A semana da moda de Paris de 2023 já terminou, mas houve um momento que continua a dar que falar. A 19 de janeiro, no desfile da Louis Vuitton, todos os holofotes se focaram em Rosalía. A cantora espanhola foi convidada a atuar durante a apresentação da coleção masculina de outono-inverno da casa de luxo, no Louvre.
Fora das portas do imponente museu na capital francesa, milhares protestavam contra a reforma do sistema de pensões. Mas dentro do edifício só se ouviam aplausos. Durante os 20 minutos que durou o espetáculo, Rosalía cantou, dançou e saltou, enquanto os manequins circulavam em seu redor envergando as novas criações da marca.
A escolha musical foi inesperada e ousada, bem ao estilo da motomami. “Despechá” e “Saoko” foram misturadas com samples de temas do cantor de flamenco Camarón de la Isla e de outras músicas latina. As batidas quentes juntaram-se aos ritmos urbanos e foram a banda sonora de um desfile diferente, incrível e com muitas mensagens.
Um Cadillac amarelo foi o palco de Rosalía, que atuou envergando um enorme anoraque branco para um público entusiasmado, que pouca atenção prestou às novas criações da casa francesa. Até porque o momento foi ponto final da apresentação e teve direito a um cenário especial.
Os modelos desfilaram por aquilo que parecia ser o apartamento de um jovem negro, que surgiu logo no início da atuação. Os manequins que iam passando pela divisão tocando em objetos específicos e fazendo rabiscos nas paredes. Aos primeiros beats de “Despechá” apareceram com carteiras acolchoadas de onde saíam papéis e sonhos.
Só no final a performance fez sentido: tratava-se da casa de um miúdo que sonhava viajar e desenhar. Um mensagem sublimar que remete para uma homenagem ao antigo diretor criativo da marca Virgil Abloh, que morreu em 2021, aos 41 anos, vítima de cancro.
O estilista nasceu em Rockford, Illinois, nos Estados Unidos, e sempre foi fã de hip-hop. Começou por ser DJ e só mais tarde se formou em Engenharia Civil e depois em Arquitetura. Desde 2000 que era consultor de arte de Kanye West. Em 2012, criou a primeira marca, a Pyrex Vision. A marca Off-White nasceu um ano depois pelas suas mãos. Mais tarde, a etiqueta acabou por ser comprada pelo grupo da Louis Vuitton, e tornou-se o primeiro diretor criativo negro da conhecida marca de luxo.
A insígnia não tem diretor criativo para as suas coleções masculinas, desde o desaparecimento de Virgil Abloh. Desta vez, recorreu a um coletivo de criadores: os cineastas Michel e Olivier Gondry, o estilista Ibrahim Kamara, colaborador próximo de Abloh recentemente nomeado responsável pelas coleções da Off-White, e o fundador da marca KidSuper, Colm Dillane.
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