Música

As 10 melhores canções que ouvimos este ano

O diretor da NiTfm, Rui Barros, analisou ao pormenor os grandes lançamentos de 2024. Foi uma lista difícil de concluir, mas alguém tinha de fazê-lo.
The Cure estão no top.

2024 foi um ano bizarro. A cantora britânica Lily Allen revelou que ganha mais dinheiro com fotos dos seus pés na OnlyFans do que com a sua música. Interessado? A subscrição custa apenas 10 euros por mês. Algumas canções criadas por Inteligência Artificial chegaram aos tops pela primeira vez. Deixou de ser cool ouvir P. Diddy, se é que alguma vez foi. Os Coldplay lançaram mais um álbum aborrecido. E quase que enjoámos o sabor do café depois de tantos “Espresso” de Sabrina Carpenter. Mas também ouvimos muita música boa — alguma dela em salas de cinema.

Trent Reznor é um forte candidato aos Óscares, com a fabulosa banda sonora de “Challengers”, provavelmente o filme mais fixe do ano, e esteve presente em todo o primeiro episódio da nova temporada de “The Bear”. Pelo meio, ainda nos disse que a cultura atual do mundo da música é uma treta: “Parece em grande parte relegada a algo que acontece em segundo plano ou enquanto está a fazer outra coisa”.

Outra boa notícia foi o regresso dos britânicos The Cure, tal como o “novo Springsteen” Sam Fender. Ao longo do ano, a rádio NiTfm foi mostrando estes e outros lançamentos nas emissões diárias online ou nas 56 estações do metro de Lisboa. Agora, chegou a altura de escolhermos quais foram as dez canções de que mais gostámos. Aumente o som das colunas.

10. “Screamland”, Father John Misty

“Screamland” é simultaneamente a música mais sombria e cheia de esperança (“Love must find a way”) de Father John Misty, nome artístico de Joshua Michael Tillman. A forma como evolui da melancolia do extraordinário arranjo de cordas dos versos para um refrão poderoso é fenomenal.

Em 2024, curvámo-nos ao pai Misty.

9. “All In Good Time”, Iron & Wine (Feat. Fiona Apple)

“Light Verse” é o primeiro álbum de estúdio em sete anos do projeto folk de longa data de Sam Beam, Iron & Wine, onde conta com a colaboração da super reclusiva Fiona Apple. Sobre este dueto, Beam disse: “A voz dela é um milagre que soa como um sacrifício e uma arma ao mesmo tempo”.

“All In Good Time” é um tema intemporal e simplesmente uma canção lindíssima.

8. “Lunch”, Billie Eilish

Foi difícil escolher o melhor tema de “Hit Me Hard and Soft”, o excelente terceiro álbum de Eilish. “Birds of a Feather” foi um hit global e podia estar nesta lista, mas a nossa escolha caiu em “Lunch”, com a sua linha de baixo irresistível.

A canção explora temas de queerness, identidade e sexualidade, e faz isso de uma forma que soa genuína e não forçada: “I could eat that girl for lunch, Yeah, she dances on my tongue, Tastes like she might be the one, And I could never get enough”. Eilish serviu-nos um hino queer e picante.

7. “Wreckage”, Pearl Jam

“Dark Matter” é o 12.º álbum na carreira dos Pearl Jam e são poucas as bandas que chegam a esta fase da carreira com a capacidade de lançarem uma das melhores canções do catálogo. “Wreckage” merece esta distinção. É uma balada mid-tempo que podia muito bem estar em qualquer era da sua discografia, que atinge o clímax naquele final pronto a ser cantado em qualquer concerto da banda.

Um fã dos Pearl Jam ou de Eddie Vedder não podia pedir mais.

6. “Too Sweet”, Hozier

Groove, melodia simples e catchy, é a receita de “Too Sweet” que pôs Hozier de volta aos tops com o seu maior sucesso desde “Take Me To Church”. Em 2024, foi impossível fazer scroll no TikTok sem ouvir esta canção, que foi editada por uma editora independente, evitando ser banida da plataforma depois da Universal Music Group remover os seus artistas da gigante chinesa por não conseguirem chegar a um acordo de licenciamento musical, permitindo assim que “Too Sweet” se tornasse viral numa estratégia de marketing genial.

