Bruno Batista tinha 13 anos quando pegou numa guitarra pela primeira vez. Não o fez por inspiração ou por sonhar ser um grande músico. O jovem era um pragmático por natureza: queria conquistar a sua paixoneta da escola e, durante dois meses, treinou afincadamente para aprender a canção. Qual? “Já nem me lembro bem”, recorda. O engante não foi bem-sucedido, mas desse projeto, ficou algo ainda mais valioso.
“A minha estratégia não deu certo. Outro rapaz chegou primeiro, também com uma guitarra, e ficou com ela”, conta à NiT. “Digo sempre que me apaixonei mais pela música do que pela rapariga. Por isso, no fundo, até deu certo.”
Natural de Lisboa, o jovem de 21 anos participou este domingo, 26 de outubro, no “The Voice Portugal”. A atuação quase gerou uma discussão entre os mentores Calema e Sónia Tavares, que disputaram Bruno para as suas respetivas equipas.
Em palco, mostrou as influências que moldaram o seu percurso, dos artistas brasileiros ao R&B e à música portuguesa. Viveu os primeiros 12 anos em Lisboa e depois mudou-se para o Brasil com a mãe. “A minha avó materna ficou doente e a minha mãe quis passar mais tempo perto dela”, recorda.
Primeiro viveu em São Paulo. Após a morte da avó, mudaram-se para Salvador, na Bahia, onde Bruno começou a desenvolver a sua identidade artística. “Comecei a ver artistas underground nas ruas e quis criar a minha própria identidade. Escrevia imenso e cheguei a compor cerca de cem canções num ano.”
Em abril de 2024 regressou a Portugal para estudar Jazz e Música Moderna na Universidade Lusíada, em Lisboa. Mora com o pai e os avós e divide o tempo entre as aulas, trabalhos pontuais e a música. Já atuou em bares, festas e na rua. Também trabalhou em cafés e no McDonald’s. “Faço o que for preciso para me manter aqui”, admite. “Quando vim para cá, pus na cabeça que queria viver da música a 100 por cento e investir no meu futuro.”
Cresceu sem uma ligação direta ao meio artístico, embora o avô materno tenha feito parte de uma formação dos Demônios da Garoa, mas foi explorando referências por iniciativa própria. “O meu favorito de todos os tempos é o John Mayer. Comprei todos os discos.” Mais tarde, apaixonou-se pelo R&B de Frank Ocean, D’Angelo e Erykah Badu. Misturou essas influências com nomes como Rui Veloso, Jorge Palma e Alcione.
Com este espírito de fusão, inscreveu-se no “The Voice Portugal”. “Para ser honesto, eu não gostava muito da ideia do programa. Achava que uma competição de música podia não ser justa.” A inscrição acabou por acontecer por insistência da mãe e da madrasta, fãs do formato.
Para a audição escolheu “Todo o Tempo do Mundo”, de Rui Veloso, uma canção que já fazia parte do seu repertório. “É uma música que canto há muito tempo e na qual me sinto confortável. É boa para a minha voz e para a guitarra. Foi uma escolha natural.”
A prestação agradou aos jurados e Bruno sentiu-se dividido entre Calema e Sónia Tavares. “Não estava à espera que fosse tão difícil. Fiquei lisonjeado com o que disseram. Senti que tinha duas ótimas opções e que estaria bem acompanhado com qualquer um deles.” Optou pela dupla dos irmãos, depois de ouvir as palavras que lhe dirigiram. “Eles garantiram que também querem representar a lusofonia para o mundo inteiro. Eu sou muito fã da língua portuguesa e gosto de representar isso quando escrevo.”
Ver esta publicação no Instagram
Bruno continua a compor as suas próprias canções. Gosta de contar histórias de amigos, através da sua perspetiva. Nas letras, aborda temas como representatividade e empatia. “Tenho canções sobre amigos que passaram dificuldades por causa da etnia ou da sexualidade. Quero mostrar às pessoas que não estão sozinhas.”
Agora que já integra oficialmente o programa da RTP, não esconde os objetivos: “Quero ter uma voz artística que represente as pessoas, que fale com elas e sobre elas. Que mostre que a vida pode ser confusa, mas que está tudo bem com isso. Quero viver da música e chegar ao maior número de pessoas possível.”
Sobre a próxima atuação, apenas adianta que “vai carregar muito peso emocional”. “Vai ser um desafio pessoal, mas bem cumprido”, garante.

LET'S ROCK







