Música

Burna Boy foi um epílogo sem faísca num morno Kalorama

Nem toda a energia do mundo pareceu ser capaz de reanimar um público sonolento. Ficou assim encerrada mais uma edição do festival lisboeta.
Não foi mau, mas também não foi ótimo.

Depois do espetáculo espantoso de Raye no Kalorama, a fasquia estava elevadíssima, o que colocava Burna Boy perante um desafio complicado. E pode-se até dizer que o início da apresentação do nigeriano natural de Porto Harcourt até parecia promissora.

O arranque não podia ter sido mais animado, com “Change Locations”, um cover de um tema original de Drake e Future. Seguiu-se “Secret”, que colocou a plateia a cantar.

O especialista em afrobeats já tinha atuado em Portugal, em junho do ano passado, no Afro Nation. No entanto, nunca se sentiu “tão grande como no Kalorama”, disse após as duas primeiras canções.

Damini Ogulu é um dínamo e, querendo, é capaz de incendiar o público com a sua energia. Quando a voz não tremia, fruto do natural cansaço, servia de trunfo inesperado, como em “Cheat on Me”. Ao seu lado, uma backing band numerosa e ágil, capaz de acompanhar Burna Boy.

O ponto alto da noite arrancou aos primeiros acordes de “Jerusalema”, mais um cover, neste caso do grande êxito de 202 de Master KG e Nomcebo Zikode.

Houve ainda tempo para pirotecnia e um jogo de luzes versátil, mas que se revelou pouco entusiasmante. A meio do espetáculo, o cenário era desolador: havia quem dormisse; outros passeavam um semblante carregado, pouco condizente com a energia que se esperaria no último grito de um festival. 

Onde não faltou empenho, terá faltado genica e arte. A arte de fazer pequeno o enorme palco, salpicado pelas quatro dançarinas de repertório básico. 

Não se pode dizer que Burna Boy tenha sido protagonista de um concerto desastrado e desinspirado, mas esperava-se que fosse pelo menos capaz de igualar o brilhantismo dos seus antecessores, de LCD Soundsystem ou Sam Smith (ou até mesmo Raye, que antes de si domou a multidão do Kalorama). Não foi.

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