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Beatles, Stones, Queen, blur. Curvem-se perante os novos reis do rock britânico

O Meo Kalorama recebeu os blur como cabeças de cartaz no primeiro dia do festival. A banda deu um daqueles concertos que se contam aos netos.
O Papa Damon Albarn prega aos fiéis na Bela Vista.

Eu sei que para quem viveu os anos 90, grupo onde se inclui a maioria de fãs dos blur, “Coffee And TV”, parece que foi ontem. Mas não. Os 90’s já lá vão há muito tempo e os miúdos de Londres — Damon, Graham, Alex e Dave — agora são realeza do rock britânico e digníssimos sucessores dos gigantes dos anos 60, 70 e 80. No palco, não lhes devem rigorosamente nada. Esta quinta-feira, 31 de agosto, provaram estar em pico de forma no Meo Kalorama, em Lisboa.

Os blur estão naquela fase da carreira de ponto de rebuçado, que eu comparo aos Queen quando actuaram em Wembley por duas vezes em 1986, um ano depois do Live Aid. A banda londrina tem um catálogo de hits avassalador, toca junta de olhos fechados, e está com aquele espírito de segunda lua de mel, em que o passado mau se esquece e tudo corre às mil maravilhas. Por falar em Wembley, os blur encheram o estádio mais icónico do Reino Unido há um par de meses, em concertos que a imprensa britânica descreveu como os melhores da década. Eu estive lá e posso confirmar. Já vi os blur ao vivo muitas vezes (nunca nos anos 90, infelizmente), mas se há um período para os ver, é agora.

Os blur fizeram um set equilibrado, com um cheirinho do seu (excelente) novo disco “The Ballad Of Darren”, a perfumar uma mistura de hits e deep cuts. À entrada morna com “St Charles Square”, seguiram-se os vibrantes “Popscene” e “Beetlebum” — um dos pontos altos da noite, com Graham Coxon a lembrar-nos que é o guitarrista mais subvalorizado da sua geração. Os fãs foram premiados com faixas mais obscuras, só para quem sabe, como “Trimm Trabb”, “Villa Rosie”, “Advert”, e até o raríssimo “Sing”. Que maravilha.

Quem estava ali para ouvir os êxitos da rádio, também não saiu defraudado. A sequência “Coffee And TV”, “Country House”, “Parklife” e “To The End”, estrategicamente colocada no meio do set, agarrou o público mais desconfiado. Para fazer jus à metáfora de cantar para a última fila, o Papa Damon desceu do seu palanque, e foi lá em baixo comungar com os fiéis, e liderar o seu povo numa coreografia em “Country House”. E depois foi vestir o seu lendário fato de treino da Fila, para cantar os inevitáveis “Girls And Boys” e “Song 2”. Loucura total. Foram os primeiros mosh pits da noite, a aquecer para o que viria pouco depois em The Prodigy.

Para o fim, ficou guardado o melhor tema do novo álbum e uma das canções do ano — “The Narcissist”. Teria sido um mega hit nos anos 90, mas a prova de que esses tempos já lá vão é que em sequer arranhou o mainstream. Mas os blur não têm culpa da nossa falta de bom gosto. A despedida foi feita com os clássicos “Tender” (com direito a singalong do público no final) e “The Universal”, a fechar uma noite para a história. It really really really could happen. E aconteceu mesmo. Ontem pode não ter sido tão bom como Wembley (isso era difícil), mas foi igualmente orgásmico. Só quem lá esteve, pode contar que viu os blur no seu pico.

Carregue na galeria e veja algumas imagens do concerto épico dos blur.

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