Música

Cartéis mexicanos ameaçam de morte um dos maiores artistas do país

Peso Pluma é uma das estrelas em ascensão no México. Os seus temas sobre os barões da droga não soam bem aos narcotraficantes.

“Vai ser o teu último concerto, e a culpa é da tua língua desrespeitosa.” A frase apareceu escrita nas ruas de Tijuana nos últimos dias. A mensagem ameaçadora vinha assinada pelo CJNG, o Cartel da Nova Geração de Jalisco. Tudo começou no espetáculo que Peso Pluma deu no domingo, 10 de setembro, na Cidade do México.

O músico é uma das estrelas em ascensão no país e reuniu perto de cem mil pessoas para o ouvir. Em destaque estava o tema “Siempre Pendientes” que conta já com mais de 300 milhões de audições no Spotify. Pluma, de 24 anos, é também um artista conhecido além-fronteiras. Já passou pelo programa de Jimmy Fallon e fez parte do cartaz do prestigiado festival californiano Coachella.

Talvez por isso o seu comportamento esteja a espicaçar os narcotraficantes. No tema, que adota o estilo típico dos corridos mexicanos — muito em voga na década de 70 e 80, onde o estilo popular narrava as desventuras dos perigosos traficantes, eternizados nas letras —, Peso Pluma exalta o mais conhecido traficante do mundo, El Chapo, cujas iniciais JGL (Joaquin Guzmán Loera) foram entoadas pela plateia, impulsionada pelo músico.

“Eu tomo conta da praça [local de venda de droga] do senhor Guzmán”, ouve-se na letra do tema que fala sobre a vida de um membro do cartel de Sinaloa. Acontece que a região é agora palco de uma sangrenta guerra entre fações. De um lado estão os Guzmán — El Chapo e o seu filho Iván — e do outro está o Cartel da Nova Geração de Jalisco.

Perante os elogios e admiração de Peso Pluma ao rival, os narcotraficantes do CJNG decidiram atuar e avisar o músico que não deveria pisar o palco do seu próximo concerto, agendado para 14 de outubro em Tijuana, cidade fronteiriça que é um dos territórios disputados pelos narcotraficantes.

Tijuana é, hoje, a cidade mais perigosa do mundo, com uma taxa de 138 homicídios anuais por cada 100 mil habitantes. Ciudad Juárez, também no México, é outra das que fazem parte do ranking.

A ameaça foi levada a cabo pelos membros do cartel, que usaram o habitual método das narcomantas, os lençóis que habitualmente são expostos em locais públicos. Um dos homens que colocou os cartazes terá mesmo sido apanhado pelas autoridades.

A polémica ensombra agora a carreira de Hassan Laija, nome verdadeiro de Peso Pluma que terá nascido na pequena localidade de Badiraguato, onde também nasceu El Chapo. Isto apesar de o músico se ter, por enquanto, recusado a fazer qualquer comentário.

A ameaça é séria. Há registo de mortes de vários músicos, intérpretes destes corridos sobre narcotraficantes, quase sempre em circunstâncias suspeitas. Um deles é Chalino Sanchez, que foi baleado em Sinaloa em 1992. Também Valentín Elizalde foi baleado depois de um concerto em 2016, revela a revista “Vice”, alegadamente por cantar sobre o cartel de Sinaloa.

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