pensar sobre aquilo.
Já o conhecia?
Não, não. Mas adoro o tom da voz dele, gostava de um dia cantar com ele. E fiquei muito grata que ele gostasse da minha música, porque veio cedo o suficiente para assistir ao espetáculo. E enquanto artista não tens de o fazer, mas ele estava lá. E disse: “Eu vim porque queria ver o teu concerto”. E eu: a sério? E estávamos a falar e aí é que ele me falou da minha “preparação”. Qual preparação? “A tua preparação de varanda”. Foi um daqueles momentos divertidos.
Há algo que faça sempre antes de um espetáculo começar?
Não… Bem, normalmente fazia os meet and greets antes dos concertos. Gostava de o fazer assim, porque acho que a experiência com os fãs antes, e depois eles veem-te, dá-lhes uma melhor perspetiva da performance no geral. Podem conhecer-te, essa bolha rebenta e depois veem-me no palco e imediatamente têm a sensação de: “Eu conheço-a”. Para esta tour não tenho meet and greets marcados, não sei se irei fazê-los, mas não digo que não aconteçam. Se calhar vão é ser mesmo muito limitados. Estamos a tentar perceber a logística e também não quero apanhar Covid-19 porque não quero cancelar concertos.
A sua vida em digressão mudou ao longo dos anos? Ou nem por isso?
Não muito. Bem, as salas onde agora toco são mais pequenas porque prefiro. Podia fazer festivais, mas gosto da conexão, gosto de ver o público numa sala para três mil pessoas… É muita gente à mesma, mas é diferente do que atuar para 15 mil. Estão tão longe, pode haver uma conexão à mesma, mas é muito mais difícil chegar lá. Quando faço salas maiores, não sei se me sinto realizada, porque não sei se aquela pessoa ali longe… Não sei, não vi. Por isso, à medida que envelheci, tenho gostado mais de salas íntimas para poder dominar melhor o público. As salas maiores… Sinto que alguns artistas as escolhem e depois não tocam todas as músicas ao vivo, porque são tão grandes que consegues escapar àquilo. E depois conseguem mais espetáculos e ganham mais dinheiro. Não vejo a minha carreira como tendo de acumular uma fortuna gigantesca. Quero dar um espetáculo, e não que as pessoas estejam a olhar para uma espécie de robô. Nada contra quem faz as coisas de forma diferente, mas é como sou enquanto artista. Mas sei que por causa disso tenho de trabalhar mais. Tenho de fazer mais concertos, é mais trabalho para mim, mas gosto. Faço 40 em vez de 10 espetáculos, mas estou a desfrutar deles. Vou tendo pequenos momentos em diferentes cidades e países. Era o que o Prince fazia. Dava aqueles grandes concertos mas depois atuava num clube porque era onde estava a sua derradeira faceta de artista, nessa liberdade. Mas sempre senti que prefiro não fazer ambos. Faço apenas um.
Depois de tantos anos de carreira, é um desafio continuar a sentir-se relevante? Ou não pensa nisso, de todo?
É interessante, não penso nisso porque tenho sido eu mesma durante muito tempo. O meu visual, a minha música, as minhas canções… Sempre me mantive consistente e as minhas tours sempre venderam. Tenho uma base de fãs que me permite que não tenha de ter um artista pop do momento na minha música, não tenho de usar auto-tune, eles não querem isso. Porque quando tentei mudar um pouco, por volta de 2009, com algo um pouco R&B, eles ficaram do género: “de onde é que isto veio?” E quando fiz o meu disco de covers, eles compreenderam e gostaram. Porque fui buscar canções maravilhosas que, se fosse uma mulher a cantá-las, ficariam com uma perspetiva feminina. Senti que foi um desafio para mim porque foi um projeto difícil de fazer. Acho que as pessoas não se apercebem o quão bem alguns destes artistas cantam. Foi muito divertido. E fiz isso depois do meu momento de R&B, quando tive de me encontrar outra vez enquanto artista. De 2008 a 2012 estava naquela de: “O que sou eu agora? Que música posso eu fazer? Quero voltar à minha música antiga, mas não a oiço na rádio. Por isso agora tenho de voltar às raízes” e por isso é que fiz o álbum de covers. Vou interpretar algumas na tour, porque faz parte do meu passado e fui influenciada durante a minha jornada por artistas de rock clássico. E num certo período de tempo, a meio da minha carreira, quando estava a questionar o que raio estava na rádio, senti que me ajudaram a encontrar-me outra vez. E percebi: o meu estilo é o meu estilo. Não tenho de me encaixar.
Como disse, desta vez a pausa dos concertos foi motivada por uma pandemia que nos afetou a todos. Mas ao longo dos anos teve de se afastar da música durante alguns períodos graças a vários problemas de saúde. Sente que essas adversidades a tornaram numa artista mais forte?
Não sei se me tornaram mais forte. Sei que provavelmente me tornaram mais persistente, de me deixarem com a mentalidade de “Não, não me fico por aqui. Não me vão mandar embora. Não vão acabar com a vida desta rapariga. Ela gosta dela”. E o cancelamento de tours sempre foi frustrante. Tem havido muitas pausas e recomeços. E talvez a minha jornada tivesse de ser assim. Não luto muito contra isso, apenas o ultrapasso e recomeço de onde tinha ficado. E se as pessoas seguiram em frente seguiram. E se algumas pessoas se mantiveram, ou outras que depois aparecem… Nunca é um espaço vazio quando regresso. É sempre mais uma tour encorajadora. Mas talvez tenha sido um processo, de cada vez, para chegar lá. Este foi um processo por que todos passámos. Por isso é que esta tour tem uma magnitude diferente. E no primeiro espetáculo da tour, nunca mais vou ter esse momento outra vez. Por isso, este concerto de Lisboa vai ser realmente mais especial do que os outros. As pessoas vão estar comigo a apoiar-me, eu vou querer dar tudo de mim… Há uma vulnerabilidade de ambos os lados, de emoções e energias, que nem sei como descrever porque nunca passei por isto. Vai ser uma paixão em esteróides [risos]. Por isso nem sei se vou conseguir cantar. Acho que eles vão cantar mais alto do que eu.
Além de cantar com Sting, o que é que ainda não fez mas gostava muito de concretizar na sua carreira?
Muitas vezes não penso no que tenho de concretizar, tem mais a ver com as coisas que aparecem. Hoje em dia não estabeleço grandes metas. Já disse, por exemplo, que adorava escrever um livro ou que existisse um documentário sobre a minha vida. Mas estou bem com aquilo que acontecer de forma orgânica. Tenho vários planos para os próximos anos, algumas coisas que estão a ser preparadas. Assim que começo a trabalhar nas coisas, de repente aparece outro convite. Quando não estás a trabalhar, as pessoas pensam que não queres trabalhar. E quando regressas à estrada, recebes um milhão de ofertas e naquele momento já não consegues aceitar todas [risos]. Mas estou entusiasmada por poder voltar ao trabalho outra vez.
E também tem estado a trabalhar em música nova?
Tenho música nova. A ideia era que fizéssemos o lançamento este verão, depois talvez durante a tour, mas agora acho que vamos passar para o próximo ano — porque não precisámos de música nova para vender a tour. Isto é sobre os meus hits e o meu aniversário de carreira. Mas tenho canções novas e divertidas que estou entusiasmada para pôr cá fora. E têm muito a ver com a Anastacia.