Antes da atuação de Israel na segunda semifinal da Eurovisão, os comentadores da estação espanhola RTVE relembraram as mais de 50 mil mortes de palestinianos desde 2023 e questionaram a razão pela qual o país continua autorizado a competir no festival. A intervenção foi aplaudida por muitos espectadores, mas rapidamente condenada pela União Europeia de Radiodifusão (UER).
Em resposta, a organização que tutela o concurso ameaçou aplicar uma multa à estação caso os comentadores voltassem a referir o massacre em Gaza. “As regras proíbem declarações políticas que podem comprometer a neutralidade do concurso”, justificou a UER, que já tinha expulsado a Rússia em 2022.
Ainda assim, a RTVE insistiu. Este sábado, 17 de maio, exibiu uma mensagem antes da grande final: “No que toca a direitos humanos, o silêncio não é uma opção. Paz e justiça para a Palestina”, lia-se num ecrã negro.
Também a Bélgica assumiu publicamente a sua posição. Durante a semifinal de 15 de maio, o canal VRT transmitiu uma mensagem a condenar os ataques. “Condenamos as violações dos direitos humanos por parte do Estado de Israel. Além disso, o Estado de Israel está a destruir a liberdade de imprensa. Por isso, vamos interromper a emissão por um momento. Cessar-fogo já, parem o genocídio.”
A emissora belga terá ponderado projetar uma tela preta sobre a atuação da representante israelita, Yuval Raphael, durante a final — algo que acabou por não acontecer, provavelmente por receio de sanções da UER.
Mais uma edição cheia de protestos contra Israel
A participação de Israel voltou a gerar protestos ao longo das galas. A 15 de maio, durante um ensaio de Yuval Raphael, um grupo de manifestantes interrompeu a atuação. “Seis pessoas, incluindo uma família, com bandeiras da Palestina e apitos” subiram à zona da plateia, explicou a organização. “O pessoal da segurança conseguiu identificar rapidamente os envolvidos e escoltá-los para fora do recinto”, acrescentou a UER.
A atuação também foi marcada por apupos, o que levou os organizadores a aplicarem bloqueios sonoros para abafar os protestos nas transmissões televisivas. Mesmo assim, alguns ruídos passaram.
Na final, os protestos intensificaram-se. Durante a atuação de Israel, um homem ultrapassou a barreira de segurança e agarrou uma estrutura metálica enquanto gritava por uma “Palestina Livre”. Os seguranças intervieram após vários segundos de tensão, que incluíram puxões de cabelo e agressões.
No final da mesma atuação, dois ativistas correram em direção à cantora com bandeiras da Palestina — proibidas no recinto. Foram travados por membros da produção. “Foram impedidos. Um dos manifestantes atirou tinta e um membro da equipa foi atingido. Está bem e ninguém ficou ferido. Ambos foram entregues à polícia”, confirmou um porta-voz do evento.
Eurovision security assaulting a demonstrator to protect their genocide barbie on stage #esc pic.twitter.com/43J7kx10pI
— Shukri Lawrence (@wifiridershukri) May 17, 2025
A polémica estendeu-se muito além do palco. No início de maio, mais de 70 artistas ligados à Eurovisão assinaram uma carta aberta a exigir a exclusão de Israel da competição. Entre os signatários estão Salvador Sobral, Fernando Tordo, Lena D’Água, António Calvário, Charlie McGettigan e Mae Muller.
O texto afirma que Israel “deve ser impedido de participar na próxima edição do concurso, devido ao genocídio contra os palestinianos em Gaza e o regime de apartheid e ocupação militar que dura há décadas contra todo o povo palestiniano”.
A carta também foi subscrita por concorrentes da edição de 2024, como Ásdís María e GÅTE, que descreveram esta edição como “a mais politizada, caótica e desagradável da história do concurso”.
Apesar da pressão e de uma petição pública, a UER manteve Israel em competição, o que gerou acusações de hipocrisia, uma vez que a Rússia foi excluída após a invasão da Ucrânia. Durante o evento, foi ainda proibido o uso de bandeiras da Palestina no recinto.
Leia o artigo da NiT e conheça melhor este caso.