Música

Bárbara Bandeira. “Estou orgulhosa do estilo que encontrei. É isto que quero fazer”

A cantora falou com a NiT sobre a criação do seu disco de estreia, "Finda", e a atuação que está a preparar para o Campo Pequeno.
Concerto de apresentação de Finda está marcado para 28 de outubro, no Campo Pequeno

É uma das maiores criadoras portuguesas de canções pop da sua geração. Depois de vários êxitos, Bárbara Bandeira diz que está mais madura — apesar de só ter 22 anos — e com vontade de expressar novas ideias. Por isso, no início de outubro, lançou seu disco de estreia, “Finda“. Este álbum vai ser apresentado ao vivo a 28 de outubro, no Campo Pequeno, em Lisboa.

Bárbara Bandeira já esgotou o Coliseu dos Recreios, é certo. Mas agora prepara-se para subir ao palco de outra icónica sala de concertos da capital portuguesa. Os bilhetes já estão à venda online e nos locais habituais, com preços entre os 20€ e os 65€.

A autora explicou em entrevista à NiT que está “entusiasmada” e um pouco nervosa: “Quero que corra tudo bem”.

Está prestes a apresentar o seu primeiro álbum, “Finda”. Este vai ser um concerto especial? O que é que tem preparado?
O concerto vai ser especial porque a sala está a ser feita por mim. É uma produção própria. Nestas circunstâncias temos mais tempo e oportunidade para criar algo mais pensado e personalizado. Além disso, pessoalmente, este é o concerto mais especial que fiz até hoje porque vou é a apresentação do meu disco de estreia. Passei muitos anos a cantar canções que fiz quando era mais nova, no EP “Cartas”, de 2018. Agora, tenho um alinhamento completamente diferente, com dez músicas novas. Isto vai mudar completamente o estilo e a dinâmica da atuação. Estou muito entusiasmada para começar esta fase nova.

Vai apresentar estas músicas novas numa das salas mais famosas do País, o Campo Pequeno. Isto é algo que a deixa ansiosa?
Sim, mas é uma ansiedade boa. Estou entusiasmada. Normalmente, antes dos concertos fico sempre nervosa, quero que corra tudo bem. Neste talvez esteja um pouco mais. Vai ser a primeira vez que vou apresentar algumas destas músicas ao vivo. O álbum saiu há três semanas e ainda não sei se as pessoas conhecem as letras. São muitos sentimentos.

O que é que faz para contrariar estes nervos?
Tento preparar-me ao máximo. Treino em casa, dou o meu melhor nos ensaios e faço uma estruturação detalhada do concerto para que tudo corra bem. A melhor forma de sentir que estou descansada é trabalhar muito até sentir que estou pronta e garantir que o concerto vai correr como eu quero.

Quais foram as maiores diferenças que sentiu ao gravar, agora, um álbum de longa-duração, comparado com os processos anteriores?
A primeira diferença entre o EP e o álbum são a minha idade e maturidade. Sinto que levo a minha profissão com mais seriedade. Quando era mais miúda, estava pura e simplesmente a viver um sonho. Sonhava há muito tempo ser cantora. Agora, quando faço “Finda”, é algo muito mais elaborado. Existe um conceito que foi pensado de raiz. Isto é completamente diferente de lançar singles ou juntar uma série de canções sem grande ligação, como foi o caso do EP. E há também uma transformação musical que reflete melhor quem eu sou.

O conceito deste disco é muito assente na ideia da metamorfose. O que é que a inspirou a usar esta ideia?
Sempre tive uma ligação muito forte com borboletas. Inclusive, tenho duas tatuadas no meu pulso, foi a minha primeira tatuagem. Sinto que tenho uma ligação muito forte com estes animais. Tudo aquilo que elas representam, especialmente a ideia de metamorfose. Começar como uma lagarta, ficar num casulo durante algum tempo, até se sentirem preparadas para se mostrarem ao mundo. Senti exatamente este processo com o “Finda”. Identifico-me muito com este processo. Os últimos anos da minha vida tem sido uma mudança que se está a refletir, pela primeira vez, neste projeto. Se calhar já tinham existido amostras disto na “Como Tu” e na “Onde Vais” com a Carminho, mas, o álbum é a confirmação de que amo mesmo o que estou a fazer. Estou muito orgulhosa pelas músicas que estou a lançar e pelo estilo que encontrei. É isto que quero fazer.

Este conceito fez-me recordar o “Motomami” da Rosalía, onde as borboletas e a metamorfose são muito importantes na sua narrativa e imaginário. Ela foi uma influência?
Vi o concerto dela, no ano passado, no Altice Arena. Ela é incrível. Sinto que temos registos muito diferentes. Ela tem um registo muito mais influênciado pela música latina, enquanto eu, sendo luso-brasileira, tenho mais referências nestes países. Mas respeito imenso o seu trabalho. Tive oportunidade de a conhecer, depois do espetáculo em Lisboa e ela foi muito querida comigo e com todas as pessoas que falaram com ela.