5. “Claw Foot”, Royel Otis

À primeira audição é impossível não comparar “Claw Foot” a Joy Division ou The Cure. Este é um tema que é um bonus track do álbum de estreia “Pratts & Pain”, o primeiro depois de três EP, onde se tornaram virais com covers de “Murder on The Dancefloor” de Sophie Ellis-Bextor e “Linger” dos Cranberries.

É consensual que os Royel Otis são a próxima Next Big Thing australiana, prontos para conquistar o mundo com o seu Indie Rock energético.

4. “Alone”, The Cure

Este foi o regresso do ano.  “Songs of a Lost World” é o primeiro disco dos The Cure em 16 anos. Com uma sonoridade muito próxima de “Desintegration”, de longe o melhor da carreira da banda de Robert Smith, mas sem os hits como “Love Song”, “Fascination Street” ou “Lullaby”, apostaram em temas grandiosos e imponentes.

Neste “Alone”, que foi o primeiro single, a voz de Smith só aparece depois de três minutos e meio para nos brindar com uma letra que reconhece que o nosso mundo está a morrer, e ainda assim a sua beleza lembra-nos que ainda podemos fazer algo por ele.

3. “Bug”, Fontaines D.C.

“Romance” foi claramente um dos discos do ano com a sua sonoridade a afirmar a banda de Dublin como uma das melhores bandas Irlandesas de sempre, ao lado de nomes como Thin Lizzy, U2 ou The Pogues. “Starbuster” ou “In The Modern World” podiam facilmente estar nesta lista, mas a nossa escolha é “Bug”.

Imaginem os The Smiths a tocarem “Disarm” dos Smashing Pumpkins: o resultado é “Bug”, onde Grian Chatten abandona o seu emblemático cantar mais falado e adota um estilo vocal mais melódico, e o estilo musical post-punk é escondido de forma camaleónica.

2. “Challengers”, Trent Reznor & Atticus Ross

O que dizer sobre um instrumental de 1m26 que termina abruptamente com um alarme e é a nossa segunda música preferida do ano? Apenas que é épico. 2024 foi o ano de uma das melhores bandas sonoras de sempre e a culpa é de Trent Reznor e Atticus Ross, dos Nine Inch Nails, que deram música ao fantástico “Challengers”, a comédia dramática de Luca Guadagnino sobre um triângulo amoroso no mundo do ténis, com uma enorme carga erótica vinda da personagem de Zendaya que domina aqueles dois jogadores dentro e fora do campo. Ou como Reznor cantava em “Head Like a Hole”: “Bow down before the one you serve”. 

Este é um verdadeiro hino de Techno/Industrial que ouvimos em loop ao longo do ano.

1. “People Watching”, Sam Fender

No final de 2024 Sam Fender trouxe-nos dois novos singles de avanço para o terceiro álbum que irá lançar em fevereiro de 2025. “People Wathcing” chegou a tempo de ser a nossa favorita do ano.
Fender é um dos contadores de histórias mais brilhantes da música inglesa, considerado a voz da “geração austeridade” com letras que falam sobre a desilusão política e a incerteza financeira dos jovens da classe trabalhadora do norte de Inglaterra.

Após dois álbuns que atingiram a primeira posição no top inglês e dois Brit Awards, a sensação Indie vinda de Newcastle terminou o ano a esgotar arenas e estádios e a preparar o verão de 2025 onde vai ser headliner em vários festivais na Europa (NOS Alive, fica a dica).

“People Watching” é clássico Sam Fender, a continuação do Rock Indie dos primeiros discos, com uma óbvia influência de Bruce Springsteen, com uns toques de The War on Drugs (o tema foi produzido em L.A. com Adam Granduciel). A letra retrata as viagens que Fender fez a um lar de cuidados paliativos, onde visitava a sua falecida amiga e mentora Annie Orwin, que descreve como tendo sido uma “mãe substituta” para ele, e a mistura de sentimentos cheios de raiva, tristeza, desilusão e nostalgia: “And the beauty of youth had left my breaking heart But it wasn’t hard when you love someone, Oh, I stayed all night ’til you left this life ’cause that’s just love”. É uma daquelas canções que sabe cada vez melhor quanto mais a ouvimos.

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