Que artistas é que sente que tiveram uma maior influência no “Finda”?
Tive a oportunidade de trabalhar com dois artistas portugueses incríveis e que tenho o prazer de dizer que eles são meus amigos: o Gson e a Carolina Deslandes. Foram pessoas fundamentais neste processo. Tornaram tudo mais divertido e bonito. Íamos juntos para estúdio e parecia que estávamos entre amigos, não parecia um trabalho. A nível de artistas que inspiraram o álbum, não consigo dizer nomes em específico. Aquilo que tentámos criar foi algo que dificilmente se ouve em português.

Ainda que não tenha tido uma inspiração direta, a Bárbara esteve, em maio, a abrir os concertos que os Coldplay deram em Coimbra. O que é que aprendeu com esta experiência?
A maior aprendizagem que retirei foi sem dúvida a forma como artistas tão grandes e com tantas preocupações conseguem, no final do dia, fazer com que todos os membros da audiência se sintam especiais e parte do que está a acontecer. Foi muito instrutivo perceber que artistas desta dimensão conseguem continuar a ter este lado tão humano.

Já experimentou a guitarra que o Chris Martin ofereceu?
Ela está aqui muito bem guardada e ninguém pode tocar nela (risos). Ainda não voltei ao estúdio desde que gravei o “Finda”, mas, depois das atuações no Campo Pequeno, quando voltar, pelo menos uma canção vai ser escrita com ela.

Uma das músicas mais populares do seu novo álbum é a “Como Tu”. Como é que nasceu este êxito?
Esta foi, provavelmente, a música mais rápida e objetiva de sempre. Estava num estúdio, durante um “writting camp”, quando tive a ideia para o refrão. Comecei a cantarolar quando, de repente, aparece o Ivandro, que eu, na altura, ainda não conhecia, e diz-me: “vou fazer um verso para ti e esta música vai ser uma colaboração”. Foi assim que nasceu a “Como Tu”. Ela tem nos acompanhado imenso nos últimos tempos e tem oferecido muitas oportunidades inacreditáveis.

Quando pensou nesse refrão alguma vez lhe passou pela cabeça que iria ser um sucesso tão grande?
Começámos por fazer o refrão em inglês, só, mais tarde, é que a letra da música passou a ser em português. É engraçado pensar em todas as transformações pelas quais foi alvo e se teria o mesmo sucesso se tivesse ficado igual.

Este disco tem várias colaborações, por exemplo, a Maro. Como é que foi colaborar com ela?
Sou fã da Maro há muitos anos. A voz dela foi o meu despertador durante dois anos, este é o nível de admiração que eu tenho por ela (risos). Quando estava a construir o álbum, existiam várias ideias que queria incluir. Por exemplo, queria ter um interlúdio a meio e, automaticamente, achei que a voz da Maro fazia todo o sentido aqui. Era uma escolha óbvia. Ela é uma das melhores artistas que temos no nosso país e tem uma voz inconfundível. Acima de tudo, é minha amiga e fazia todo o sentido fazer parte deste projeto.

A Maro, tal como o seu pai, participaram no Festival da Canção e na Eurovisão. Isto também é uma ambição sua?
Quando me perguntam isto, até como tenho este legado familiar, penso que poderia ser giro. Porém é algo que dificilmente me viria a aceitar no contexto de ter de criar uma música de propósito para o festival. Mais facilmente, seria uma consequência de ter feito uma canção que faria sentido de usar neste evento. Se algum dia participar, é porque a canção pede para participar, não porque me pediram a mim, enquanto artista, para participar.

Outra pessoa que surge no disco é o Dillaz, que tem um registo diferente, sendo mais associado ao hip-hop e ao rap. Era importante ter um convidado mais fora da caixa?
Depois da minha colaboração com a Carminho, sinto que a sensação de juntar artistas que, à partida, não estariam juntos na mesma canção, é algo que traz muita satisfação aos ouvintes. Quando estava a meio do processo do álbum, decidi que gostava de ter outra colaboração, mas que tivesse um efeito de surpresa. Sempre adorei o trabalho do Dillaz, por isso, fez sentido juntar o seu input neste trabalho. Enviei-lhe a canção e, uma semana depois, ele enviou-me a parte dele e acabou por ser um processo muito fluído. Gosto muito de trabalhar com ele, a sua colaboração é inesperada, mas não podia ter acontecido de outra forma. Acho que acrescenta uma textura interessante à canção.

Depois de ter criado este trabalho mais complexo e pensado, sente que isto pode ajudar alguns críticos a levar a sua música mais a sério?
Sinto que não tenho razão de queixa. O público tem-me sido muito fiel. As últimas canções que lancei foram muito bem recebidas, assim como o álbum. Portanto, não me posso queixar de como as pessoas tem recebido o meu trabalho. Sinto-me muito sortuda e, a única coisa que espero, é que possa continuar a trabalhar por muitos mais anos. O meu pai sempre me disse: “chegar ao topo é difícil, mas é possível. Agora, mantermo-nos lá é que é complicado”.

A NiT também assistiu a um ensaio de Bárbara Bandeira que está a preparar o seu concerto no Campo Pequeuno. Carregue na galeria para ver as fotografias da nossa reportagem.

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